“Respeitem os peões. Quando saímos de casa, não sabemos se iremos voltar. Quando acenamos a cabeça nos bretes não sabemos se iremos fazer isso outra vez.” Foi assim que João Ricardo Vieira, atualmente o número 5 do ranking mundial, homenageou, no o amigo Amadeu Campos Silva, que morreu pisoteado por um touro neste domingo (29/8) na arena de Fresno, nos Estados Unidos, na disputa da categoria Velocity Tour, segunda divisão da PBR mundial. Amadeu foi o primeiro brasileiro a morrer nas disputas da PBR americana, que é dominada pelos brasileiros há muitos anos.

Vieira disse, nesta segunda (30/8), à Globo Rural, que esteve na noite de domingo com os pais de Amadeu, que também estão nos Estados Unidos, prestando sua solidariedade. “Eles estão desesperados. Amadeu era o caçula e sempre ajudou a família. Os pais vieram para cá para viver com ele esse sonho de buscar uma vida melhor. O menino tinha o sonho de ajudar a família e comprar um sítio no Brasil.”

Segundo Vieira, Amadeu tinha seguro de vida, como todos os peões da competição. A Professional Bull Riders está dando todo o suporte aos pais e vai pagar as despesas se eles quiserem enterrar o corpo do peão nos EUA ou no Brasil. “Estamos todos muito abalados. A gente sabe dos riscos, mas nunca estamos preparados para uma tragédia como essa.”

Lucas Belli Teodoro, 33 anos, mais conhecido como Gauchinho, primeiro e único salva-vidas de rodeio brasileiro a atuar na PBR nos EUA, disse que a morte de Amadeu foi uma tragédia. “Todos estão muito sentidos porque ele era um menino querido por todos.” Gauchinho não estava na arena, mas conta que Amadeu, assim como a maioria dos peões brasileiros que disputam rodeios nos EUA, morava em Decatur, cidade do Texas.

O caubói sul-mato-grossense José Vitor Leme também prestou uma discreta homenagem ao peão. Nos stories do Intagram, Vitinho publicou uma imagem de luto.

Já o pai de Amadeu, Flavio Campos Silva, o Jaru, pediu respeito e não deu declarações. O peão nascido na cidade paulista de Altair, de apenas 22 anos, estava nos EUA desde o ano passado e havia voltado às competições na etapa anterior, em Springfield, no dia 14 de agosto, após uma operação nos dois ombros que o tirou dos rodeios por oito meses. Terminou a etapa em terceiro lugar. Ele somava 104 pontos na classificação e havia ganho US$ 42 mil em premiações.

Amadeu montava desde os 15 anos, com o apoio do pai, que chegou a montar uma arena para ele treinar em Altair. Credenciou-se para disputar provas nos EUA após ser vice-campeão da Liga Nacional de Rodeio, no Brasil, em 2019. No ano passado, realizou um dos seus sonhos ao montar na final mundial da PBR, em Las Vegas, mas lesionou-se e terminou em 42º lugar no campeonato. Neste ano, antes de montar em Springfield, treinou na arena do tricampeão mundial Silvano Alves, em Decatur.

 Em nota de pesar de Sean Gleason, CEO da PBR, publicada nas redes sociais, Amadeu é descrito como uma estrela em ascensão no esporte, “um caubói com muito potencial dentro e fora da arena.”

A PBR não divulgou mais informações sobre as razões da morte do peão, que foi atirado ao chão pelo touro, sendo pisoteado na sequência. Ele foi socorrido e levado para o Community Regional Medical Center, em Fresno, mas não resistiu.

Como todos os competidores desde 1989, Amadeu montava usando um colete kevlar de proteção, que dispersa o impacto do peso do animal em caso de pisoteio e também usava capacete, obrigatório para peões nascidos após 15 de outubro de 1994.

A última morte de um peão da PBR nos EUA ocorreu em 15 de janeiro de 2019, no rodeio de Denver. O americano Mason Lowe foi a terceira vítima fatal de um evento oficial da PBR desde a fundação da organização em 1992.

No Brasil, a última morte de um competidor da PBR foi a de Giliard Antonio, em 13 de maio de 2018, durante rodeio disputado em Maringá (PR). Ele caiu e foi pisoteado pelo touro de quase 1 tonelada. O trauma provocou o rompimento de um músculo do coração.