O ex-BBB , eliminado da 20ª edição do reality show na última terça-feira (31) em um paredão que quebrou recorde mundial com mais de 1,5 bilhão de votos, é acusado por 3 mulheres por estupro e durante eventos universitários. As informações dos processos foram apuradas e divulgadas nesta sexta-feira (3) pela revista Marie Clare Brasil, que conversou com as acusadoras em sigilo.

As acusações surgiram nas a partir de janeiro de 2020, depois de episódios agressivos de Prior com outras mulheres do BBB20 durante discussões assíduas. As vítimas, que não se conheciam, entraram em contato umas com as outras e reuniram provas para abrir a denúncia após perceberem outras histórias parecidas envolvendo o comportamento de Felipe Prior.

Segundo consta na reportagem, a vítima mais lesada, identificada com o nome fictício “Themis”, foi a uma festa que comemorava os jogos universitários das faculdades de e urbanismo de , chamados de InterFAU. Ao final do evento, ela e uma amiga, aceitaram a carona oferecida por Felipe Prior, à época aluno do curso de arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Themis disse que se encontrava “bastante alterada” na ocasião, pois havia consumido bebida alcoólica. Segundo ela, Felipe teria deixado Atena em casa e minutos depois parado o carro na rua e desligado o motor. Neste momento, teria se lançado sobre Themis e começado a beijá-la, passando a mão pelo seu corpo. Em seguida, a arrastou para o banco de trás do veículo, onde foi violentada.

Conforme depoimento que Themis protocolado no Departamento de Inquéritos do Fórum Central Criminal em 17 de março de 2020 pelas advogadas Maira Pinheiro e Juliana de Almeida Valente a fim de dar início a uma investigação criminal, ao qual a Marie Claire teve acesso exclusivo, Felipe tirou a roupa dela e abriu a própria calça, deixando seu genital para fora.

A jovem relata ao tempo que tentava resistir física e verbalmente, apesar do avançado estado de embriaguez, a força física empregada por Felipe aumentava. Themis falou não a ele muitas vezes, deixando claro que não queria ter relações sexuais. Felipe teria se dirigido a ela aos gritos, dizendo “para de ser fresca, no fundo você quer, não é hora de se fazer de difícil” e, diante das seguidas negativas de Themis, continuava insistindo: “quer sim”.

“Simplesmente coloquei a violência que sofri debaixo do tapete por seis anos. Achei que não lidando com ela, sumiria em mim. Atrasei dois anos da minha faculdade por causa do estupro. Tranquei todas as matérias do curso porque vê-lo todos dias era torturante. Ele é um cara impulsivo, agressivo. O que mostrou no BBB não chega perto do que é na vida real. Tenho medo do que pode fazer, mesmo diante de uma acusação formal, com advogada e tudo. Mas não posso mais guardar esse mal para mim”

Segundo a vítima, Felipe teria estuprado Themis, o que causou uma laceração em seu lábio vaginal esquerdo, o que fez com que rapidamente sua roupa, o banco do carro e a roupa de Felipe ficassem ensanguentados. O sangue assustou o arquiteto que parou o ato e perguntou se a garota queria ser levado ao hospital, que assusta preferiu ser levada pra casa.

Naquela mesma madrugada, Themis foi ao hospital acompanhada da mãe que pediu para ver o ferimento e notou “um corte de cerca de três dedos de comprimento na região genital, profundo o suficiente para chegar até o músculo”, como consta no documento apurado pela Marie Claire. A jovem precisou usar uma fralda geriátrica para conter o sangramento e, quando perguntada sobre o autor da violência, disse às médicas que havia sido “um namorado”.

A jovem conta que um ano após o estupro, passou a vivenciar crises de pânico, e precisava de apoio para ir e voltar do trabalho, tinha crises de choro no meio da rua e não conseguia sair do lugar. Em vários desses momentos, tinha flashes do estupro. “Tudo para mim se resume a uma grande agonia no peito”, disse Themis a Marie Claire em uma conversa por telefone.

Outros Casos

Ainda segundo o documento, não teria sido a primeira vez que o ex-BBB estaria envolvido em um caso relacionado ao estupro de jovens. Durante os jogos InterFAU de 2016, no município de Biritiba Mirim, Felipe teria praticado o crime de tentativa de estupro contra a estudante Freya (também aqui protegida sob pseudônimo peal publicação), hoje com 24 anos.

Segundo depoimento dela, ele se aproveitou de seu estado de embriaguez e a persuadiu a ingressar em sua barraca no camping dos jogos universitários após abordá-la em uma festa. Na barraca, aconteceram as tentativas de estupro: ela relata que Felipe tentou penetrá-la e diante da negativa a conteve fisicamente usando de sua força.

Diz ainda que o estupro não foi consumado porque o empurrou usando os braços e pernas e conseguiu fugir. Apesar de ter entrado na barraca do acusado, Freya diz que quando percebeu que não havia camisinha para o sexo, se recusou veementemente a continuar a relação. Mas ele insistiu usando força física.

Nos jogos InterFAU de 2018, realizados no município de Itapetininga, Prior teria cometido outro estupro. Dessa vez contra Ísis (também sob pseudônimo), 23 anos atualmente, de novo prevalecendo-se do estado de embriaguez dela. De acordo com Ísis, Felipe a convidou para entrar na sua barraca, onde iniciou relações sexuais com ela de maneira consentida.

No entanto, após ele passar a agir de maneira agressiva, Ísis verbalizou que queria que parar, o que não surtiu efeito. Segundo o documento obtido por Marie Claire, o acusado desferiu tapas no rosto e por todo o corpo de Ísis, mesmo depois que dela dizer que estava sentindo dor e por diversas vezes que queria interromper a dinâmica. Chegou a chorar, conta, mas ele disse diversa vezes que não a deixaria sair dali.

Ela apenas conseguiu sair de dentro da barraca depois que ele caiu no sono, ao amanhecer. Naquele noite, na barraca ao lado, duas testemunhas escutaram Ísis chorar e pedir que o acusado parasse. “Uma voz feminina chorando. A voz dizia “Para, tá me machucando” e continuava chorando.” Essas testemunhas sustentam a versão de Isis no documento da acusação.

Punição

A maneira reiterada e habitual com que Felipe Prior incorria nesse tipo de conduta levou à deliberação, por parte da comissão organizadora da InterFAU, do impedimento de seu acesso ao ambiente dos jogos universitários. O relato da violência sofrida por Ísis foi determinante para essa decisão.

A criminalista Maira Pinheiro, advogada das três mulheres, explica como chegou às histórias de estupro e por que foi importante reunir testemunhas para formar a denúncia. “Esse trabalho começou no final de janeiro, a partir da conversa com a primeira vítima. Conforme tivemos informações sobre a existência de outras, percebemos que, para que os fatos fossem relatados com a devida profundidade e complexidade, teríamos que fazer uma investigação defensiva abrangente. E assim chegamos à segunda e à terceira vítimas e às demais testemunhas. Tivemos inclusive notícia de pelo menos uma outra, que acabou preferindo não depor”. Além de Maira, advogada Juliana de Almeida Valente também representa Themis, Freya e Ísis.

Sobre as acusações contra o participante, a Comunicação da informou que: “A Globo é veementemente contra qualquer tipo de violência, como se percebe diariamente em seus programas jornalísticos e mesmo nas obras do entretenimento, e entende que cabe às autoridades a apuração rigorosa de denúncias como estas”. Assessoria de Felipe Prior não respondeu à publicação antes da veiculação da matéria.

Estupro é crime

No Brasil, o crime de estupro consta no artigo 213 do Código Penal e consiste em: constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. O estupro é tipificado como crime hediondo e é válido mediante violência real (agressão) ou presumida (praticado contra menores de 14 anos, alienados mentais ou pessoas que não possam oferecer resistência). Atualmente a pena é de seis a 10 anos de reclusão, aumentando para oito a 12 anos quando há lesão corporal da vítima.

Qualquer assédio contra a mulher pode ser denunciada pelo número 180 de forma gratuita. A denúncia pode ser feita de forma anonimamente e é importante fornecer a maior quantidade de informações possíveis para que haja material suficiente para uma investigação e possível responsabilização do agressor.

O fato da denúncia ter sido feita pelo 180 não impede que a vítima vá até uma delegacia fazer um boletim de ocorrência também. Qualquer delegacia está apta a receber denúncias de importunação sexual e em , a DEAM na Casa da Mulher Brasileira funciona 24h, todos os dias. Denuncie.