Marieta Severo está de volta à -mas não do jeito que esperava. A passagem da atriz pela Globo neste ano estava marcada para acontecer na faixa das nove, na nova novela “Um Lugar ao Sol”. Com a pandemia de coronavírus e os atrasos que ela gerou, no entanto, a trama ficou para o ano que vem.

Sem novas produções para lançar, a atriz ocupará uma outra faixa do canal, o “Vale a Pena Ver de Novo”, com “Laços de Família”, folhetim escrito por Manoel Carlos há 20 anos que não só retorna à TV aberta agora, como também faz sua na plataforma de streaming Globoplay, no dia 14.

Em “Laços de Família”, a trama trazia Severo no papel de uma tia obcecada pelo sobrinho. Alma Flora não perdia a oportunidade de dar palpite na vida do personagem vivido por Reynaldo Gianecchini, e a situação piora quando o jovem se apaixona por uma mulher duas décadas mais velha.

A caretice e a constante às escolhas do parente, no entanto, não eram suficientes para fazer dela uma vilã. Era uma antagonista, claro, mas com limites às suas ruindades. “A característica maior da Alma era a obsessão por aquele sobrinho. Ela tinha um amor absolutamente tóxico por ele”, diz a atriz.

Essa toxicidade do relacionamento entre tia e sobrinho, inclusive, chama a atenção de Severo para uma nova leitura que a novela pode ter agora, duas décadas depois de sua concepção. “É uma palavra que na época a gente nem usava. É muito bom ver essas coisas que entram no nosso vocabulário, porque são novas consciências que criamos.”

Política

E de política Severo não se esquiva. Ela define a situação atual do país como catastrófica, enfatizando que os ataques sofridos pela cultura por parte do governo federal têm motivação puramente ideológica, não são resultado de falta de verba ou de qualquer outra questão mais direta e impessoal.

“A nossa profissão [de artista] é crítica, é contestação. E eles [o governo] não aguentam contestação. Tudo isso que está acontecendo é orquestrado, não é por acaso. Estão acabando com o cinema, o teatro não tem apoio nenhum. É absolutamente catastrófico você pensar num governo que tem a sua cultura como inimiga -é ter o país como inimigo”, diz.

“Eu respeito profundamente quem não quer se posicionar, mas eu preciso dizer, falar. A gente tem que se colocar politicamente, cada vez mais. Estamos indo para um terreno de um conservadorismo absurdo, louco, medieval.”

Mas a cultura resiste, ela afirma, com bala na agulha para falar não só de televisão, mas também de cinema e teatro. Ela tem guardados trabalhos nos filmes “Duetto” e “Noites de Alface”, ainda sem data de lançamento, e espera pela reabertura do Teatro Poeira, no Rio, que administra ao lado de Andrea Beltrão.