Fernanda Montenegro, diante da lotação máxima do Municipal de São Paulo, defendeu o fim das reeleições com aplausos do público no último domingo (6). Foi sua primeira aparição pública desde que sofreu ofensas de Roberto Alvim, diretor da Funarte, no fim de setembro.

Alvim disse, nas redes sociais, que Fernanda Montenegro era “sórdida” e que tinha “desprezo” por ela. O diretor da Funarte fez isso depois de a atriz posar para uma foto de capa da revista Quatro Cinco Um vestida como uma bruxa presa a uma fogueira onde seriam queimados livros.

O assunto era aguardado pelas cerca de 800 pessoas que estavam na plateia do local, mas não foi comentado pela atriz. O nome de Alvim sequer foi mencionado por Montenegro, que narrou histórias de sua vida e leu trechos da nova autobiografia, “Prólogo, Ato, Epílogo” (Companhia das Letras), durante o evento.

Em acenos a assuntos políticos, disse que o teatro é uma forma de resistência, mas não citou a política atual diretamente. “Um livro virou um ato de resistência”, começou dizendo. Ela apresentou um panorama histórico dos governos brasileiros desde a época de Getúlio Vargas e defendeu o fim das reeleições. A ideia recebeu aplausos e gritos do público.

Público este que reagia com gritos e aplausos em aprovação às falas da atriz. Previsto para começar às 16h, o bate-papo começou às 16h20 com uma apresentação de Hugo Possolo, diretor artístico do Theatro Municipal de São Paulo. Ele explicou que o convite para a palestra já havia sido feito antes “do anúncio de uma pessoa escrupulosa falar coisas sobre Fernanda”.

Após o ocorrido, uma série de personalidades da classe artística e política saiu em defesa da atriz. A resultou no encaminhamento de uma moção de repúdio às declarações de Alvim feita pela Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados.

Ao primeiro anúncio do nome da atriz, o público já começou a bater palmas e a gritar. A receberam de pé, após as cortinas vermelhas do teatro se abrirem. A ovação continuou pelos dez minutos seguintes. “Deusa”, “maravilhosa”, “linda”, gritavam mulheres e homens na plateia entre frases. O público só aquietou quando Montenegro se sentou para iniciar a leitura dramática de sua obra.

Antes de chegar a se apresentar à plateia, Montenegro chamou para subir ao palco o dramaturgo Zé Celso, que foi até as primeiras fileiras do teatro assim que a atriz entrou. “Eu não tenho o que falar. Essa mulher é um fenômeno do teatro”, disse ele ao microfone, ainda sob aplausos e gritos do público de pé. Continuou: “Talvez o melhor fenômeno do teatro. Ela é divina, diabólica e bruxa”.

“Somos sobreviventes maravilhosos. Uma geração que trouxe vida na hora perigosa durante anos”, aproveitou para dizer Montenegro sobre o colega de teatro. “Sistema nenhum vai nos calar”, disse ela de mãos dadas a Zé Celso. “Estamos reunidos aqui em torno da liberdade de expressão. Trabalhei aos prantos e soando por 22 meses para contar a minha história.”