Andar por Campo Grande e achar uma lan house é algo raro. É justamente lá que a gurizada amanhecia jogando enquanto outras pessoas passavam horas vasculhando o Orkut, rede social que surgiu em 2004 e despontou mundialmente. Durou dez anos. Deixou saudade, principalmente por quem usava as “comunidades”, em que era possível interagir, receber comentários e postar inúmeras fotos. A boa notícia é que a plataforma vai voltar, com nova roupagem, segundo anunciou recentemente o seu criador, Orkut Büyükkökten.
Reativado recentemente e com uma promessa: “Até breve!” Enquanto isso, vamos relembrar um pouco da trajetória da rede social, a qual rapidamente se transformou em uma comunidade global com mais de 300 milhões de usuários.
Em entrevistas, Orkut ressalta que o sucesso da plataforma ocorreu por conta da “diversidade de vozes” em um ambiente que, segundo ele, sempre buscou ser livre de ódio e desinformação. Atualmente, temos o Facebook como sendo o mais parecido. Quando surgiu, fez o Orkut perder popularidade e foi desativado em 30 de setembro de 2014.
‘Rainha do Orkut’ tinha milhares de amigos e cerca de 10 mil fotos

Conhecida como a “Rainha do Orkut” na capital sul-mato-grossense, a contadora Rosilene Cristovão, de 43 anos, acumulava milhares de amigos, bem como cerca de 10 mil fotos em álbuns. “Na época, me lembro que tinha recém separado, então, comecei a sair nas violadas junto com a minha prima, então, comecei a ter um ciclo maior de amizades. Nós participávamos de divulgações das festas, era em torno de umas 10 meninas e sempre tirávamos muitas fotos. Na época, celular era só para ligação, a câmera era horrível”, relembrou.
No auge dos anos 2000, Rosilene também comprou uma máquina digital e tirava inúmeras fotos. “Eu fotografava e postava no orkut, marcava as amigas, divulgava as festas e também existiam os sites de fotos, tipo “siteblitz”, “tanaweb”, “aconteceCG” e “toemtodasMS”.
“Assim eu fui acumulando muitas fotos, nestas comunidades do Orkut, até o dia em que não cabia mais nada. Tive que criar outro Orkut, postei mais cinco mil fotos, sem contar que esta era maneira que tínhamos de procurar por pessoas, assim como é hoje no Facebook, as comunidades eram muito legais. Eu mesma tinha uma, que se chamava: “Amigas (os) da Rosilene Cristovão”.
‘Fiquei muito triste quando encerrou, tentei salvar fotos e não consegui’, disse “orkuteira”

“Era uma maneira de juntar os amigos em um lugar só, então, eu criava vídeos de divulgação para alguns cantores da época e postava lá, como Munhoz e Mariano, Talysson e Tarsila, Alex e Yvan e outros. Eles até pediam para fazermos as gravações. Teve a época da ACQM então, nem se fala, tenho alguns vídeos no YouTube, com depoimentos, era top demais. A pessoa mandava e ficava ali na página inicial. Todos viam o que a pessoa falava de você. Fiquei muito triste quando encerrou, tentei salvar as fotos uma a uma e não consegui, perdi muitas com a família e amigos. Se retornar e a gente puder recuperar o perfil, seria muito legal”, encerrou.
O empresário e músico, Leandro Benedito Soares, de 39 anos, é outro que coleciona lembranças do Orkut. “Lembro quando começou, bem no início mesmo, que era necessário receber um convite por e-mail, de algum amigo, para participar do Orkut. Depois, com o tempo é que popularizou e você conseguia entrar normalmente e criar o próprio perfil. Foi uma febre, todo mundo tinha Orkut. Eu mesmo não tinha computador e viva nas lan houses da vida. Era só ter uns trocados que eu ia para lá, ver o que os outros postavam e postar fotos”, comentou.
Na memória também estão as fotos com álbuns de baladas. “No começo era só 10 fotos, depois é que ampliou e também tinham os joguinhos, alguns bem complexos, as comunidades, que você entrava e podia participar, vários temas, fóruns e eu achava legal demais aquela interação, porque era tudo novidade e ninguém sabia o que era direito e nem o que viria a ser. A gente também pesquisava sobre pessoas que não tinha mais contato, como amigos da escola, de infância, enfim, era só lembrar o nome e pesquisar, retomar o contato, então, gosta demais desta troca de informações”, opinou.

Empresário curtia as ‘comunidades específicas’ do Orkut
Com o tempo, Leandro fala de comunidade específicas sobre filmes e músicas, por exemplo. “Eu lembro bem e até esses dias estava comentando com um amigo, falando de coisas antigas. Tinha uma música muito que minha mãe gostava e ela não encaixou em disco, em CD, então, eu entrei na comunidade do cantor, Antônio Marcos na época, perguntei se alguém tinha música ou sabia onde eu poderia encontrar e um senhor me respondeu que tinha. Na época, ele nem sabia como enviar”, contou.
Leandro também acrescenta que o Orkut era uma verdadeira rede social. “Hoje em dia as redes sociais estão com bastante propagandas e notícias. Na época, não tinha isso, era um assunto mais pessoal mesmo. E eu fiquei sabendo que vai voltar, então, acho que vai ser muito legal. O meu receio é o seguinte: quem conheceu vai esperar que seja igual, porém, as pessoas, os costumes não são mais iguais. Vamos ver como vai ser, se de repente voltar essa interação mais pura, da época do Orkut, vai ser uma proposta muito boa, estou bastante otimista”, avaliou.
Por fim, o empresário fala que a rede foi extinta e muita gente não conseguiu fazer o backup dos arquivos, então, uma das dúvidas é saber se será possível recuperar os arquivos. “Acredito que vai começar do zero, talvez o layout, a forma de interação vai manter a essência do antigo Orkut, mas, eu acredito que a pessoa poder ter acesso aos arquivos antigos ou continuar um perfil de onde parou, eu não sei se vai ser assim. Muita gente pode ser que está achando que vai ser assim, e se não for, é algo indefinido. Se não tiver os arquivos de antes, pode ser que percam o interesse”, finalizou.
Agora, após um momento de nostalgia, resta aguardar: o Orkut vai voltar? Em 2022 e mais recentemente, durante o Rio Innovation Week 2024, o criador confirmou que pretende relançar a rede, mas, não definiu data alguma, apenas reforçou que a nova plataforma será diferente da versão original, com foco em “comunidades reais” e menos algoritmos. Aguardemos os próximos capítulos…

***