Produtora, DJ e personalidade com forte presença no cenário cultural LGBTQIAPN+ de Mato Grosso do Sul, Nala Delgado, de 25 anos, foi coroada Miss Trans Plus Size em concurso de beleza, que aconteceu em Campo Grande, na última sexta-feira (25).
O evento foi celebrado no Centro Cultural José Octávio Guizzo, e reuniu dezenas de candidatas em diversas categorias. Neste ano, pela primeira vez, uma mulher trans negra venceu a categoria Miss Trans Plus Size, no concurso de beleza que ocorre anualmente no Estado.
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A candidata representou a cidade de Aquidauana, que este ano se destacou ao conquistar as duas principais categorias do concurso, Miss Trans Plus e Miss Trans Slim, ambas vencidas por mulheres negras. “Eu sinto que eu estou abrindo portas para que outras meninas trans pretas consigam ocupar esse mesmo ambiente que eu estou ocupando. E eu estarei ocupando com muito brilho, muita responsabilidade”.
A competição seguiu todos os protocolos tradicionais, com desfiles em diferentes trajes, banca avaliadora composta por profissionais e a atual Miss Plus Size, que também participou como jurada. A coroação foi feita pela Miss Trans vencedora do ano anterior, também de Aquidauana.
Candidata teve apenas um mês para se preparar
Essa foi a primeira participação de Nala em um concurso de beleza, e sua presença nos palcos foi marcada por desafios e um significado imenso por trás da decisão. A produtora cultural explica que, até então, não se sentia representada ou acolhida pelo universo dos concursos, por não possuir um corpo e aparência padrão dos vistos nas passarelas.
No entanto, sua participação no Miss Trans 2025 foi marcada por obstáculos. Casada com um homem, também transgênero, Nala conta que surgiu a oportunidade de seu esposo realizar a cirurgia de mastectomia, então havia desistido do concurso para apoiá-lo, emocional e financeiramente.
A produtora cultural só garantiu um lugar entre as candidatas no final das inscrições, quando a coordenação decidiu flexibilizar a participação. “Era meu sonho, mas preferi dar prioridade ao meu esposo [para fazer a cirurgia]. Mas como o concurso deu algumas oportunidades para as candidatas, como não pagar a inscrição, bem no finalzinho eu conversei com a coordenação e decidi que ia participar”.
A partir dali, Nala correu contra o tempo para se preparar para a disputa pela coroa. Ela teve apenas um mês para fazer aulas de passarela, oratória e investir nos trajes exigidos (casual, maiô e gala, o traje mais importante). Mesmo com menos tempo de preparação em relação às demais candidatas, Nala expressa que sua participação foi marcada por esforço, superação e representatividade.
“Foi extremamente importante, porque eu estava ali com as minhas, todas mulheres trans. Nós passamos pelos mesmos problemas do dia a dia, então me senti muito acolhida, porque elas são iguais a mim, elas passam pelos mesmos problemas do dia a dia que eu passo. A falta de espaço, a falta de emprego, a falta de inclusão social”, expressa.



Concurso traz visibilidade
A produtora cultural também aproveitou para ressaltar a importância de concursos que exaltam a beleza, vivência e luta das mulheres e homens trans, proporcionando um espaço onde este público possa se sentir acolhido.
“Estar ali foi realmente importante, porque esse concurso traz algo que a sociedade sempre nos prega, que a gente é minoria, que a gente tem que ficar de lado, que a gente não é bonita. Então, este concurso, além de beleza, traz que nós somos resistências, o nosso corpo é resistência. Nós aqui estamos lutando contra todo um sistema que tenta nos criminalizar ou colocar como as piores pessoas”.
Além disso, Nala declara que no tempo que passou se dedicando ao concurso também fez muitas amizades que levará para além da passarela. “Esse concurso é extremamente importante para a nossa sobrevivência, para mostrar que a gente resiste todos os dias. Foi pouco tempo a minha convivência com elas, mas sinto que tirei grandes amizades dali, eu quero levar para o dia a dia”.
Nala recebeu a coroa em dia simbólico
Ao mesmo tempo que celebrou ganhar o concurso, Nala também reforçou a importância de uma mulher negra e trans ser coroada justo no dia 25 de julho, data em que também é celebrado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
Ao Jornal Midiamax, a produtora cultural ressaltou que ocupar estes lugares manda um recado às novas gerações, de que mesmo frente à violência e preconceito enfrentado por mulheres trans e negras, a luta deve ser feita “de cabeça erguida”.
“Acho que não é sobre ganhar ou perder, também não é sobre beleza, mas sim sobre representatividade, é sobre eu poder representar outras meninas que são minhas semelhantes, em um concurso tão grande. E principalmente no dia 25 de julho, que é uma data tão importante para as mulheres pretas, latinas, caribenhas. Então, estar ali nesse dia, é extremamente importante por uma questão de representatividade, para mostrar para geração atual e para próximas gerações que elas também podem ocupar esse espaço”, finaliza.
Além de agora ostentar o título de Miss, Nala também foi vencedora do ‘Campão Drag Star’ em 2022. No meio Artístico, Nala é conhecida como a DJ Afropaty, além de ser ativamente atuante na cultura Ballroom e drag queen do Estado. Atualmente, cursa enfermagem na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
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