Era pra ser um dia como qualquer outro, mas logo pela manhã, no trajeto até o trabalho, um rapaz de 20 anos foi coagido e constrangido a receber orações “à força” dentro de um ônibus do Consórcio Guaicurus, em Campo Grande (MS). A situação exposta a seguir ocorreu nesta sexta-feira (24) e traz à tona um debate sobre assédio religioso e homofobia.
O jovem, que trabalha como social media, relata ter embarcado no Terminal General Osório, na linha 081, com destino à Praça Ary Coelho, mas precisou descer antes devido ao incidente.
Conforme o rapaz, desde que o ônibus saiu da estação, um passageiro começou a fazer pregações dentro do coletivo. “Ele gritava muito alto, mas não falava sobre Deus, só as opiniões dele como se fossem verdade, sendo super homofóbico e racista”, afirma.
Segundo o comunicador, os demais passageiros também se mostravam incomodados com a pregação, mas tudo passou dos limites e saiu do controle quando o cristão decidiu orar por ele sem seu consentimento.
“Como se não bastasse, ele veio querer orar por mim à força, eu falei que não queria e mesmo assim ele insistiu, ficou colocando a mão na minha cabeça, isso na frente do ônibus todo”, detalha.
“Dei uma bicuda na barriga dele”, diz vítima de assédio religioso
Indignado com o constrangimento, o garoto então reagiu. O nervosismo foi tanto que o campo-grandense acabou perdendo a linha, partiu para cima do “orador”, e, na euforia, ainda desembarcou próximo à Santa Casa, bem longe de seu destino final, para onde seguiu a pé.
“Eu estava sentado e ele em pé, daí eu peguei e dei uma bicuda na barriga dele. Só que ele veio pra cima de mim de novo, pra orar, e falou que eu estava com o diabo no corpo. Então dei um soco nele e desci do ônibus”, expõe o usuário do transporte coletivo.
Ainda digerindo tudo que aconteceu, o jovem narra parte das atrocidades que ouviu a seu próprio respeito. “Ele mandou eu fechar o olho e eu dei um chute nele, depois ainda ficou falando que Deus vem pra quem quer ser salvo e quem não quer vai pro inferno“, acrescenta.
Abalado com a situação, o rapaz acredita que o fato de ser homossexual tenha motivado o assédio religioso dentro do ônibus. “Tenho certeza que foi por isso, porque foi só comigo, ele não fez isso com mais ninguém. Acho que ele percebeu que eu sou gay e, como estava falando coisas muito preconceituosas, homofóbicas e racistas, me escolheu para ‘salvar'”, lamenta.
Ouvir pregação em ônibus já faz parte da rotina
O profissional da comunicação diz já ter vivido situações semelhantes no transporte coletivo, mas nunca algo tão desrespeitoso a ponto de reagir de forma agressiva. Ele também pontua que tem sido cada vez mais comum encontrar cristãos pregando dentro dos ônibus.
“O problema não é falar de Deus, é ser completamente preconceituoso e pregar a própria opinião como se aquilo fosse o certo”, desabafa.
Questionado se tomará providências, o rapaz responde: “Eu tô me sentindo muito revoltado e desrespeitado, sabe. Não consegui registrar imagens e nem sei se algum outro passageiro filmou tudo. Acho que não vou fazer queixa, mas se isso acontecer novamente ou se eu ver ele fazendo isso com outra pessoa, vou à delegacia denunciar”, avisa.
Você já sofreu assédio religioso?
Casos de assédio religioso como este costumam ser corriqueiros e acabam passando batido no dia a dia das pessoas que, na correria, nem têm tempo de processar e absorver os excessos alheios às suas intimidades.
Agora, a reportagem quer saber: você já sofreu assédio religioso no transporte ou em qualquer local público ou privado? Envie seu relato no WhatsApp abaixo.
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