Chegando aos 100 anos, morador de MS chama a família para ‘festa no Oceano’

A ideia é comemorar. A vida e os 97 anos de Nercy Soares, produtor rural gaúcho que construiu a vida e a família em Mato Grosso do Sul, “desafiando a lógica de sua época”. Junto de netos, bisnetos, filhos e agregados, o patriarca deixou sua propriedade em Bonito (MS) para passar os próximos dias com cerca de 40 pessoas em um cruzeiro rumo a Buenos Aires, na Argentina.

Descrito como um senhor lúcido e cheio de energia, perto dos 100 anos de idade ele ainda administra seus negócios. Sua vitalidade é sinônimo de alegria para os descendentes, que decidiram homenageá-lo com a viagem de navio para o extremo sul do continente, promovendo uma verdadeira festa no Oceano Atlântico.

O grupo partiu no último domingo (2) e só retorna no próximo dia 9 de fevereiro. “Nossa família está radiante com essa oportunidade de estarmos juntos“, afirma a design de interiores Lusiane Fredrich, neta de Nercy, que conta um pouco da história do avô ao Jornal Midiamax.

Do RS para MS: Nercy desafiou a lógica, diz neta

Para ela, o patriarca sempre foi um pioneiro à frente de seu tempo. Nascido no Rio Grande do Sul, Nercy se mudou para o então Mato Grosso após receber um convite de um oficial do Exército, em 1969. Acompanhado da esposa, hoje já falecida, ele começou firmando morada em Aquidauana. “Partiram rumo ao desconhecido”, diz a neta.

Assim, a família foi se estabelecendo e crescendo nas terras do então Mato Grosso. Com planos de investir na agricultura, o gaúcho teve os projetos frustrados por uma enchente que atingiu a região entre 1973 e 1974, mas, diante das adversidades, decidiu resistir.

“Para ele, foi um sinal de que era hora de recomeçar. E assim, com a coragem que sempre o guiou, partiu em busca de novas terras. Foi em Bonito que encontrou o solo fértil para seus sonhos. Comprou uma fazenda e, desafiando a lógica da época, decidiu plantar milho em uma região onde ninguém ainda fazia agricultura“, explica Lusiane.

“Só vou parar de trabalhar quando eu não estiver mais escrevendo meu livro”, afirma Nercy em metáfora sobre a vida

Em torno de 1982, o esforço do produtor foi reconhecido nacionalmente. “Ele conquistou o título de campeão brasileiro de produção de milho por hectare, provando que o impossível era apenas um desafio a ser superado”, recorda a design de interiores, cheia de orgulho.

Hoje, aos 97 anos, Nercy já é viúvo. Perdeu a esposa, Frida, há 8 anos, após mais de sete décadas de casamento. “Ele continua vivendo na fazenda em Bonito, cercado pela terra que tanto ama e que ajudou a transformar. E, com o mesmo brilho nos olhos de sempre, repete sua frase favorita: ‘Só vou parar de trabalhar quando eu não estiver mais escrevendo meu livro’”, relata a neta.

O livro, no caso, é uma metáfora da vida, esclarece a descendente.

A viagem

Os 97 anos foram completos no mês de outubro e, para todos, a marca da idade não poderia passar em branco. Semanas depois do aniversário, enquanto a família planejava uma comemoração à altura de sua história de vida, o patriarca surpreendeu com a ideia da viagem de cruzeiro.

“Sentados, meu irmão, minha mãe e eu conversávamos com meu avô sobre uma homenagem que ele receberia na feira de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul. Queríamos que ele fosse, afinal, seria um reconhecimento mais do que merecido por sua trajetória. Mas, como sempre, ele tinha seus próprios planos“, recorda a neta, revelando que o avô interrompeu a conversa e disse:

“Eu não vou para Santa Rosa. Mas estive pensando, minha neta… Se você organizar uma viagem de cruzeiro, convido a família e vou junto com vocês“, instigou.

Naquele instante, todos amaram a proposta e fizeram a sugestão acontecer. Ao todo, 40 pessoas da família e agregados embarcaram no último domingo (2) e seguem no navio rumo a Buenos Aires. Radiantes, eles aproveitam cada momento dessa experiência que ficará marcada em seus corações.

“Mais do que uma viagem, essa é uma celebração da vida, da união e da história de um homem que, aos 97 anos, ainda nos ensina que sempre há tempo para novas jornadas“, finaliza Lusiane.

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