O poeirão do qual muita dona de casa ainda se incomoda era real: ruas de terra, homens montados em cavalos passando na porta e fazendas, com direito a tomar leite cru (direto da teta da vaca) na vizinhança. A realidade do Coophasul — antes chamado de Cooperativa Habitacional do Sul — é de uma região que abriga muitos idosos, os quais viram nascer o bairro, na década de 1970.
Assim como Campo Grande, cresceu de forma planejada, e mantém a vida pacata que os moradores tanto gostam.
Esta é a primeira de uma série de reportagens do novo projeto do Jornal Midiamax, o Fala Povo: Midiamax nos Bairros, que contará as histórias dos bairros de Campo Grande. E a nossa estreia é no Coophasul.
Ao longo da programação, no site, impresso e televisivo Midiamax (canal 4 da Net), serão exibidas histórias de moradores, curiosidades, pontos gastronômicos, segurança, o que sonham para o futuro, entre diversos assuntos pitorescos e que envolvem o cotidiano da população local.
Por fim, teremos uma edição do Fala Povo: Midiamax nos Bairros transmitida ao vivo da região, no sábado, dia 2 de agosto.
Coophasul nasceu na época do ‘boom’ das moradias populares

Em busca de moradia popular, nasceu o Coophasul, em três de dezembro de 1976, uma sexta-feira de muito trabalho para a empresa Planoeste, liderada por Sebastião Caneca, o qual atuava na implementação de conjuntos habitacionais na região norte da cidade.
Aliás, o período era de intenso crescimento populacional, impulsionado pela divisão do estado de Mato Grosso e a criação do Mato Grosso do Sul. Com as moradias acessíveis, muita gente migrou para lá. É justamente o caso da aposentada Juraci Fogaça, de 67 anos.

Noiva nos anos 1970, diz que, logo após o casamento, o companheiro adquiriu uma casa e então ela saiu do centro da cidade, onde morava com os pais, para se instalar na Rua Atílio Banducci, Bairro Coophasul. Em seguida, ficou grávida.
“Era tudo terra aqui. Não tinha telefone, asfalto, nada, só uma mercearia e as casas originais das vilas, mesmo, que eram quatro cômodos, sem muros e cerca; então, vi tudo sendo transformando aqui. Vi o início de tudo: asfalto, praça, casas sendo modificadas e até as reformas. Eu cheguei no final de 1978. Como disse antes, minha primeira casa foi na Atílio Banducci, aqui perto”, ressaltou a aposentada.

Ao todo, Juraci fala que ficou dois anos casada e, em seguida, separou-se e foi morar na mesma rua onde está até os dias de hoje. “Aqui eu criei um casal de filhos e agora estou criando meu neto”, contou.
“O meu filho mora fora, ele é professor e médico-veterinário. Eu tive uma época difícil, trabalhei de tudo nesta vida para sustentá-los, de doméstica a costureira. Por último, estava fazendo trabalhos manuais, artesanato em geral, algo que eu adoro. E aí fui aproveitando para arrumar a minha casa também. Na verdade, foi a minha filha, ela foi modificando, arrumando, e eu ajudava. Hoje tenho uma vida tranquila, sem preocupação nenhuma. Nunca teve nenhum caso de roubo na minha casa. São 46 anos aqui e não troco por lugar nenhum”, opinou.
Entrada ‘da vila’ era rodeada por chácaras

A aposentada finaliza relembrando a entrada do bairro, na Rua Cotegipe, que se tornou a principal. “Não tinha nenhuma fazenda, só umas chácaras pequenas, tudo muito humilde. Via pouco gado, bem na entrada mesmo tinha uma criação. É o início de tudo o que se tornou hoje. Tinha até um cemitério, me lembro bem”, comentou.

A vendedora Valquíria Santos Sodré, de 34 anos, tem uma história muito interessante na região do Bairro Coophasul. Moradora de uma “casa-fazenda”, desde 2018, diz que é neste mesmo endereço que a sua mãe a levava para tomar leite, “direto da teta da vaca”.
“Eu não lembro de muita coisa, mas sempre ouvi que aqui se comprava leite da vaca. Eu tomei leite da vaca daqui, dessa casa. Era uma fazenda, ocupava umas quatro quadras do bairro. Foi vendendo, vendendo, até que derrubaram a sede e depois veio essa casa aqui, que já é bem antiga também. A dona que vendeu aqui era a vizinha da frente. Ela morreu tem uns dois anos, estava beirando os 100 anos, ficaram os filhos. Era uma senhora bem forte, trabalhadora, típica de fazenda mesmo”, comentou Valquíria.
‘Estamos atrás da rua principal, mas parece que vivemos em uma chácara’, diz moradora

Ao amanhecer, a vendedora fala que realmente parece estar no campo. “A gente está atrás da rua principal do bairro, mas, realmente, ainda parece que vivemos em uma chácara. E aparece de tudo: arara e vários pássaros, cantando logo cedo. É uma casa de mais de meio século. E o meu tio morava aqui. Ele faleceu há três anos, mas, se vocês viessem aqui, iam ver plantação de mandioca, milho, ele plantava de tudo. A mandioca derretia, era uma delícia”, relembrou.
O fiscal de caixa Breno Felipe, de 22 anos, disse que se mudou com a família recentemente, para o Bairro Coophasul. “Estou há dois meses aqui. Eu vim de um bairro próximo, ao lado, que é a Vila Nasser, então já conhecia um pouco aqui. É bem tranquilo, sem perigo nenhum. Nós estamos em uma dessas casas antigas, com terreno grande. Aqui tinha uma cerca, nem muro tinha. Nós que fizemos estes dias.”
Bairro planejado, espelho de como Campo Grande é conhecida

A metragem atual do Bairro Coophasul é de 297 mil metros quadrados, conforme a Prefeitura Municipal de Campo Grande. Na Mapoteca, a imagem que consta é de um bairro bem planejado e definido. “É realmente um bairro muito Bonito e bem definido arquitetonicamente, com ruas divididas, arborizado […], mas o que mais me chama atenção, quando vou lá, é a parte cultural do bairro”, afirmou ao Jornal Midiamax o historiador e professor Eronildo Barbosa.
Em suas andanças por Campo Grande, desde 1986, quando aqui pisou e decidiu se instalar em Mato Grosso do Sul, mudando, no mesmo ano, da Paraíba para cá, Eronildo ressalta que sempre visita o Bairro Coophasul.
Bairro Coophasul tem uma dinâmica cultural muito ativa, avalia historiador
“Lá tem uma dinâmica cultural muito ativa, com rodas de samba, quadrilhas, além da vida política do bairro; considero a associação muito bem organizada, instalada na rua principal. É um pouco distante do Centro, só que ali se resolve tudo, então, foi construído com essa concepção, de algo moderno e alegre, já que mantém a parte gastronômica bem organizada”, opinou.
O professor comenta que possui um amigo de longa data, morador da Rua Cotegipe, e o visita constantemente, momento em que também circula pela região. “Vejo que os moradores daqui gostam, se sentem bem e sabem que é uma excelente região, bem arborizada e com a praça, enfim, é um lugar maravilhoso. Eu, como um todo, sou apaixonado por Campo Grande. Acho uma cidade calma, alegre, pulsante, rica e com uma cultura muito bem acentuada”, finalizou.
Confira a reportagem do ‘Fala Povo: Midiamax nos Bairros’:
Fala Povo: Midiamax nos Bairros
A história dos bairros de Campo Grande é tema da série Fala Povo: Midiamax nos Bairros. Ao longo desta semana, reportagens especiais vão apresentar aos leitores aspectos históricos, indicadores socioeconômicos, demandas populares e peculiaridades das diversas regiões de Campo Grande. Quer ver seu bairro na série? Mande uma mensagem para (67) 99207-4330, o Fala Povo, WhatsApp do Jornal Midiamax! Siga nossas redes sociais clicando AQUI.
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