Adaptações, remakes e releituras são a grande aposta do showbizz. Na Broadway, musicais de décadas atrás ganham novas versões e vão parar em Hollywood, onde viram filmes e séries de TV. Aqui no Brasil não é diferente: no plim-plim, sucessos antigos retornam ao horário nobre com ar repaginado. São novelas com a mesma história, mas outros atores, novos recursos.
Na indústria do entretenimento, a fórmula de sucesso tem sido repensar o que já existe para se encaixar nos dias atuais. Não há margem pra erro, é preciso entreter bem.
Tem sido assim também com as artes plásticas: adaptar obras clássicas para experiências imersivas com som e vídeo é a ‘coqueluche do momento’. Quadros famosos de artistas renomados, já em domínio público, são “desmontados” em texturas que criam narrativas embaladas por trilha sonora, num inegável espetáculo visual que enche os olhos de emoção.
E nesse contexto, nada se compara com o que tem sido feito com o acervo de Vincent Willem van Gogh (1853 – 1890), talvez o mais célebre artista dos Países Baixos e um dos baluartes do Impressionismo, o movimento que propõe a representação da realidade por texturas e pigmentos sinestésicos.
Com Van Gogh como principal representante, cujas obras são palatáveis e extremamente conhecidas nas redes sociais, tem-se a condição ideal para adaptar cada pincelada numa história recontada a partir de luz, projeções, som e narrativa. Expos imersivas baseadas na obra do holandês surgem aos montes, em diferentes (às vezes, nem tanto) propostas. Por quê?






Artista bom de Instagram
O entretenimento, hoje, funciona quando é instagramável. Van Gogh é muito bem-sucedido nisso. Ele está em todo lugar, em várias versões: camisetas, ímãs de geladeira, músicas, teatro, e, claro, em diversas exposições imersivas, que somam milhões de ingressos vendidos no mundo inteiro.
Em Campo Grande, não será diferente. “Van Gogh & Impressionistas” é o primeiro videografismo que chega à cidade, já neste fim de semana, no Shopping Campo Grande. A produção, da Lightland, percorreu as 5 regiões do país e vendeu cerca de 600 mil ingressos, 10 mil somente por aqui – a exposição que nem sequer estreou e já começa com os dois primeiros dias com entrada esgotada. Já é sucesso, doa a quem doer.
A expectativa da organização é alta: superar 50 mil visitantes durante a temporada, ainda sem data final (no site de venda de ingressos, a última data disponível é 12 de maio, mas a tendência é prorrogar).
Imprensa viu “palhinha”
Van Gogh surgiu com pompa de arte, muito embora, tecnicamente, não seja. Na última sexta-feira (26), a imprensa campo-grandense foi convidada para conferir uma palhinha da exibição, antes dos VIPs que seriam presenteados com a avant premiére. Três cenas foram exibidas no grande salão de 1.500m², dentre elas, Noite Estrelada, uma das mais célebres telas do holandês, que se desfaz e se remonta ao som de Clair de Lune.
Contudo, são 13 projeções sonorizadas que também reproduzem outros impressionistas, como Monet, Renoir, Gauguin e Cézanne.
Na entrada, cuja cenografia é inspirada na estética da Belle Epoque francesa, o visitante já se depara com alguns pontos interativos. Quem entra na exibição, passa por um “labirinto instagramável”, com reprodução de trechos de obras, e que deságua em informações gerais sobre o artista que também ajudam a entender o contexto do videografismo que está a poucos passos.

O grande salão conta com dezenas de projetores, centenas de milhares de pixels “sonorizados”. Sem dúvidas, uma experiência ímpar. Há, ainda, uma sala com uma estátua do artista, mais um ponto onde o clique fica bom e vai garantir curtidas nas redes sociais.
Inegável que os videografismos de “Van Gogh” impressionam e que são capazes até de emocionar a audiência. Mas, trazem pouco ou quase nada do que Gogh e os demais impressionistas teriam a dizer. Entre um (belíssimo) salão iluminado e um museu pode haver um abismo.
Talvez seja errado, portanto, apontá-la como uma exposição do artista holandês. Mesmo com a experiência imersiva sensacional, a relação com as obras originais é um tanto quanto vaga. Virtual, literalmente.
Os artistas, talvez, sejam aqueles com o nome na ficha técnica, do videomapping à texturização, da trilha sonora à montagem, e que entregam um trabalho Bonito capaz de alegrar e entreter uma cidade que é carente de grandes eventos. Com sorte, vai instigar visitantes a entender o contexto de Céu Estrelado. No mínimo, vai garantir boas fotos no Instagram.
SERVIÇO – “Van Gogh & Impressionistas”
A mostra está em cartaz a partir deste sábado (27) no Shopping Campo Grande (2º Piso, ao lado da Leitura, antiga Marisa). A temporada segue de segunda a sábado: das 10h às 22h (último horário de entrada às 21h). Domingos e feriados: das 12h às 22h (último horário de entrada às 21h).