Nino não teve poder de escolha, pois já nasceu artista. Cantor e compositor sul-mato-grossense vindo de uma família de músicos, desde criança já respirava a arte que mais tarde se tornaria seu maior sonho de vida. Influenciado pelo gênero gospel, até os 23 anos cantava na igreja. Depois disso, percorreu estradas durante seis anos como vocalista da banda de música latina do Pantanal Projeto Kzulo, onde participou do EP “Braslumbia” (2021), com cinco faixas. O artista se apresenta em um novo momento neste sábado (1), na edição de festa junina da Feira Ziriguidum, na Praça do Preto Velho. 

A transição para uma carreira solo, em muitos casos, é inevitável para artistas que fazem parte de bandas independentes. Dificuldades de espaços, oportunidades e boa remuneração pelo trabalho são realidades há anos enfrentadas por grande parte da classe artística do estado. Com o fim do Projeto Kzulo em 2023, Nino quase desistiu do sonho, mas como ser artista não é uma escolha, está se redescobrindo. 

“Quando a banda acabou, fiquei meio perdido, pensando: será que eu continuo? Mas ficar fora dos palcos me dá angústia, mesmo tendo outras profissões, só me sinto completo quando estou fazendo música. Foi ela que me salvou e mudou a minha vida. Quero que o Nino seja uma fonte de inspiração para vários outros artistas LGBTs que muitas vezes reprimem os sonhos por conta da igreja ou porque a família é opressora.” 

Na banda Projeto Kzulo, Nino cantou em diversas cidades de MS e até fora do estado. (Foto: Duka Martins)

Ao contrário do que muitos pensam, artista trabalha e na maioria das vezes o trabalho é de dupla ou tripla jornada. Quando falamos de artistas regionais independentes, manter as contas em dia somente com a renda dos trabalhos artísticos é a realidade de poucos. Enquanto cantava no Projeto Kzulo, Nino trabalhava como cozinheiro. Hoje, constrói sua carreira independente conciliando com o trabalho administrativo em uma oficina mecânica.

Sua nova fase promete trazer a essência do nome artístico “Nino”, que nasceu por se identificar pelo modo como crianças constroem realidades e encaram o mundo de forma leve e sincera. Um dos pesos que carregou durante a maior parte da vida foi esconder a sexualidade, agora conta que suas novas composições falam até sobre relacionamentos. 

“É ter coragem de ser quem eu sou de verdade, de escrever e cantar sobre relacionamentos entre dois homens sem pensar que isso é algo chocante, mas sim natural. De saber que tenho várias nuances e posso transitar por vários gêneros que gosto e são alto astral, trazendo minhas influências do Kzulo com diversos ritmos latinos, com o forró, o soul e o pop”.

Ao lado da banda Projeto Kzulo, Nino cantou em um show emblemático no encerramento do carnaval de 2023 em Campo Grande para 50 mil pessoas na Esplanada Ferroviária, fazendo o público cantar e dançar com músicas autorais elétricas como “Canal de Luz” e “Segura Esse Bloco”, bem como com interpretações de tirar o fôlego e fazer a esplanada tremer a exemplo do que foi “Lucro” do grupo Baiana System na ocasião.  

No carnaval de 2024 participou do show de Kalélo, também ex cantor do Projeto Kzulo que está em carreira solo. (Foto: Miravê Arte)

Assista duas performances de Nino que se destacaram durante a carreira como vocalista no Projeto Kzulo: Vestido – Ao vivo no Estúdio Showlivre (2022)Canal de Luz – Ao vivo no Estúdio Showlivre (2022).

Como próximo passo, o artista está se organizando para lançar músicas autorais inéditas em plataformas como Spotify e YouTube. O primeiro show da carreira solo de Nino acontece na edição de festa junina da Feira Ziriguidum neste sábado (1), às 19h, na Praça do Preto Velho.