PM de MS tem reencontro com a própria história ao homenagear 1° coronel após mais de meio século
Sessão solene de outorga da medalha legislativa “Tenente Coronel da Polícia Militar Benedito Campos Couto” ocorreu na noite desta quarta-feira (27), na Câmara Municipal de Campo Grande
Graziela Rezende –
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Quando o som da Banda de Música da Polícia Militar passou a ecoar na Câmara Municipal de Campo Grande, durante sessão solene, os ‘Couto’ logo se emocionaram. Segundo os seis filhos de Benedito Campos Couto, primeiro tenente-coronel da PM, do então Mato Grosso, a casa onde moravam era próxima do 1° Batalhão, na região central e, de lá, ouviam som semelhante, que anunciava o início dos trabalhos e a chegada do pai deles. Na noite desta quarta (27), o mesmo som anunciou uma noite de arrepios, saudade e homenagens.
Pouco antes do início do evento, a reportagem do Jornal Midiamax conversou com o advogado Carlos Magno Couto, de 62 anos, filho do coronel. “Esta homenagem é um reencontro da PMMS com sua história. Quando a medalha do Mérito Legislativo for colocada sobre o peito dos homenageados, assim como, em sentido figurado, sobre o coração ferido daquele menino de 10 anos de idade, quando da morte de meu pai, aos 44 anos, reviverei, no meu íntimo, nas profundezas da história da rua 7 de setembro, aquele disparo que cortou o silêncio da margem alta do Prosa, traduzido, dentro de mim, pelo verso: ” Quando se sente bater no peito a heróica pancada, deixa-se a folha dobrada, enquanto se vai morrer”. Hoje é uma noite que podemos desdobrar essa folha”, resumiu, em palavras emocionantes, o discurso que faria em seguida no plenário.
Neto do coronel, Otávio Guizzo Duncan Couto, de 27 anos, é advogado e está prestes a assumir o posto de promotor de Justiça. Durante a homenagem, ouviu histórias de uma época em que nem era nascido, mas, carrega consigo o orgulho em ter o ‘sangue dos Couto’.
‘Referência como ser humano’, diz neto sobre homenageado
“Meu avô, além de ter sido policial militar, o oficial da mais alta patente até então a morrer em razão do cumprimento do ofício, ele também cursou direito, na primeira graduação do curso que teve na cidade de Campo Grande, ele foi delegado de polícia, então, para além de uma referência como ser humano pelos valores éticos, de trabalho guardo, decência, honradez, ele também era uma referência de um jurista, de uma pessoa dedicada ao estudo do direito e que inspirou eu e todos meus irmãos, inclusive meu próprio pai, a cursarem direito. Desta forma, cada qual em suas respectivas profissões, estão a buscarem a justiça e defender o certo e os valores que Benedito nos transmitiu”, comentou.
Dos seis filhos do Benedito, que também seguiu a carreira jurídica e os inspirou a ir para o mesmo rumo, cinco estavam presentes. Apenas Graziela, que estava em São Paulo por conta do tratamento médico do marido, acompanhou o evento online. Todos sempre fizeram questão de exaltar o nome do pai, suas histórias, seu exemplo e, até por isso, sentem que ele esteve sempre presente, repassando o legado aos 12 netos.
Filha “do meio”, a fisioterapeuta e bacharel em direito, Carla Guizzo Couto, de 61 anos, esteve presente na noite solene. “Meu pai deixou seis filhos, todos formados, todas pessoas de bem. A minha mãe sempre cultivou a figura do meu pai e parece que eu convivi com o meu pai a vida inteira. Ele sempre foi presente demais na minha vida, não senti esse distanciamento dele. Sempre teve muitas histórias, então, ele sempre fez parte. Todos ainda ouvem histórias do Bedi, como a gente o chamava. É engraçado que ele não gostava do nome dele. Assinava B ponto”, comentou.
‘Hoje entendo a grandiosidade daquele som’, relembra filha do coronel
Com oito anos na época do falecimento de Benedito, Carla ressaltou as emoções sentidas na noite desta quarta-feira (27). “Eu tinha oito anos na época e ouvir a banda de música me trouxe muita emoção. Nós morávamos perto da cadeia pública e o meu pai, quando chegava lá, tinha um som semelhante, tipo uma corneta, então, esse som era muito comum e hoje entendo a grandiosidade daquele som. Aos 61 anos, é algo que me toca profundamente, porque eu vejo, através deste som, desta melodia, uma história ao longo do tempo”, argumentou.
Além disso, ao ver a foto do pai duplicada na dela, a família toda ficou emocionada. “Achei linda a imagem dele, veio orgulho de ser filha do coronel Couto. Minha mãe foi viúva por 50 e poucos anos e é engraçado que ela faleceu de Alzheimer, uma enfermidade que leva ao esquecimento, só que ela jamais esqueceu do coronel em nenhum dia. Sempre foi apaixonada, um amor eterno, de verdade. E também não esqueceu de nenhum dos filhos que ela teve. É uma história de amor eterno, muito bonito mesmo”, disse.
Vítima de uma emboscada, o coronel Benedito faleceu em 1972. Na ocasião, ainda conforme a filha, ele já ressaltava o perigo de sua profissão, da responsabilidade do cargo que exercia e, por isto, pai de seis filhos, estava cursando direito, pois, pretendia, fazer uma transição. No entanto, um ex-presidiário, que já havia assassinado um vereador em Terenos, o atingiu no momento em que o coronel vistoriava a obra, de uma casa que estava construindo para família morar. Às 7h, o estampido, desta vez, anunciava a tragédia.
“Meu irmão mais velho estava com 13 anos. Ele escutou um tiro e o grito chamando os pedreiros. Meu irmão estava começando a dirigir, aos 13 anos. Ele colocou meu pai no carro e tentaram chegr na Santa Casa, mas, infelizmente, ele veio a falecer. O contato que o meu pai teve com ele foi pedir a transferência dele, por se tratar de um bandido perioso. Só que, mesmo com este fim de violência, não sinto ódio, sinto piedade apenas”, comentou Carla.
Na ocasião, durante a entrega das medalhas, também discursaram o vereador Coronel Vilassanti, Coronel Franco Alan e a Coronel Neidy Nunes Barbosa. A Medalha Legislativa foi em 2017.
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