O barulho os fazia sair correndo até a calçada para identificar qual era o modelo e linha que estava passando na frente de casa, em Campo Grande. Ainda na infância, se ganhassem carrinhos, desmontavam para aproveitar somente as rodas e assim viravam a caixa da pasta dente ao contrário, montando ônibus em miniatura com as rodinhas coladas. Confira entrevista exclusiva ao final da matéria.

O hobby, que nasceu na infância e os tornou busólogos – estudo dos ônibus e assuntos relacionados – os fez catalogar 23 mil fotos deste veículo em toda a região centro-sul do Brasil. E é realmente impressionante conversar com o servidor público Andres Luciano Esquivel do Amaral, de 44 anos, e o auxiliar administrativo Geraldo Viana Neto, de 28 anos. Ambos, inclusive, se conheceram na rodoviária antiga, enquanto faziam registros fotográficos e descobriram a paixão em comum.

Andres, no entanto, é considerado o “professor” dos busólogos na capital sul-mato-grossense e até em outras regiões, já que começou a catalogar em 1999 e hoje percorre o país para olhar os ônibus, andar e obter ainda mais conhecimento.

“Comecei a viajar para ir atrás de ônibus mesmo e já estive em quase todos os estados da região centro-sul do Brasil, só falta o Amapá, Alagoas e, no caso, Roraima, então, nas férias eu geralmente estou caçando ônibus. Agora, inclusive, estou prestes a tirar férias. Vou para Dourados no mês de agosto, onde tenho um amigo que me ajuda. Já em setembro vou para Santa Catarina e em novembro eu estou de férias de novo, vou para o nordeste, tentar algo nas empresas de lá”, afirmou Andres ao MidiaMAIS.

Nesta caminhada, Andres disse que conhece “cidades, pessoas e empresas diferentes”, algo que ele gosta bastante. “Em São Paulo, por exemplo, você vai na sede do Terminal Tietê, que é o maior terminal rodoviário da América Latina, e encontra muitos busólogos, a gente se conecta sempre”, disse.

Ônibus: paixão desde a infância

Amigos possuem paixão em comum por ônibus (Graziela Rezende/Jornal Midiamax)

No entanto, tamanha experiência tem origem lá atrás. “Quando era criança eu achava que só eu, no mundo inteiro, gostava de ônibus, porque só vi gente falando de carro, moto, caminhão, só que de ônibus ninguém falava. E aí, com o passar do tempo, fui conhecendo o pessoal que também curte, pela internet. E daí comecei a fotografar em 2011, 2012, por aí, nessa época. Tive a informação de um ônibus, um modelo recente de uma empresa, viagem inaugural, coisa assim e aí vou lá tirar foto e captar as informações. A internet facilitou muito e, em uma dessas, eu vi o Andres”, relembrou Geraldo.

Nestas pesquisas, o busólogo diz que teve acesso ao site Ônibus Brasil, o qual possui o maior acervo do mundo, ainda de acordo com Geraldo.

“É como se fosse uma rede social, em que você cria uma conta e posta o veículo que registrou. Eu fui conhecendo cada vez mais e algo que achei que ia abandonar, com o tempo só foi aumentando, profissionalizando, ainda mais quando descobri a fotografia”, argumentou.

Andres, ainda na década de 90 e do tempo da fotografia analógica, já registrava os ônibus. “Era filme, então, tirava a foto e não tinha garantia que ia sair, até a angulação era meio que na sorte, a iluminação também. Hoje, com a câmera digital e o celular, você consegue fotos em qualquer lugar. Mesmo assim eu fui fazendo várias e consegui um acervo significativo”, contou.

Primeiro ônibus do Luan Santana, quando ainda era o “gurizinho”

Foto que Andres fez do primeiro ônibus do cantor de MS (Graziela Rezende/Jornal Midiamax)

Entre as raridades, Andres mostra o primeiro ônibus do cantor Luan Santana, quando ainda era conhecido como o “gurizinho de Jaraguari”. “Ele até cita sobre este veículo antigo em uma de suas turnês”, disse. O busólogo mostrou ainda diversas outras fotos de veículos de cantores famosas.

Assim, Andres conta histórias por meio destes veículos. “A palavra ônibus vem de origem do latim que significa para todos e este sistema de transporte popular é um veículo caro. E uma das coisas que mais chamam atenção é a questão estética, a diversidade das pinturas e que identificam as empresas. E isso eu observo desde pequeno, quando morava na Avenida das Bandeiras e sabia toda aquela rota do Centro até o Aero Rancho, que é um bairro bastante populoso. Eu decorava horário, rota, linha e modelos, isso com 5 a 6 anos de idade”, contou.

Muito do que era observado, conforme o busólogo, nem existe mais. “Quando começou a minha experiência, tentava reproduzir, fazer desenho e o Geraldo também fala as mesmas coisas, teve a mesma experiência”, fala Andres. E Geraldo complementa: “Eu também fazia as miniaturas com caixinhas de creme dental, tentava deixar o mais parecido com o que eu via e ainda decorava linha, prefixo, era a mesma coisa”, disse.

Atualmente, ambos chegaram a visitar fábricas, estiveram em lançamentos de ônibus e tudo isso por conta da motivação.

“A gente viu empresas acabarem, mas, ao mesmo tempo vimos outras surgindo e ainda tem muita coisa a se descobrir. Por exemplo: a empresa brasileira Marco Polo, sediada em Caxias do Sul, é hoje a maior fabricante de ônibus, presente em mais de 100 países, ou seja, o mesmo ônibus que circula em Campo Grande, circula em outros 100 países. Ela surgiu em 6 de agosto de 1949 e um dos presidentes, um dos fundadores, ficou lá durante mais de 50 anos, então, não é só o ônibus, é toda a história, o conhecimento”, argumentou finalizou.

A data é para comemorar com aqueles que amam fazer registros fotográficos, desenhar e viajar para colher informações sobre este veículo tão importante.

É também o dia do motorista, profissão tão importante de quem está sempre com o “pé na estrada”, levando pessoas ou transportando mercadoria.