A carta-branca para postar tudo na página “Segredos do Busão”, que encerrou após sete anos e gerou muito entretenimento, em Campo Grande, nem sempre era “carta-branca mesmo”.

Segundo um dos administradores, que não será identificado pelo Jornal Midiamax, muitas denúncias foram preservadas ou até mesmo foram encaminhadas para polícia. Além disso, amizades e relacionamentos – que se estendem até os dias de hoje – foram criados ali e saíram da internet para o mundo real.

“No caso de relacionamentos, eu mesmo tive um, de quase três anos, que foi por intermédio da página. O administrador número quatro também e ele está junto com a pessoa desde 2018. Eu também soube da existência de grupos no WhatsApp, que nasceram ali na página e o pessoal se encontra direto, faz churrasco, vai pra show e várias baladas junto. Eu, inclusive, fiz parte de alguns, mas, acabei me ausentando há algum tempo”, disse o entrevistado.

Denúncias de teor sexual

Conforme o “adm”, a página também recebia muitas denúncias de teor sexual e que estariam ocorrendo dentro do ônibus. “Embora o nosso público fosse voltado para maiores de 18 anos, tinha muito aluno, da rede estadual principalmente, denunciando casos dentro do ônibus. São histórias que a gente não publicava, porque não era nosso interesse entrar no nicho e também por respeito”, relembrou.

Um dos casos, ainda de acordo com o “adm”, extrapolou e foi encaminhado para polícia. “Como eu disse antes, a gente recebeu muitas coisas de alto teor sexual, histórias absurdas mesmo. Teve momentos que a gente teve que se abstrair de contar histórias, que envolviam relacionamento extraconjugais, então, a gente sempre recebia muitas fotos, vídeos, mensagens falando de situações que estavam ocorrendo naquele exato momento e 100% das vezes a gente se absteve de se envolver naquilo”, argumentou.

O “adm” fala ainda que, por ser oculto, muitas pessoas perdiam a mão na hora de enviar o que estava ocorrendo ali. “Recebemos uma vez de um rapaz um segredo, que estava acompanhado de uma moça, e assim colocou um casaco em cima e ali ficaram tendo intimidade. São histórias pesadas, que a gente nem gostaria de ter recebido”, disse.

Problemas de limpeza, elevadores e ar condicionado

No caso da manutenção dos veículos, as histórias eram muitas também. “A gente sempre fazia cobranças, denunciava problemas desde a limpeza aos elevadores, que dava problema direto, praticamente todo dia tinha uma publicação. E aí a gente batia em cima disso e da questão do cumprimento dos horários também, principalmente porque o consórcio estava tirando os veículos da linha mais cedo do que previsto”, afirmou.

Outra questão polêmica era o ar condicionado. “Era um calor danado e poucos veículos tinham ar e, quando a gente entrava, não estavam ligados, então, a gente pedia pra rodar com o ar ligado. A gente também conseguiu certa influência em relação ao horário, itinerários, coisas que realmente eram necessárias e concordaram e aplicaram, até inserção de determinada linha que a gente foi no terminal e estava ‘explodindo de gente’ lá. A gente ficava de olho no que poderia melhorar”, disse.

Fim da página após 7 anos

Sobre o encerramento da página, um dos “adms” alegou mudanças na vida pessoal. “Antes a gente administrava quando estava dentro do ônibus, transitando de um lado a outro para trabalhar, ir para faculdade, então, era o tempinho de fazer as publicações. Eu falo tempinho, mas, tínhamos umas quatro horas diárias de dedicação para gerar o entretenimento”, ressaltou.

Com a pandemia, tudo mudou. “Teve a questão de emprego, que afetou os administradores, a rotina, então, muitos ficaram em home office e aí vieram outras prioridades, a rotina foi mudando. Teve adm que mudou de cidade, foi administrar outras demandas e aí começamos a sentir o abandono da página, foi deixando de ser prioridade, então, era melhor encerrar algo que a gente não estava mais conseguindo tocar”, falou.

Uma última questão, ainda conforme o adm, foi o comportamento dos internautas. “Houve muita mudança e as coisas que eram brincadeiras saudáveis, de entretenimento mesmo, começaram a facilmente virar motivos de ‘cancelamento’, de brigas, então, isso nos desanimou um pouco também e aí fomos somando tudo, essa troca de emprego, de rotina, de questões de tudo, chegando a conclusão que era melhor parar”, encerrou.