A tarde era para ser “mais pesada”, com a servidora pública Wilmara Rios, de 63 anos, acompanhando a internação da netinha, de dois anos, em um hospital de Campo Grande, e ali também relembrando os últimos momentos ao lado do filho, que faleceu em 2017, vítima de leucemia. Assim, ao passar pelo jardim, que tanto foi aconchego para ela e o seu Renan, viu uma placa que a deixou muito emocionada, com um simbolismo muito maior que imaginava e gostaria.

“Eu decidi fazer este relato para muitos que talvez estejam tristes. A intenção é dizer que a gente pode viver em paz nessa vida. O Renan [Rios Godoy] teve leucemia, essa doença absurda, um menino que nunca teve doença nenhuma e, de repente, a leucemia. Ele ficou um ano e dez dias com a doença e foi uma grande lição para todos nós. Por pior que pareça, vimos pessoas solidárias, gente que nem nos conhecia e batia na porta perguntando, falando que queria doar. Eu e ele nem acreditávamos, achamos o mundo tão absurdo, cheio de ódio e, de repente, solidariedade”, relembrou Wilmara.

A servidora pública diz que, toda semana, ia presencialmente ao Hemosul, com a intenção de pegar a lista de doadores e, em seguida, voltava ao hospital. “Ele estava internado, precisava de sangue todo dia e eu sentava e lia cada nome. Nós rezávamos, a gente agradecia cada um mesmo sem conhecer. E enfim, a leucemia só tinha cura com o transplante de medula. Recebemos a notícia do doador em uma quinta-feira, um rapaz com a mesma idade dele: 26 anos”, contou.

Filho faleceu logo após notícia de doador compatível

Assim, o doador viria de São Paulo para o procedimento. “Eu chorei, ajoelhei de tanta alegria. Só que aí chegou o sábado, veio a febre e, em uma terça-feira, Deus levou o meu filho. Foi feita a vontade dele. Eu não sou religiosa, acredito no meu Deus, no universo e que existe algo além da vida, então, acreditei que, a partir daquele momento, se eu sofresse, ele sofreria junto. Só que não aguentei e sofri muito”, comentou Wilmara.

(Wilmara Rios/Arquivo Pessoal)

Em uma das andanças, esteve no hospital. “Fui lá um dia e pedi – de cara lavada, que colocassem o nome do meu filho naquele jardim. Estava ocorrendo uma reforma, me lembro bem. Ali íamos todo dia, a gente só tinha 30 minutos para ficar ali olhando as árvores e as plantas. Ele tinha muito conhecimento, era engenheiro agrônomo”, disse.

Mãe pediu nome do filho no jardim de hospital

Assim, quando mais uma vez foi no hospital, estacionou e viu uma placa no jardim. “Estava escrito outra coisa, não não tinha o nome do meu filho, mas, a emoção foi tamanha que agradeci a Deus, a meu filho e principalmente, as pessoas que ajudaram, ajudam e ainda ajudarão fazendo doações de sangue. Nunca mais veremos outra mãe, outra irmã, outra família chorando e sofrendo como nós sofremos, ao lado do leito de um hospital”, afirmou.

Em muitos momentos, Wilmara disse que eles não podiam ter contato com outras pessoas. “Ele ficou dois meses internado, depois, quando teve uma crise grave, corria lá para tomar sangue e voltar pra casa. Quando tudo se agravou, retornamos ao hospital no dia 25 de dezembro e ficou até o final, na segunda de manhã, daí o médico Dr. Luis Mascarenhas, mandou ele pro Hospital do Coração, onde ele foi embora, ficou menos de 24h. Não tinha mais cura, então, acho que ele deixou o Renan ir para casa para cantarmos parabéns, dia 21/01, e os amigos fizeram um vídeo para recebê-lo, todos rasparam suas cabeças”, relembrou.

Por fim, a mãe diz que gostaria de abraçar cada doador, cada pessoa que dava “um dia a mais” ao filho dele. “Que se sintam abraçados e recebem o meu eterno muito obrigada. Ele era uma filho maravilhoso, um presente, a coisa mais linda que Deus me deu. Eu tenho também a minha neta e minha outra filha, que também são os meus amores e sigo tentando buscar a minha paz. Sou grata até hoje a todos que o ajudaram, que doaram, vale a pena viver e hoje eu sou feliz”, finalizou.