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Luiz mantém clientela fiel há 54 anos, cortando cabelo enquanto fala em guarani e outros 2 idiomas

Barbeiro e cabeleireiro viveu o auge da antiga rodoviária, trabalhando em salões renomados. Desde então, recebe clientes que hoje cortam cabelo e ainda levam netos
Graziela Rezende -
(Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

O fervor de , nos anos 70, era a antiga rodoviária, com o vai e vem de gente, de ônibus circulando e inúmeras lojas vendendo discos, sapatos, roupas e lanchonetes, além de salões de beleza muito chiques. Em um deles, trabalhava Luiz de Souza, de 74 anos, cabeleireiro e barbeiro autodidata, que mantém clientela fiel há 54 anos, fazendo cortes impecáveis de cabelo enquanto pratica outros idiomas com conterrâneos paraguaios e espanhóis.

Há 54 anos, Luiz veio ao lado do pai, visitar um tio no bairro Caiçara, e por aqui ficou. Na ocasião, disse: “Pai, eu vou ficar aqui”. A mesma coragem que o fez deixar os pais e irmãos no sítio, em San Pedro, também o fez aprender mais sobre a vida urbana e assim foi procurar emprego. A profissão, a qual aprendeu aos 12 anos, tinha que ser no seu ramo, como barbeiro e cabeleireiro.

“Eu cheguei aqui em 1968, estava com 18 anos. Morei lá no Paraguai, no sítio, onde trabalhava na lavoura. Estudei até o quarto período lá, o que equivale ao oitavo ano aqui. Aos cinco anos, mamãe já nos dava tarefa de casa, eu e meus cinco irmãos. Ela estipulava o tempo de uma semana e aí eu cuidava do chiqueiro, das galinhas, porque tinha umas 150 mais ou menos e tinha que cuidar dos pássaros que mexiam nos ovos, entre outras funções. E nisso ela também me ensinou a costurar, cozinhar e lavar minha própria roupa”, relembrou.

(Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Aos 12 anos, no entanto, quando o tio Cristóvan ia nas fazendas cortar cabelos, de forma gratuita, algo lhe chamou muito a atenção. “Eu aprendi olhando, vendo ele fazer e aí ganhei uma tesourinha, então, comecei a sapecar os cabelos dos colegas por lá. Até que um dos pais observou e falou: ‘Poxa Luiz, você corta muito bem. Eu sempre tive muito amor pela minha profissão. Primeiro agradeço a Deus e digo sempre para as pessoas se apaixonarem pela profissão. O amor faz tudo e depois vem o carinho e a dedicação”, argumentou.

Barbeiro trabalhou em salões famosos da antiga rodoviária

Já na capital sul-mato-grossense, Luiz foi trabalhar em um salão na Avenida Bandeirantes. “Fiquei lá um tempinho e aí fui para a rodoviária, em 1970, 1971. Ali era um corredor, o shopping da cidade. E tinha muitos clientes. O coletivo também tinha parada final e muita gente cortava cabelo e já ia para o cinema que tinha ali, além de frequentar os outros locais. E eu passei a trabalhar no Salão Modelo, que era muito famoso. O meu patrão era o José Machado e ali eu fiquei oito anos, indo para o Salão Real em seguida, que pertencia a Dona Amélia. Lá foram 15 anos”, disse.

No ano de 1992, uma mudança radical: Luiz foi para um salão novo, o Black White, inaugurado no cruzamento da avenida Afonso Pena com a Rua 14 de Julho. “Ali eu fui fazer um curso em uma escola profissional, que se chamava Oriza. Fiquei um ano aprendendo, porque a gente ia também trabalhar com química, permanente e alisamento e, às vezes, também tinha reflexo. Era um local em que a gente trabalhava uniformizado, em um ambiente chique, cortinado e que apenas dava para ver no espaço de 70 centímetros da porta”, contou.

(Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Assim, muitas pessoas frequentavam lanchonetes ao lado, na região central, ficando curiosas com o novo empreendimento na região central. “Quando a gente saía lá fora, alguns perguntavam: ‘Quanto é para cortar o cabelo aí? Lá na rodoviária é 5 mil cruzeiros e aí deve ser bem caro né. E aí eu respondia que era 8 mil cruzeiros e muitos entravam. Viam que o ambiente era um pouco diferente, mas, o preço não era. E aí foi lá que eu tive uma proposta, então, fiquei neste salão até 1999”, comentou.

Na época, já morando na Vila Palmira e com a esposa grávida, Luiz queria ter mais tempo para ficar com a família. “A proposta era para um salão na Avenida Júlio de Castilho, então, ficaria mais perto e eu teria o horário do almoço. O meu filho mais velho quase não vi crescer, fui curtir ele tinha uns seis anos, então, queria estar mais perto. Eu chegava já estava dormindo e ia sair era a mesma coisa. Só que fiquei com receio de aceitar porque a minha clientela toda era do Centro, só que muitos me acompanharam graças a Deus”, pontuou.

Pandemia mudou os planos, explica barbeiro

De 1999 a 2002, este foi o endereço profissional do Luiz, até que mudou novamente para um salão bem próximo, onde permaneceu por mais 15 anos cortando cabelos de homens e mulheres, das mais diversas idades. “Foi muito bem, até que, em 2015, montei o meu próprio salão na Avenida Júlio de Castilho. Deu tudo certo até a pandemia, quando o governo municipal adotou medidas que não nos ajudaram na época e eu precisei fechar. O salão então veio pra casa”, explicou.

“Só que aí a minha esposa e a minha sogra ficaram receosas de trazer clientes, estavam com medo de tudo o que estava acontecendo. E o auxílio que deram eu não tinha direito, porque já era aposentado. E eu precisava de uns trocados, principalmente para comprar mistura. Só a minha aposentaria não dava e passei momentos difíceis. Mas, coloquei a cadeira e o espelho na varanda e fui trabalhar”, disse.

Entre os clientes, Luiz fala de amizades antigas, de gente que ia na rodoviária e hoje continua cortando e ainda leva o neto para cortar cabelo com ele. “Eu tenho muitos clientes, que também vieram do Paraguai, que moraram por lá e por isso eu falo em guarani, espanhol e em português, claro. É por isso que eu nunca perdi o sotaque. Mas, é muito gostoso. Eu sou um cidadão simples, que gosta de falar da família, de trabalho, de religião. Eu repasso essa energia positiva, que Deus me dá e com isso tenho muito retorno também. Eu, por exemplo, adoro criança e tenho muita paciência. Esta profissão exige isto”, ressaltou.

‘Quando cheguei, Campo Grande era só mato e casas de tábua’

(Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

No início de tudo, Luiz disse que Campo Grande era muito diferente. “Aqui era tudo mato. O Panamá, por exemplo, era tudo mato, cerrado, cada quadra tinha uma casa de tábua, lá no fundão. Tinha trilha que só carroça que andava. Vi toda a evolução por aqui. Eu amo a vida, amo o Brasil e amo a minha cidade Campo Grande. Este estado me recebeu há 57 anos e gosto demais daqui”, afirmou.

Nas horas vagas, Luiz diz que gosta de receber amigos em casa, visitar os irmãos no Paraguai e também fala com muito orgulho dos filhos, um prestes a se tornar primeiro sargento e a outra dançarina, a qual ainda cursa educação física. “Gosto de ficar com a minha família e, quando recebo amigos, até tomo uma cervejinha para acompanhar. De vez em quando, ainda faço comidas tradicionais do Paraguai, como pucheiro, vori vori, sopa paraguaia e chipa. Também frequento a igreja Perpétuo Socorro há 48 anos, sempre agradeço a nossa mãezinha”, finalizou.

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