Um legado além da obra. Assassinado em (MS) em novembro de 2020, o chargista Marco Antônio Borges deixou um presente inspirador para o amigo Jorge Elias Campos: uma charge de sua imagem, feita para incentivá-lo a seguir um sonho, que só veio a sair do papel no início deste ano.

Jorge, também conhecido como “Chorão”, tinha uma amizade de mais de 20 anos com Marco. Eles se conheceram quando o vendedor de móveis foi trabalhar em um supermercado na esquina da casa do chargista. Com o passar do tempo e a proximidade, o artista reconheceu no rapaz um talento para empreender e o incentivou a ponto de projetar o futuro.

Maior encorajador de Jorge, Marco foi assassinado há mais de três anos, mas só hoje “Chorão” seguiu seu “conselho de ouro” e finalmente usou o presente feito com tanto carinho.

“Eu trabalhava na esquina da casa dele. Éramos muitos amigos, todo dia cedo ele ia comprar pão para os pais dele. Tomávamos tereré aos finais de semana e ele me chamava pra jogar bola. Todo aniversário dele e meu a gente fazia alguma coisa. Ele sabia que meu sonho era ter meu negócio próprio e me presenteou com essa charge que, graças a Deus, ficou muito chamativa”, relata Jorge ao Jornal Midiamax.

Charge de Jorge feita por Marco chargista assassinado
Charge de Jorge feita por Marco

Presente de aniversário

O vendedor de móveis e agora comerciante conta que ganhou a charge no dia de seu aniversário, em 2020, mesmo ano em que Marco foi brutalmente assassinado pela massagista Clarice Silvestre de Azevedo.

“Ele deixou essa charge pra eu usar onde quisesse…. montar um negócio, lanchonete, restaurante… ele queria que eu montasse um. O Marco chegou com a charge no meu aniversário e falou: ‘eu vou deixar pra você de lembrança pra vida inteira. Você pode usar pra sua logo e montar sua lanchonete, ao invés de trabalhar para os outros'”, recorda.

Apesar disso, apenas este ano Jorge decidiu fazer acontecer e abriu uma dogueria na Avenida Raquel de Queiróz, no bairro , usando a charge na logomarca. “Resolvi colocar um sonho em prática, que ele tinha idealizado pra mim. Ele foi uma inspiração, me disse que eu tinha que ter meu negócio próprio. Eu nunca tinha coragem, só que acabou acontecendo”, comemora.

Emocionado, ele ainda revela que o sucesso da dogueria aberta há um mês é justamente a charge que ganhou de presente. “Hoje em dia o pessoal para aqui, as gostam, acham legal a charge, perguntam…”, afirma.

Em pouco tempo, hot dog faz sucesso no Aero Rancho - (Foto: Arquivo Pessoal)
Em pouco tempo, hot dog faz sucesso no Aero Rancho – (Foto: Arquivo Pessoal)

“Era um cara de caráter, ajudava as pessoas”, diz Jorge sobre chargista assassinado

Feita há quase quatro anos, a caricatura de Jorge traçada pelas mãos de Marco Antônio impulsiona e chama a atenção dos clientes para o comércio. Não à toa, ele acredita que o chargista esteja abençoando o empreendimento. É por isso que, em seu coração, dominam os sentimentos de saudade e gratidão.

“Naquele dia, ele não foi tomar tereré. Quando soube do sumiço dele, já imaginava que não era coisa boa, pois ele nunca foi de dormir fora de casa. Ele tinha a rotina dele e jamais deixaria os pais que são idosos. Fiquei sem chão ao saber a forma como foi assassinado. Ele não merecia! Ajudava as pessoas, era um cara de caráter”, lamenta o amigo.

Chargista Marco Antônio - (Foto: Arquivo Pessoal)
Chargista Marco Antônio – (Foto: Arquivo Pessoal)

O caso

Na manhã de 21 de novembro de 2020, a massagista Clarice Silvestre de Azevedo matou o chargista Marco Antônio em sua casa, no Bairro São Francisco, em Campo Grande (MS). Com a ajuda do filho João Victor, ela ainda destruiu e ocultou o cadáver do artista.

O relato na denúncia é de que Marco era cliente da massagista e mantinha um relacionamento amoroso com ela. No entanto, ele não queria assumir a relação oficialmente, o que incomodava Clarice. No dia do crime, eles combinaram uma massagem e a vítima foi até a casa da autora.

Após a massagem, Marco foi tomar banho na parte de cima da casa de Clarice. Ao sair do banheiro, os dois começaram a discutir sobre o relacionamento e Clarice empurrou a vítima da escada. Em seguida, ela esfaqueou o chargista e o ocultou o corpo com a ajuda de seu filho de 22 anos.

Clarice foi denunciada por homicídio triplamente qualificado, por meio cruel, motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da vítima, além da destruição e ocultação de cadáver. O filho foi denunciado pela destruição e ocultação de cadáver. Ela foi condenada a 16 anos de prisão e o rapaz a 1 ano e 6 meses.

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