Oito andares de casinhas de joão-de-barro e cada um no seu quadrado. É neste condomínio, criado pelos passarinhos, que moram joões-de-barro no centro de Rio Verde de Mato Grosso, a 170 quilômetros de Campo Grande. Observadora e ilustradora de aves, Lídia Coimbra é quem faz caminhada na região e os contempla, inclusive, vendo a visita que bem-te-vis, tucanos, araras e papagaios fazem no local.

“É um condomínio aberto, que sempre cabe mais um. É também o meu encontro, quase que diário, com o joão-de-barro. Eles se instalaram embaixo de uma caixa d’água e eu sempre passo ali, então, decidi tirar foto para mostrar a outros observadores de aves, principalmente porque vários vão visitar o condomínio”, contou Lídia ao MidiaMAIS.

Nesta semana, Lídia diz que ouviu um novo canto e está tentando identificar.

“Eu gravei e vou mostrar para especialistas. Gosto de registrar a fauna de Mato Grosso Sul e inclusive é este o meu trabalho. Ali chama a atenção por ser cada um no seu andar, mostrando a beleza da natureza, tudo bem organizadinho, como se fosse um prédio e até a água eles já tem, tem tudo na verdade”, comentou.

(Lídia Coimbra/Arquivo Pessoal)
(Lídia Coimbra/Arquivo Pessoal)

Paixão muito além do joão-de-barro

A paixão pela natureza não é acaso, mas, tem uma sequência de acasos. “Eu trabalhava somente com arte digital e pintura de tela em acrílico. No entanto, durante uma viagem ao Pantanal e eu sempre carregando lápis de cor comigo, um turista americano me pediu para fazer um udu de coroa azul. Quando recebi a encomenda, pensei: ‘Tenho que fazer isso e não vou nem cobrar’. A minha intenção era agradecer, porque eles nos deu uma carona em um avião particular, até uma fazenda”, relembrou.

Ao completar o desenho, Lídia diz que ele ficou muito feliz, comentando que estava “bem realista” e ela então decidiu fazer outras ilustrações. “Com o tempo, começaram a falar que eu me tornei referência na ilustração de aves e isso sempre me deixou muito feliz. É por isso que estou sempre andando, olhando e tirando foto das aves. Eu registro somente a fauna de Mato Grosso do Sul”, finalizou.

Curiosidades sobre o passarinho construtor

(Lídia Coimbra/Arquivo Pessoal)
(Lídia Coimbra/Arquivo Pessoal)

A bióloga, doutora em ecologia e conservação, Camila Aoki, de 43 anos, diz que o joão-de-barro não costuma sair muito de uma área, já que ele “não se arrisca muito” e assim vai construindo ninhos próximos entre uma estação reprodutiva e outra, por vezes, um em cima dos outros.

“Nós ganhamos estes presentes às vezes, é bem bonito de se observar. Na chácara da minha mãe, antigamente, tinha apartamento de cinco ninhos em uma árvore, então, eles vão construindo. Macho e fêmea constroem juntos o seu ninho e se assemelha a um forno de barro, daí o nome joão-de-barro. A estrutura desse ninho, contudo, é mais complexa que um forno de barro, porque tem um estrutura interna que diminui as correntes de ar e também ajuda a proteger contra predadores. Uma outra curiosidade, é que o dito popular de que o joão-de-barro prende a fêmea dentro do ninho quando ela o trai é apenas uma lenda”, finalizou Aoki.

Confira aqui mais detalhes do ‘condomínio em MS’: