Os livros são capazes de ampliar nossos conhecimentos, nos entreter e até mesmo nos transportar para lugares fictícios e reais, à medida que nos estimulam a exercitar a imaginação. O Dia do Escritor, comemorado nesta quinta-feira (25), é uma oportunidade de valorizar e reconhecer a importância destes profissionais. Contudo, você já se perguntou qual é o processo de escrita de um livro?

Antes mesmo de serem escritos, publicados e chegarem em nossas mãos, os livros são sentimentos que transbordam nos escritores. Esses, conseguem transformar seus olhares sobre o mundo em desabafos e narrativa. Seja na forma de poesia, crônica ou ficção, os livros contêm um pouco do íntimo de cada um dos seus criadores.

Segundo o Presidente da ASL (Associação Sul-Mato-Grossense de Letras) Henrique de Medeiros, a vontade de colocar algumas sensações no papel sempre existiu dentro de si. O escritor não tem um ritual de escrita, sendo assim, a maioria de seus textos são escritos na base do impulso, quando vem a inspiração.

“Eu geralmente tento anotar quando essas ideias vêm, quando alguns temas, alguns textos aparecem de repente. Posteriormente, você vai desenvolvendo, leva isso para o papel, saem as primeiras versões, e então você vai aprimorando, mudando palavras”, explica.

Quando se trata de um livro em poesia, Henrique explica que é mais fácil de fazer anotações quando as ideias aparecem de surpresa e, posteriormente, desenvolvê-las, escolhendo as melhores palavras. No caso de crônicas, exigem mais continuidade na escrita e, portanto, mais tempo disponível para isso.

“No caso de crônicas, você precisa estar com aquela ideia e com tempo para sentar e dar continuidade, porque realmente é um texto mais continuado, uma sequência maior. Mas, normalmente, como eu escrevo mais poesia, eles [pensamentos] vem assim do nada e você tenta levar para um tudo”, explica.

Dia do escritor Henrique de Medeiros
Henrique de Medeiros autografa seu livro ‘Nadas em Busca dos Tudos’. (Breno Valcania)

Ideias repentinas e fluidez nas palavras

Escrever não tem uma fórmula mágica. As palavras surgem a qualquer momento do dia e as anotações evitam que elas se percam no turbilhão de outros pensamentos. A escritora carioca, residente em Campo Grande, Alessandra Coelho conta que anda sempre com um caderno e caneta para agir nesses momentos.

“Eu sou meio que refém da literatura, na verdade, é ela que me cria, ela que me escreve. Eu não tenho controle sobre minha literatura. Mas, pensando bem, quando vou preparar meu ambiente de trabalho, um incenso aceso e uma música tocando, organicamente, me alimentam de arte e calma pra colocar as palavras certas em seus devidos lugares”, compartilha.

E se engana quem pensa que os maiores desafios de um escritor são os bloqueios criativos. Esses acontecem, mas são passageiros e logo a fluidez é retomada e a narrativa segue curso. Alessandra, por exemplo, tem uma forma de lidar com eles, que é continuar escrevendo, mesmo que suas palavras não lhe agradem nesse primeiro momento.

“Eu não tenho dica pra contornar bloqueio criativo, além de continuar escrevendo mesmo que a gente considere horrível. A constância é o que me faz ser escritora. E tudo bem se você não escreve mil páginas por dia, não somos máquinas, as palavras precisam se elaborar dentro pra fazerem sentido fora e isso demanda tempo”, afirma.

Processo de escrita, Dia do escritor
Alessandra Coelho e seu livro “Usamos tudo para poesia”. (Reprodução, redes sociais)

Da escrita à publicação

Até chegar às livrarias, os livros passam pelas mãos de muitos profissionais. Os autores das obras geralmente enviam os protótipos aos revisores e, posteriormente, vem a etapa de diagramação, escolha de estilo gráfico, e só assim a impressão.

Segundo Henrique de Medeiros, seus livros sempre surgiram do processo de juntar material escrito aos poucos. No momento em que tem volume de textos que seja significativo, agrupa todo o material, tecendo uma sequência lógica entre eles. “Eu começo a fazer um trabalho de organização dos textos, de dar uma ordem, sequência lógica. A partir daí ir para um título, um conceito, e poder finalizá-lo”, explica.

O mesmo fez Alessandra em seu primeiro livro, “Usamos tudo para poesia”. A escritora juntou todas os seus textos previamente escritos, e chegando na mensagem que queria transmitir, escreveu outros, que fossem uma espécie de ‘conectivo’ entre todos os outros.

“Parir um livro é uma tarefa muito dolorosa e deliciosa ao mesmo tempo. A construção do meu primeiro livro de poesias foi acontecendo mais pela reunião de poemas já escritos mais a criação de inéditos que conversassem com a mensagem que eu queria passar – só essa etapa artística de criação e reunião de textos demorou mais de 3 anos”, conta.

Contudo, mesmo com vários desafios e dificuldades, escrever é o que dá sentido à vida dos autores e, de certa forma, suas criações colorem a vida dos leitores. “Trabalhar com arte é complexo e cheio de camadas, com individualidades muito nossas para além das outras carreiras. Minha maior realização é ter quem me leia, e por mais que os tempos mudem ainda há quem se faça na literatura”, diz Alessandra.