Como o remake de Renascer sacrificou e destruiu a história de Terra e Paixão após neto dar ‘canetada’ na Globo
Notou as mudanças? História principal de “Terra e Paixão” foi obrigada a desaparecer após neto de Benedito Ruy Barbosa se recusar a escrever o remake de “Renascer”
João Ramos –
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Sentiu falta de cenas de plantação no final de “Terra e Paixão”, exibido na última sexta-feira (19) pela TV Globo? Viu também que a protagonista terminou sem colher sequer uma espiga de milho, como prometia e afrontava a Antônio La Selva (Tony Ramos) desde o início, afirmando: “os grãos que eu produzir serão ainda melhores que os teus”?
Além de “matar” essas histórias após uma “carteirada” do autor de “Renascer”, a novela ambientada em Mato Grosso do Sul ainda precisou “ressuscitar” uma personagem morta para que o neto de Benedito Ruy Barbosa aceitasse fazer o remake da obra do avô, de 1993.
Marcada para as 20h20 desta segunda-feira (22), a estreia de “Renascer” acontece a altos preços na emissora. Um deles, foi sacrificar sua antecessora, “Terra e Paixão”. É que, para colocar a nova versão da novela de 1993 no ar, o autor Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, fez algumas exigências. De acordo com o Notícias da TV, ele chegou a se recusar a escrever o remake da novela do avô por causa do folhetim de Walcyr Carrasco.
Isso porque a trama anterior, ambientada em Mato Grosso do Sul, tinha exatamente a mesma história que “Renascer”. Em maio de 2023, logo após a estreia de “Terra e Paixão”, Bruno Luperi notou que o atual folhetim das nove narrava justamente o principal plot do clássico dos anos 90: o conflito entre o pai que odiava e culpava o filho pela morte da esposa.
Naquela época, ele já trabalhava na adaptação dos capítulos e quis cancelar a estreia de seu remake para janeiro.
Novela sem moral precisou acatar desmandos
Em “Terra e Paixão”, Antônio La Selva (Tony Ramos) desprezava Caio (Cauã Reymond) por sua esposa Agatha (Bianca Bin) ter morrido ao dar à luz ao primogênito. Em “Renascer” (1993), o protagonista José Inocêncio (Antônio Fagundes) odeia e culpa o filho João Pedro (Marcos Palmeira) porque a esposa Maria Santa (Patrícia França) morreu no parto do menino.
Além disso, “Terra e Paixão” era toda ambientada em plantações de fazendas de Mato Grosso do Sul, e a protagonista aprendia a plantar, começando com milho, para algum dia chegar a ser produtora de soja. “Renascer”, por sua vez, é ambientada em plantações de cacau e o cultivo do fruto é o principal pano de fundo da história.
Diante de tantas semelhanças, Bruno Luperi não quis que “Renascer” substituísse em “Terra e Paixão”, porque seriam duas novelas iguais em sequência no horário nobre. Na época, a audiência da trama de Carrasco não ia bem e, por isso, “Terra e Paixão” estava sem moral na emissora.
Reviravolta no processo
Desesperada para recuperar um Ibope estrondoso e apostando no sucesso do remake de “Renascer”, a Globo então convocou o autor de “Terra e Paixão” e determinou que ele fizesse alterações em sua novela após as “canetadas” de Luperi.
Como ainda havia um longo caminho pela frente, a ordem foi que “Terra e Paixão” eliminasse tudo que fosse semelhante ou idêntico à “Renascer”. Desse modo, o conflito entre Caio e Antônio precisaria deixar de existir e as plantações também teriam que desaparecer.
Mas como, se essa era justamente a história da novela que estava no ar? O jeito foi, em primeira e drástica medida, ressuscitar Agatha. Com a personagem viva, Antônio não teria mais porque odiar o filho Caio pela morte da esposa. O ódio continuou, mas por outras razões explicadas na novela.
Assim, “Terra e Paixão” ganhou uma nova vilã e tudo passou a girar entorno dela. O roteiro não previa, mas Walcyr Carrasco deu uma virada na trama ao trazer uma Agatha (Eliane Giardini) maquiavélica que forjou a própria morte e voltou para “depenar” o dinheiro do marido Antônio La Selva.
Agatha se tornou a personagem mais interessante para o público e movimentou todos os núcleos, a ponto de, no final, ser definitivamente assassinada e provocar o grande mistério do folhetim. A identidade de seus assassinos instigou a audiência e só foi revelada no último capítulo.
Nada disso teria acontecido sem as exigências de Bruno Luperi. Sorte a de Walcyr Carrasco?
Sem fim…
“Terra e Paixão” ainda acompanharia o desenvolvimento da protagonista Aline (Bárbara Reis) na lida e sua evolução como produtora rural, mas a trama foi eliminada porque “Renascer” mostra a saga do protagonista José Inocêncio como produtor de cacau.
Por isso, Aline até perdeu suas terras e passou a maior parte da novela, após o mês de setembro, sem a posse de sua propriedade. A mocinha ainda encerrou sua história sem colher milho nenhum e sem cumprir o que prometia desde o início: que seria maior e melhor produtora que o vilão La Selva.
“Canetada” beneficiou “Terra e Paixão”
Com as mudanças feitas a tempo, todas para afastar “Terra e Paixão” de “Renascer”, o remake assinado por Bruno Luperi estreia nesta segunda (22) com o neto de Benedito Ruy Barbosa aliviado. Até porque, após as alterações feitas a toque de caixa e motivadas por seus “chiliques”, “Terra e Paixão” virou outra novela e ascendeu no Ibope.
A trama saiu de cena deixando o horário em alta com uma audiência explosiva, não alcançada desde o remake de “Pantanal” (2022), também escrito por Luperi. Assim, apesar de sacrificar toda a história de “Terra e Paixão”, a “canetada” do neto de Benedito Ruy Barbosa acabou beneficiando o folhetim que não ia bem no Ibope e obrigou Walcyr Carrasco a desenhar novos rumos antes não previstos para sua novela.
No entanto, o telespectador mais atento sentiu falta da conclusão da trama de Aline como produtora rural e a ausência das plantações – estas que não foram resolvidas como o ódio que Antônio La Selva sentia pelo filho.
Depois de estragar a história da protagonista de sua antecessora, agora, resta a “Renascer” a missão de manter a alta audiência de “Terra e Paixão” e fazer valer os mandos e desmandos de Bruno Luperi para colocar o remake no ar.
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