No bairro Aero Rancho, um mural de 114,4 m² ganha forma em duas empenas de um condomínio residencial. O responsável pela obra é o artista Victor Macaulin, que executa a pintura com uma tinta especial, feita com as cinzas das queimadas no Pantanal, recolhidas pelos brigadistas durante o combate.

O projeto faz parte do Festival Parede Viva – Edição Cinzas da Floresta, que visa homenagear os profissionais voluntários atuantes na linha de frente de combate aos incêndios. Um exemplo é a Dona Maria, indígena terena da aldeia Mãe Terra, em Miranda, cuja imagem ilustra o primeiro plano da obra.

“Em primeiro plano represento a Dona Maria, uma brigadista indígena terena, lá de Miranda, da aldeia Mãe Terra. E também as cenas de combate, representando esse combate deles aos incêndios e também o que sobra deles, a destruição, a morte dos animais, da nossa fauna”, afirma o artista.

Mural homenageia brigadistas no combate aos incêndios. (Ana Laura Menegat, Midiamax)

Tinta à base de cinzas recolhidas pelos brigadistas

As tintas foram fabricadas com as próprias cinzas que restaram das queimadas, um processo que passa por várias etapas. Inicialmente essas cinzas vão para São Paulo, onde as transformam em pó. O artista, então, recebe o material e, no momento da pintura, mistura com água e verniz, até chegar à consistência correta.

“Foi feita a coleta destas cinzas pelos brigadistas, e foi para São Paulo. Lá eles processaram essas cinzas, peneiraram e deixaram elas em pó. Aqui eu faço uma mistura delas com verniz incolor, junto com água”, explica Victor.

Processo de fabricação da tinta. (Ana Laura Menegat, Midiamax)

Localizado em uma avenida movimentada e de grande visibilidade, Victor pretende conscientizar a população, através de uma arte ativista. Dessa forma, o artista também promove maior acessibilidade, e desburocratiza a arte.

“Esse projeto é muito importante, tanto pelo conceito da utilização das cinzas, como da mensagem da importância dos brigadistas nesse combate desses incêndios. Aqui na região onde está sendo feito, no Aero Rancho, um bairro periférico e muito populoso, vai ter esse impacto de conscientização”, explica.

Festival oferece oficinas para alunos de escola pública

Além do projeto do mural, alunos de escola pública no entorno da obra terão a chance participar de uma oficina voltada à arte e educação. Dessa forma, artistas locais ministram as atividades e também desenvolvem, na ocasião, murais colaborativos.

Assim, a oficina terá três etapas de execução. As atividades se iniciam com a exibição do filme “Cinzas da Floresta”. Em seguida, haverá um debate sobre o assunto. Por fim, os alunos participam de uma oficina de pintura com tintas de cinzas, no mural da escola.