Em um mundo “difícil de ser visto”, Saulo de Tarso das Neves Costa, de 62 anos, chama atenção com cores, letras e números gigantes. A profissão, que aprendeu na infância fazendo pequenos e grandes rabiscos, exerce há 30 anos e diz que nunca falta serviço. Há seis, no entanto, o trabalho não é só o sustento, mas, também, uma distração após uma capotagem de carro, em que perdeu a amada esposa.
Saulo fala que trabalha desde muito novo e é de Belém, a capital do estado do Pará. No entanto, mesmo morando há muitos anos em Mato Grosso do Sul, o sotaque permanece, além de um jeito carinhoso ao chamar todos de “fia” e “fio”. Muito educado e acolhedor, eu o abordo enquanto desenha, minuciosamente, as curvas de um zero. É mais um dia de trabalho, em que ele confere o preço do produto pelo celular e dá vida as promoções em cartazes.
Assim que termina, os cartazes já são pendurados em locais de destaque, das grandes lojas de eletrônicos e eletrodomésticos, localizadas na Rua 14 de Julho, shoppings e também em lojas de colchões, as quais ficam perto da antiga rodoviária, em Campo Grande. O engraçado é que Tarso nem termina de uma loja e já recebe as ofertas de outra.
‘Termino uma loja e já recebo a oferta de outra’, diz letrista

“Não falta serviço não fia. Eu termino uma loja e já tem a outra pra ir ou então eu já recebo a oferta do dia seguinte. Na época do Black Friday eu não paro um minuto. E eu gosto do faço. Em Campo Grande conheço só mais um letrista. São poucos. E fico feliz quando chego e me falam: coloquei o cartaz e vendeu bastante cama, refrigerador. Isso é um elogio. Sou grato, bastante grato”, afirmou Tarso ao MidiaMAIS.
O letrista, no entanto, diminui o tom e fala sobre a esposa em poucas palavras. “Eu perdi minha mulher quando o carro capotou na estrada. A gente tinha casa de praia em Belém, eu era feliz demais, criei os filhos dela. Fiquei chateado demais de perder a pessoa que eu gosto, chateado para caramba”, disse.
Agora, mais solitário, porém, seguindo adiante, Tarso ressalta que “vivemos em um mundo onde ninguém enxerga ninguém” e, com faixas e cartazes, faz questão que as pessoas enxerguem o trabalho dele. “Eu sou pintor, letrista, gosto desta brincadeira de cores, letras e números”, finalizou.