‘Brindamos em cima do caixão’: família explica decisão de avô sobre cerveja em velório
Alison foi fotografado alegre 10 minutos antes de infartar durante almoço. Últimos momentos ajudaram a família a conseguir atender o pedido sobre um velório de festa
João Ramos –
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Por trás do homem que pediu que seu velório fosse só alegria, com direito a cerveja e chamamé, havia um marido, pai e avô muito feliz e amado. Com um jeitinho de ser que contagiava as pessoas, Alison Gordim Pedroso deixou um legado maior que o velório com a cerveja – embora este tenha sido seu último ato, ainda que póstumo.
Ao Jornal Midiamax, a família, que vive em Campo Grande (MS), detalha como o senhor de 82 anos era em vida e explica a decisão do idoso em querer que seu velório fosse uma festa.
Com a voz embargada em meio à emoção ao se lembrar do patriarca de quem acabou de se despedir, a neta Beatriz Saltão o descreve:
“Meu avô era uma pessoa bem família, gostava de comemoração. Quando era mais novo, gostava da cerveja dele, sempre foi de festejar e celebrar a vida. Ele gostava de fazer uma brincadeira comigo toda vez que a gente se via, olhava pra mim e falava ‘quem é você?’, eu falava ‘sou sua neta’ e ele respondia ‘ah, é verdade’ e me abraçava”, recorda, emotiva.
“Foi do nada”, neta detalha morte inesperada do avô
Alison teve três filhos, sete netos e era casado há quase seis décadas com Mercedes. Adorado e respeitado, o idoso pegou todos de surpresa com uma partida repentina, inesperada, sem aviso prévio.
“Ninguém estava esperando, ele faleceu de infarto fulminante. Foi do nada, estava entre amigos no almoço, conversando, rindo. Minha avó tirou uma foto e dez minutos depois ele perdeu a respiração. Chamaram o Samu, tentaram fazer massagem cardíaca, mas nada deu certo”, lamenta ela sobre o último sábado, dia 14, data do falecimento.
Segundo a neta Beatriz, apesar da separação abrupta, a forma como Alison partiu ainda é um conforto para a família. Principalmente porque ele estava em festa, do jeito que amava. “Ele estava num lugar que gostava de estar, na loja maçônica, com a esposa, com os amigos, rindo. Então assim, não sofreu. Foi uma morte ‘boa’”, pontua a descendente.
“Brindamos em cima do caixão”: bebidas foram alento em velório
Sobre o velório com cervejas, a neta enfatiza: “Ele pediu isso porque ele gostava, não queria que o velório dele fosse de sofrimento“. E, apesar de não saber que as bebidas chegariam na cerimônia de despedida, Beatriz afirma não ter se surpreendido. “Porque é a cara do meu avô. O velório começou 20h e a cerveja chegou meia-noite. Eu olhei pra minha mãe e falei ‘opa, chegaram os refrescos’.”, brinca, tentando deixar as memórias mais leves.
“Aí a gente brindou. Brindamos em cima do caixão, depois todo mundo pegou um pouco de cerveja e tomou um gole”, conta ela.
Filha de Alison, Sidamaiá também conversa com a reportagem e ressalta que, após sua morte, o pai desejava que todos continuassem sendo felizes. “Era uma pessoa festeira e no velório dele era pra ser igual, porque a vida é assim”, pontua sobre o desejo do líder da família.
“Conseguimos fazer tudo o que ele pediu”, diz viúva sobre velório de Alison
A viúva, dona Mercedes, também faz questão de compartilhar seus relatos e complementa dando detalhes do pedido declarado pelo marido, com quem faria 57 anos de casada no próximo dia 20 de janeiro. “O Alison era uma pessoa muito especial, divertida, que não gostava de tristeza. Contava histórias maravilhosas e nos mínimos detalhes. Sempre falou que quando não morresse não queria o clima triste“, acrescenta ela.
“Uma vez ele me disse assim: ‘quando eu morrer, encosta o caixão do lado, toca polca paraguaia, chamamé e pode encher de cerveja, porque o que eu tinha que fazer, teria feito em vida’, então aconteceu tudo de acordo com que ele pediu. Estávamos felizes porque conseguimos fazer“, finaliza a viúva.
Ressignificando o luto
Alison Gordim Pedroso faleceu no último sábado (14), em Campo Grande (MS) e foi enterrado no Cemitério Santo Antônio. Seu velório, considerado inspirador para boa parte dos campo-grandenses, entrou para a história da família Pedroso, que tem como costume celebrar as vidas dos parentes que se foram durante as cerimônias fúnebres de despedida.
Afinal, ressignificar ou simplesmente tentar amenizar a dor da perda é uma missão ingrata para qualquer família, mas se o gesto vier acompanhado da realização do último pedido do ente querido, a despedida pode ficar mais leve – não menos sofrida.
Em meio ao luto, cumprir o desejo de quem se foi acaba se tornando o último alento para aqueles que ficaram.
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