E, em meio ao “mudar”, a figueira ganhou novo rumo…
Nasceu em meio às palavras e ao concreto
Ali, onde o reto se desviou do que seria certo
A natureza se apresenta
De frente, a nascente, um lugar abençoado
Que ganhou ainda mais graça, com trecho do ‘passarinho’
Não só a ave, que ali depositou semente
Mas, também o artista, que ali embelezou com poema…


Graziela Rezende

Não quero, nem em um raio de mil quilômetros, me comparar ao saudoso Manoel de Barros, mas fato é que o poema dele, estampado na parede do Parque Itanhangá, em Campo Grande, inspira qualquer um e nos faz querer “beber desta fonte”.

A reportagem do Jornal Midiamax esteve no local a convite de uma frequentadora assídua, a qual fez um convite para apreciarmos o fato da planta nascer em um lugar inusitado, no meio do muro e no meio da palavra “mudar”, que compõe o poema do “passarinho”, como também era conhecido o artista.

Muro com o poema de Manoel de Barros (Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

“Passo ali quase todos os dias. O grafite é antigo e, geralmente, estou olhando para o céu ou para a copa das árvores. Enfim, fazia tempo que não olhava para esse muro. Fui surpreendida com essa visão cheia de significado e beleza : uma arvorezinha brotou em uma pequenina fenda, bem em cima da palavra ‘MUDAR’. Resiliência, persistência, força, natureza, simplicidade e esperança”, disse a auditora estadual e observadora de aves, Priscila de Souza Afonso, de 50 anos.

Caminhando no local, a vendedora autônoma Márcia Benitez, de 64 anos, e o marido, também observaram a parede. “É muito raro a gente vir de manhã, aconteceu hoje. Nosso costume é vir sempre a noite, pois, moramos perto. Muito diferente ver a figueira exatamente neste lugar. Acredito ser um espaço abençoado, traz muita paz, ainda mais com a nascente na frente”, comentou.

Na ocasião, o gestor de limpeza trabalhava e disse que existe um simbolismo muito grande no local. “Aqui traz paz, é tranquilo, sossegado, gosto muito de trabalhar aqui. Posso garantir que, do tempo que estou aqui, nenhuma figueira foi plantada e sim outras espécies, então, ali é o caso de um passarinho, que soltou a semente e germinou”, finalizou.

Muro fica de frente para nascente e frequentadores dizem ser um local abençoado (Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Figueiras em lugares inusitados

Conforme botânicos, as figueiras estão entre as espécies mais fáceis de serem encontradas em locais inusitados, como fendas e em paredes, já que são levadas por passarinhos e morcegos, os quais se alimentam e param para defecar.

Em seguida, a semente passa pelo trato digestivo e germina em ambientes secos. As figueiras, no caso, são epífitas e vivem durante todo o ciclo sobre outras plantas, porém, não são parasitas, ainda conforme especialistas.