Há dez anos, Mato Grosso do Sul deixou de ser a moradia de Fernando da Cruz Urias, de 36 anos. Nascido em Dourados, na região Sul do Estado, se mudou com a família para a capital sul-mato-grossense ainda garoto. Mantendo uma vida comum ao lado dos pais e duas irmãs, estudou em colégio público e realizou dois grandes sonhos: se tornar advogado e professor universitário, morando na Europa. Mas, o que parece ser um caminho não tortuoso inclui dois burnout, demissão, calúnia de alunos e muita superação.

No tempo atual que vivemos, chamado de “era da ansiedade”, Fernando ainda está em processo de plena recuperação da saúde mental, mas, ao longo deste período, perdeu 20 kg e teve eczemas (inflamação nas camadas superficiais da pele) nas mãos e pés.

Professor com a equipe da ONG que o alimentava, em Portugal. (Fernando Urias/Arquivo Pessoal)

‘Ia na fila pegar comida e depois seguia para faculdade’

“O primeiro burnout que eu tive foi em decorrência da extensão da pandemia. Achei que ia durar dois meses, mas, durou dois anos e pouco e eu fui demitido no meio deste processo. Estava em Portugal já, não conhecia ninguém e não tinha recursos financeiros, então, tive que me alimentar por uma ONG [Organização Não Governamental] por dez meses. Entrava todos os dias em uma fila para pegar comida e depois seguia para a faculdade, para o meu doutorado. Ali, não falava para ninguém, que eu não tinha dinheiro nem para comer”, relembrou Fernando ao MidiaMAIS.

Na época, Fernando disse que ligou para os familiares, mas, não conseguiu ajuda financeira. “Eu fui me endividando. Saí de um apartamento grande, de um cargo de diretor de tecnologia em Paris e Lisboa e também tinha uma filial em Bruxelas, mas, as coisas não se concretizaram. E é justamente neste período que consegui ser aprovado no doutorado da faculdade de direito da Universidade de Lisboa. Após quatro meses, fiquei em segundo lugar em um processo com outros 29 doutorandos, me tornando professor lá”, explicou.

Esporte ajudou Fernando a superar doenças. (Arquivo Pessoal)

Neste momento, ainda em recuperação do primeiro burnout, Fernando se tornou funcionário público português.

“Ali eu tinha atingido o meu objetivo: professor e advogado especialista em inovação e tecnologia. No entanto, durante uma prova em que grande parte da turma foi mal e eu dei notas baixas, dois alunos se disseram representantes da turma e fizeram uma denúncia falsa no conselho pedagógico da faculdade. Eu estava aplicando a metodologia e o rigor de ensino que ali possui, mas, tudo isso trouxe as ansiedades do meu primeiro burnout novamente”, argumentou.

Pilares: oração, alimentação, atividade física e música

Assim, Fernando fala que teve “somatizações” e conseguiu se recuperar. “O que me ajudou foram quatro pilares, como oração, que eu chamo de meditação através da bíblia sagrada, boa alimentação, atividade física e música. Eu digo sempre que estas quatro coisas me trouxeram de volta nas duas situações e, nesta última, ainda estou no finalzinho da minha recuperação. Tenho ainda dois cortes nas mãos, mas, o apoio dos meus professores orientadores foi essencial e deixou com que tudo isso não se tornasse algo absolutamente maior”, opinou.

Por fim, o professor fala que não quis levar adiante a expulsão dos alunos. “Não quis ficar fazendo escândalo com isso. Não quero ficar famosos por ter feito escândalo sobre isso e sim quero ser reconhecido pela minha tese em prol de países subdesenvolvidos, a começar pelo Brasil”, finalizou.

Fernando está em Paris neste início de 2024, mas em breve retornará aos estudos em Portugal. (Arquivo Pessoal)

(Texto: Graziela Rezende/Arquivo Pessoal)