Muito além do misticismo, os povos ciganos habitam os territórios brasileiros há centenas de anos, sendo o primeiro registro em 1530, com a chegada dos portugueses. Para celebrar a cultura e tradição de um dos povos originários mais antigos do país, a Romani Federação sul-mato-grossense de Cultura e Etnia Cigana promove nesta quarta e quinta-feira (25), a Festa de Santa Sara Kali. Nesta quarta-feira (24), comemora-se o Dia Nacional do Cigano.
Ao longo de dois dias o evento pretende reunir mais de 700 pessoas e promete uma programação recheada de música, arte, dança, leitura de cartas, quiromancia, comidas típicas e literatura. Pedro Nicolich, presidente da Federação e idealizador do evento, explica que a festa tem o propósito de difundir a cultura cigana e é aberta a todos que se interessam em conhecer mais sobre esse povo.
“No primeiro dia vamos celebrar o dia nacional e estadual do povo cigano, no segundo terá uma diplomação e o lançamento de livros, virá um escritor e um membro da Aila (Academia Internacional de Letras e Artes), para ser diplomado, ele ocupa a cadeira nº 22 da Academia de Letras, a nossa Academia foi reconhecida o ano passado em 75 países, é a primeira Academia Cigana de Letras do Mundo”, explicou.
Além de fomentar a cultura cigana, a festa é a oportunidade de desmistificar preconceitos e estereótipos enraizados na população.
“O povo cigano está aqui no Brasil desde 1530 são colonizadores vieram junto com os descobridores portugueses e espanhóis, temos que desmistificar um pouco a cultura e trazer a verdadeira história contada por nós mesmos e não por pessoas que acham que é ser cigano”, disse Pedro Nicolich.
Para o presidente da Federação Romani, uma das dificuldades é fazer com que a população de fora da comunidade entenda que a cultura cigana não se trata de uma religião.
“Na festa temos a parte ecumênica onde podemos mostrar que somos um povo laico, todos os anos trazemos representantes de várias religiões, esse ano será um padre da igreja ortodoxa, com isso queremos desmistificar o que é ser cigano porque muita gente acha que se resume a uma religião”, explicou Nicolich.
Comunidade Cigana em MS
Em Mato Grosso do Sul existem cerca de 400 famílias inscritas na Federação Romani, o que corresponde a cerca de 1600 ciganos em todo Estado, contudo, Pedro ressalta que mesmo dentro da comunidade ainda enfrenta dificuldades para manter a cultura viva.
“A gente sempre procura agregar o povo, mas é difícil até mesmo pelos preconceitos e acaba que o próprio cigano não diz que é cigano. É diferente do negro que a cor da pele aparência física não tem como negar, o cigano ele pode dizer que não é cigano e passa despercebido, às vezes esse falta de informação sobre cultura ou esse preconceito faz com que eles próprios não resgate essa cultura e deixe morrer a tradição”, lamentou.
Serviço: A Festa de Santa Sara Kali será das 18h às 23h na Plataforma Cultural, localizada na Av. Calógeras, n° 3015, no Centro de Campo Grande.
