Os três mil tijolos, comprados com muito esforço, já tinham sido entregues no terreno e o marido de Reni Kehl estava “feliz da vida” porque logo ia começar a construir a casa do casal. Recém-chegado em Sete Quedas, no ano de 1977, foi transferido da fábrica de fogões. Na época, saiu de “mala e cuia” de Soledade, no Rio Grande do Sul, com destino à cidade fronteiriça de Mato Grosso do Sul, levando a família junto.

Ao chegar, Reni e o esposo ficaram contentes com a possibilidade de construir a moradia própria e ali criar o casal de filhos. Juntando dinheiro, adquiriram os tijolos, porém, a inocência atrasou os planos e eles caíram em um golpe.

“Um homem começou a conversar com meu marido, dizendo que tinha uma loja de materiais de construção e estava precisando dos tijolos emprestados e que logo ia devolver. Ele emprestou e o cara sumiu e nunca mais devolveu”, relembrou Reni, hoje aposentada, com 79 anos.

Conforme a idosa, o marido faleceu há cinco meses e aquele ali foi o lar onde eles viveram quase meio século.

“Eu cuidei dele a todo momento, agora são os meus filhos que estão comigo. Nós construímos a vida nesta casa. Era para ser de tijolos, mas, não dava para comprar três mil tijolos duas vezes, então, fizemos de madeira mesmo. Ela é de parede dupla, original, só a pintura mesmo, que já foi refeita umas cinco vezes”, comentou.

Casal pensou em cada detalhe: ‘Passarinhos me visitam até hoje’

Dona Reni cuida carinhosamente das plantas no quintal todos os dias. (Nathalia Alcântara, Midiamax)
Dona Reni cuida carinhosamente das plantas no quintal todos os dias. (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Segundo Kehl, cada detalhe foi pensado por eles. “O muro é de tijolos, esse fizemos depois e meu marido não queria nada muito grande na frente. E eu pensei no jardim, nos passarinhos que visitam aqui até hoje. Alguns inclusive estão entrando e fazendo ninhos. Eu estou sempre aqui cuidando das plantas e vou continuar assim. Quero viver mais uns tempos, se Deus quiser”, disse.

Como o marido viveu acamado nos últimos dois anos, Reni explicou que saía muito pouco de casa, apenas para ir até a farmácia e a igreja. “Agora eu estou tendo um pouco mais de liberdade, indo no médico, apesar de que aqui é bem difícil conseguir um para te atender. E continuo cuidando da casa. Existem muitas de madeira por aqui, acho que é porque as pessoas eram mais pobre antigamente”, opinou.

Paredes envernizadas, piso lustrado e muita organização

Interior da casa de madeira em Sete Quedas (Nathalia Alcântara, Midiamax)
Interior da casa de madeira em Sete Quedas (Nathalia Alcântara, Midiamax)

No interior do imóvel da D. Reni, o capricho é nítido e no dia da visita do MidiaMAIS a casa estava impecável: paredes envernizadas, piso de taco lustrado, além de muita organização. São, ao todo, dois quartos, um banheiro, a cozinha e mais um espaço que também virou parte deste ambiente.

“Eu fico cuidando para cupim não entrar. Mas, eu considero aqui muito fácil de limpar, a parede é dupla. O trabalho maior é lá fora e pensei até em pedir a poda de uma árvore, só que precisa pedir autorização da prefeitura”, finalizou, mostrando a vassoura reforçada que usa na limpeza do quintal.

Veja mais fotos da casa de quase meio século:

Interior do imóvel em Sete Quedas. (Nathalia Alcântara, Midiamax)
Interior do imóvel em Sete Quedas. (Nathalia Alcântara, Midiamax)
Casa de madeira foi construída há 46 anos. (Nathalia Alcântara, Midiamax)
Dona Reni cuidando das plantas. (Nathalia Alcântara, Midiamax)