Esquecido na história, ‘Cabeza de Vaca’ desbravou o Pantanal e agora se torna ópera musical em MS
Personagem medieval esteve no Pantanal sul-mato-grossense, onde teria falado: “Maravilhoso, Mar de Xaraiés”.
Graziela Rezende –
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O Pantanal sul-mato-grossense, na definição de Don Álvar Nuñez Cabeza de Vaca, ganhou o nome de “Mar de Xaraiés”. Desbravador do século XVI, se surpreendeu ao descer do navio e qualificou a região pantaneira como um lugar maravilhoso. Esquecido na história, foi estudado durante a pandemia se tornou uma ópera musical nas mãos do músico Moacir Lacerda, de 72 anos, integrante do grupo Acaba.
Nascido em 1488, o “Cabeza de Vaca” é um personagem medieval que partiu para a América em 1527 e realizou viagem fantástica pelo Novo Mundo, saindo dos EUA (Estados Unidos) até terras brasileiras. Enfrentando muitas dificuldades, ele explorou o território ocupado hoje pelo Texas e estados mexicanos.
Em seguida, conquistou a simpatia de tribos indígenas e continuou o percurso, percorrendo longas distâncias, quando se deparou com o Grand Canyon, no Arizona. Como escritor, Cabeza de Vaca conta que viu um búfalo americano e foi escravo dos índios, como sendo um curandeiro iluminado. Depois, chegou até a Bolívia e ao Paraguai, ficando extasiado diante das Cataratas do Iguaçu. Depois, esteve no Pantanal sul-mato-grossense, onde teria falado: “Maravilhoso, Mar de Xaraiés”.
Autoridade em Assunção, Álvar também sofreu perseguições e contou parte das suas aventuras em Naufrágios.
“Como governador da bacia do prata, é o primeiro homem branco que sobe o Rio Paraguai, no ano de 1542. Eu fiquei dois anos estudando sobre ele, no período da pandemia. E como fiz muitas composições sobre o Pantanal, sempre a partir dos bandeirantes, a partir de 1750, passei a verificar que, muito anotes, 200 anos antes, em 1540, os espanhóis foram os primeiros a chegar aqui”, afirmou Moacir ao MidiaMAIS.
Ao ver o Pantanal, Cabeza de Vaca teria dito: “Maravilhoso, Mar de Xaraiés”
Desta forma, Don Álvar é um importante personagem tanto para o Mato Grosso, Mato Grosso do Sul como o oeste do Brasil. “Foi ele quem deu o nome Laguna de Los Xaraiés e é daí que tem o nome Mar de Xaraiés. Ele andava a cavalo em meio aos índios guaicurus e se tornou um pacificador, diferente de outros desbravadores espanhóis que vieram para matar. Aliás, a primeira referência de direitos humanos, na história, é através dele, então, a partir daí, eu comecei a fazer uma música biográfica para ele chamada Cabeça de Vaca”, comentou o músico.
Após a leitura de cinco livros, Lacerda fala que o personagem merecia não só uma música, mas, uma obra musical, o qual se tornou a ópera, dividida em Vaca América – Hemisfério Norte e Vaca América – Hemisfério Sul. “São 22 músicas, divididas na Opus 1 até a Opus 22. A história começa a ser contada dez anos antes, em 1527, quando ele saiu da Espanha para ser o governador e fundar o vice-reino da Flórida. A Espanha tinha o vice-reino do México, o vice-reino do Peru e o vice-reino da prata. E aí o governo espanhol o designou para fundar e ser o governador”, explicou Lacerda.
Saindo ao lado de 600 homens em cinco caravelas, houve o naufrágio no Golfo do México. “Este homem sobrevive com quatro pessoas, sendo ele, um negro e mais dois espanhóis. O grupo some na história, mas, caminha dez anos, passa por índios canibais e sai andando pela américa do norte até descobrir as montanhas rochosas. Depois, sai caminhando da costa leste até a costa oeste. Retorna para Espanha e é designado para ser o governador da Bacia do Prata e é aí que vem para o hemisfério sul”, argumentou o músico.
Além da ópera, projeto inclui livros e cantata
Além do Grupo Acaba como convidado, Moacir diz que músicos como Tetê Espíndola, Aurélio Miranda e Pedro Ortale também participam do projeto.
“É um trabalho muito inédito e ousado. Não tivemos incentivos, mas, buscamos compartilhar a ideia e agora existem dois livros sendo escritos e ilustrados, para crianças e adolescentes, além de um livro em quadrinho sobre o personagem e projetos futuros, como uma cantata”, disse.
De acordo com Lacerda, o Cabeza de Vaca é um “cara esquecido”. “Os livros de história passam por cima dele e é um personagem principal, que desbravou as américas, é também significativo para o pantanal”, finalizou.
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