É na curva para o tão procurado Morro do Paxixi que ela se revela. De fachada extremamente simples, cor amarelada pelo tempo e antiga logo dos Correios, está a agência de Aquidauana, a 140 quilômetros de Campo Grande. Proprietária do local, a aposentada Ana Maria Matos Pinheiro, de 60 anos, trabalhou por anos na agência e hoje deixa aos cuidados de uma amiga. É lá que a funcionária, agora pelo WhatsApp, comunica quem ansiosamente ainda aguarda por cartas, correspondências e entregas.

“Em 2002 aqui funcionava uma mercearia e o prefeito na época perguntou se poderíamos tocar uma agência dos Correios. Ficou um tempo tudo junto, até que ficou só a agência depois. Eu fiquei 16 anos fora, mas, os móveis meus antigos permaneceram todos aqui, inclusive os que eu cedi para a agência”, afirmou ao MidiaMAIS a aposentada.

Segundo D. Ana, como sempre foi chamada pelos clientes dos Correios, as prateleiras da mercearia deram lugares a números, onde até hoje são colocadas as correspondências e outras entregas. Além disso, existiam caixinhas postais numeradas, em que as pessoas procuravam cartas e encomendas.

Ana mora no mesmo terreno onde está a agência dos Correios. Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax
Ana mora no mesmo terreno onde está a agência dos Correios. Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax

“Até hoje passam de duas a três vezes por semana entregando as coisas aqui e também levam no distrito de Piraputanga e Camisão. E aí tinha gente pedindo para abrir fora de hora. Na minha época, sempre abria e pegava, mas, não passava o telefone para todo mundo, senão nem tinha privacidade. Hoje o pessoal respeita mais, só vem quando está aberto mesmo”, explicou.

‘Tem gente que gosta mesmo é de cartas’, diz aposentada

Sobre as cartas, Ana fala, de maneira saudosa, que muitos aquidauanenses aguardavam e ainda aguardam por cartas de amor, de parentes que moram longe e até de amigos. “Mesmo com esta questão do e-mail, esta modernidade toda, muita gente não é adepta e ainda usa aqueles celulares antigos. Não vou dizer que pararam no tempo, é que gostam mesmo de receber carta, gostam de ler e ainda tem gente adepta a isto”, argumentou.

Aposentada diz que madeiramento da casa chegou de trem. Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax
Aposentada diz que madeiramento da casa chegou de trem. Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax

Quando cartas não chegavam, Ana comentou que “compartilhava da agonia” com as pessoas, muitas delas amigas. “A pessoa falava: ‘Fulano não me escreveu. Quero saber como estão os meus netos’. E aí, quando chegava algo, eu já ligava correndo e avisando. Agora tá mais fácil, a Mara [atual funcionária dos Correios] manda mensagem e a pessoa chega rapidinho”, explicou.

No entanto, ainda de acordo com a Ana, o que predomina atualmente não são as cartas, mas, as encomendas. “As pessoas fazem muitas compras online”, comentou.

Agência tem ‘tijolo Adobe’ e madeiramento que chegou de trem

Sobre o imóvel, Ana fala da construção feita em Adobe, um tijolo histórico, considerado um dos mais antigos do mundo. “A placa é a mesma, original. Aliás, tudo aqui está igual desde 2002 e acho sim que merece uma reforma. É bem antigo. Um imóvel ainda dos tempos do tijolão Adobe, que falam que nem tiro passa. E eu ainda passei o reboco em cima. Também tem o madeiramento que, na época, veio de trem de Ponta Porã”, finalizou.

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