Cama de pneu improvisada é onde Hemerson deve passar o Natal: ‘Pior época do ano para mim’

Viciado em drogas desde a infância, Hemerson tentou largar vício inúmeras vezes e agora está em situação de rua

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Casa feita por Hemerson possui panos, paus e um carrinho de mercado com peças de roupas. (Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Os finos panos chacoalhavam e chegaram a envergonhar Hemerson Martins Pereira, de 39 anos, quando demos a volta e o vimos deitado em uma cama feita com seis pneus velhos e um colchão finíssimo e rasgado, além de uma coberta. Nos últimos quatro meses, este é o lar do borracheiro, que fica no cruzamento da Rua 15 de Novembro com a Avenida Ernesto Geisel, em Campo Grande. Mantendo a cidadania, se apresenta e diz pra não esquecer que o nome é escrito com “H” no início, porém, logo demonstra tristeza pelo vício e por estar na época em que considera a pior do ano.

Hemerson diz que a condição de morador de rua é recente, porém, o contato com as drogas começou quando tinha apenas 12 anos. “Eu morava em Ponta Porã e meus pais de separaram. Minha mãe e minha irmã ainda moram lá. Elas me querem bem, só que também bem longe delas. E eu vim para cá com sete anos. Meu pai casou de novo e tenho dois irmãos por parte dele. Aliás, uma só, porque meu outro irmão morreu tendo overdose de cocaína no quarto”, contou.

Hemerson experimentou droga aos 12; irmão morreu de overdose

Hemerson diz que tem vontade de ir para outra cidade e recomeçar. (Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)
Hemerson diz que tem vontade de ir para outra cidade e recomeçar. (Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Na ocasião, Hemerson diz que não estava em casa, mas, sabe exatamente a cena porque sempre o alertava. “Estava meu pai na sala. A mãe dele em outro quarto e a namorada na cozinha, enquanto ele estava cheirando no quarto. Eu falava pra não mexer com cocaína, pra fumar pedra, crack que fosse, mas, não cocaína. Só que não teve jeito. Ele teve um surto dentro de casa, tinha um copo de vidro que quebrou na mão dele e ficou cheio de sangue o quarto. Dia 21 de dezembro agora vai fazer quatro anos”, relembrou.

Mesmo o foco do assunto sendo a casa improvisada, Hemerson insistiu em contar um pouco mais da sua história. “Eu tinha 12 anos quando fumei maconha e depois fui experimentando outras drogas. Sou dependente químico, viciado em crack. Não conto com a ajuda de ninguém. Mas, uma coisa eu digo. Não sou ladrão. Morro de medo de ser preso e já me ofereceram, mas, nem pra vender droga eu presto. Sou soldador na carteira de trabalho, mas, minha profissão mesmo é borracheiro. Trabalho aqui na frente e na outra quadra”, disse.

‘Já procurei ajuda várias vezes’, diz borracheiro

(Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Ali, na “casa” onde está morando, diz que se sente envergonhado, principalmente pelas duas filhas e o pai. “Só que eu não consigo sair daqui e nem sair do vício. Não aguento mais usar droga, só que também não aguento mais ficar internado. Eu, particularmente, acho perda de tempo. Eu cheguei a procurar ajuda, sou muito grato mesmo ao pastor Milton, da Clínica da Alma, mas, não consigo ficar preso. Tive oportunidades lá, mas, não quero ficar preso. Eu gosto do meu trabalho”, ressaltou.

Neste período de Natal, no entanto, nem o trabalho o deixa contente. “É a pior parte do ano para mim. A véspera então, nossa, é terrível. No dia do Natal mesmo nem tanto. Mas, antes sim. É uma época de confraternização, de comemoração em família e eu não tenho isso. No dia 31 também. Parece que algo novo vai acontecer, mas, na verdade nada, porque depende de mim. Eu já fui casado, mas, também a larguei porque já a fiz sofrer demais. E o mesmo era o mesmo: não conseguia ficar preso em casa, dava oito horas da noite já queria sair. E aí fico aqui, mas, falo com minhas meninas todos os dias. Acho que ainda estou vivo por isso, porque não atraso o lado de ninguém, não incomodo ninguém”, finalizou.

(Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Quem quiser ajudar o Hemerson, pode ir pessoalmente no local, porém, ele diz que não fica ali a todo momento e sim na borracharia, que fica na frente. Ele também repassou o número de telefone, que é (67) 99126 – 2006.

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