Foi só pegar o telefone do conserto que a ligação veio e o amigo logo disse: 

“Oi Eli. Deixa eu te perguntar…você passou em uma loja para comprar uma cama para o João?”. 

E o pedreiro Elidiner de Camargo, de 35 anos, então respondeu:

“Ué, como você sabe?”

E o amigo falou:

“Rapaz, não só eu, como Campo Grande inteiro tá sabendo. E acho que o João ganhou essa cama. Vai lá na loja ver, que eu acho que ele ganhou cara…

E foi assim que, setenta e um dia depois, Eli reapareceu na loja, na região central de Campo Grande, onde ficou sabendo da mobilização e do presente que o filho tanto queria: a caminha do Relâmpago McQueen, do Carros. Veja vídeo do pedreiro e a família logo abaixo.

Tudo começou no dia 5 de novembro de 2021, quando Eli esteve na loja, na rua 14 de julho, em Campo Grande. Na ocasião, a vendedora Letícia Gomes Espíndola, de 24 anos, o atendeu e ele disse que gostaria de fazer o crediário, parcelando a dívida em cinco vezes e apontando para a caminha que estava na vitrine. 

“Eu comentei que o meu filho gostava muito dela [da cama]. A gente passava ali direto e ele sempre me pedia. Na última vez, ele estava com umas moedinhas na mão, que a mãe dele tinha dado para ele. Quando passamos na frente, ele me apertou e disse que já tinha o dinheiro para comprar a cama, mostrando as moedas. Eu falei: ‘Não meu filho, mas isso não dá não'. E aí disse pra ele rezar, para Deus abençoar, que ia dar certo, porque eu ia entrar lá e fazer o crediário”, afirmou ao Midiamax o pedreiro. 

Ao entrar na loja, o menino logo foi em direção a cama e ficou lá brincando deitado. Desapontado ao saber que a loja não oferecia mais crediário, ele foi embora após cerca de 20 minutos. Naquele período, a vendedora relembra que brincou muito com o João Guilherme e ficou muito sensibilizada com o fato do menino querer tanto aquele objeto e o pai não poder comprar. 

Vendedora fez vaquinha com amigos para ajudar pedreiro

Foi aí que Letícia acionou os amigos, pediu desconto ao proprietário da loja e, em menos de uma hora, conseguiu arrecadar o valor para comprar a caminha. “O que era mais difícil, a princípio, a gente conseguiu. Um amigo meu até de outro estado ajudou também, só que eu não consegui mais contato com o Eli. Ele não atendia o celular e a única coisa que eu sabia dele era que foi com o João Guilherme na loja e vestia um uniforme alaranjado, com o nome da empresa”, explicou Letícia. 

Foto: Reprodução/

Desta forma, a jovem apelou para as redes sociais e fez um post procurando por Eli. “Foi uma coisa fora do comum o alcance. Lembro que recebi uma ligação do Pará, de uma senhora dizendo que estava orando para ele ser localizado. Teve memes também, muita gente mesmo ajudando a procurar. Só que passou um tempo, não achamos mais ele e foi engraçado que teve até quem duvidou se a história era mesmo verdade. E aí eu entrei de férias e o dono colocou a cama novamente à venda, só que, mesmo assim, eu não tinha desistido de encontrá-lo”, argumentou.

De férias em (PR), Letícia foi surpreendida com a ligação de outra vendedora. “Ela falou: ‘você não sabe quem veio aqui na loja…o Eli'. Meu coração se encheu de felicidade, eu contei para todo mundo que tinha ajudado. Só que, é até engraçado falar isso, essa caminha que ficou um tempão parada na loja, foi colocada para venda novamente e foi vendida. Só que aí eu conversei com o dono da loja e o irmão dele, que tem uma loja do mesmo ramo, tinha uma cama igual no estoque. Foi muita sorte, só tinha mais uma”, contou.

O preço, no entanto, tinha sido alterado e eram necessários mais R$ 300. “Nós voltamos a fazer a vaquinha e compramos a caminha. Eu voltei a trabalhar, o Eli foi lá e desta vez eu anotei tudo, endereço dele, telefone, peguei todos os detalhes, tudo certinho. Conseguimos o montador também e nós montamos e entregamos a caminha, nesse sábado (15). Tenho certeza que foi Deus quem cruzou os nossos caminhos e fico muito feliz em fazer parte desta história”, comemorou Letícia. 

Vários acontecimentos conspiraram contra, brinca pedreiro

O pedreiro Eli brinca que uma série de coisas “conspiraram” contra ele não saber desta história, mas, teve a boa notícia na hora certa e agora o filho e a família toda está muito feliz. 

“Eu fiquei admirado mesmo, de ninguém falar nada na empresa, porque todo mundo me conhece, todo mundo sabe que eu sou o Eli. Só que, em seguida, eu fui dispensado da obra que eu estava. Fui para outra, meu filho ficou doente, teve febre várias vezes, não queria comer, beber, e ninguém soube explicar o que era. Diziam que podia ser algo emocional e eu tenho certeza que era”, explicou. 

Pai de outras duas crianças, sendo uma menina de dois anos e outra de oito anos, que é autista, Eli fala que acredita que agora as coisas vão melhorar. “Falaram que essa história deu até na rádio, na televisão, só que lá em casa a televisão fica ligada no desenho, por conta da minha filha mais velha. A gente nem vê outra coisa. Aí teve o celular, a mudança de emprego, meu filho doente. Acho que foi tudo isso, mas, agora ele já ganhou a cama, com o colchão ainda, e está tudo bem, graças a Deus. Foi uma ajuda muito grande, acho que quem doou não faz nem ideia, mas, ele queria muito mesmo”, afirmou. 

A esposa de Eli, a dona de casa Elis Valence, de 38 anos, acredita que a fé do menino é que o levou a ganhar este presente. “Ele é um menino de muita fé, mesmo pequeno, em vários momentos, eu percebo isso. Acho que começamos muito bem o ano de 2022 e a gente espera que seja assim sempre”, finalizou.