Tempestade de areia que “engoliu” Campo Grande há 1 ano também causou estragos psicológicos, além dos danos materiais. Exatos 12 meses após o fenômeno da natureza devastar a Capital de Mato Grosso do Sul, alguns moradores ainda fazem terapia para se livrar do trauma adquirido.

É o caso do pequeno Benjamin, de 6 anos, que ainda não superou completamente o medo que sentiu naquele dia 15 de outubro de 2021. Ao Jornal Midiamax, a mãe do garoto, Franciélli Silva, de 37 anos, relata a saga para que o filho vença a situação.

Ela conta que estava em casa com Benjamin, no bairro Coophatrabalho, porque ele não tinha aula naquele dia. “Fechamos tudo e ficamos na sala. Começou a ventania e já ficamos sem luz, muito barulho, parecia que o telhado iria levantar, meu filho ficou no sofá encolhido se protegendo e então vimos o tempo escurecer”, inicia a mãe.

“Ele ficou muito nervoso, chorou bastante e pediu para dormir, como uma maneira de fugir do medo. Em casa, não aconteceu nada, ficamos sem energia até às 18h. E como sempre fazemos, assistimos ao jornal e ele viu muitas imagens de estragos pela cidade. Depois desse dia, ele não quis mais ir para escola, chegava na escola e chorava muito. Em casa, não queria sair do quarto, fechava a janela, ficava no escuro”, relata Franciélli em conversa com o Midiamax.

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Em minutos, a tarde virou noite em Campo Grande – (Fotos: Reprodução/YouTube)

Tratamento

Percebendo que o comportamento do filho tinha mudado, a mãe logo buscou um especialista. Após 15 dias muito difíceis pelo trauma causado pela tempestade de areia, Fran marcou um pediatra.

“Uma criança feliz, alegre e comunicativa tinha ficado retraída e com muito medo. Nesse dia, para sair de casa, contei com a ajuda da minha mãe, explicamos que não iria chover, tivemos que mostrar no celular o Climatempo”, relembra.

A pediatra os encaminhou imediatamente para uma terapeuta de comportamento. “Ela me explicou que o Benjamin precisa aprender a amadurecer o sentimento, que ficou muito confuso no dia da chuva, pra uma criança de 6 anos é muito difícil compreender que foi um evento”, comenta Franciélli. “Fiquei sabendo que aconteceu com idosos também”, completa ela.

Fran e Benjamin, moradores do bairro Coophatrabalho em Campo Grande - (Foto: Arquivo Pessoal) tempestade de areia
Fran e Benjamin, moradores do bairro Coophatrabalho em Campo Grande – (Foto: Arquivo Pessoal)

Resultados

Benjamin iniciou a terapia em novembro de 2021 e teve bons avanços com o tratamento. “Faz um ano que o meu filho faz terapia, hoje ele já consegue sair, se sente mais seguro, fica com um pouco de receio quando o tempo muda. Mas se sente mais corajoso”, afirma a mãe, contando que Benjamin teve uma rede de apoio: a família, amigos, vizinhos e escolas ajudaram.

“Está prestes a receber alta do tratamento, mas estamos fazendo tudo com a certeza de que não haverá grandes sequelas na vida adulta, como traumas e medo, que ele saiba lidar com os sentimentos. E eu aprendi a lidar, falo a verdade quando vai chover e que vai ficar tudo bem, ele se sente seguro. A escola e os amiguinhos da sala dele também foram muito importantes para o tratamento ser 100%”, comemora.

Mais um trauma por tempestade de areia

O caso se repetiu com outra criança. O filho de uma moradora das redondezas de Campo Grande, que prefere não ser identificada, também ficou traumatizado pela tempestade de areia.

“Eu morava numa chácara perto daqui, foi aterrorizante. Meu filho, hoje com 4 anos, ficou abalado psicologicamente e até hoje lembra e tem pavor de chuva, vento, trovão e raios. Ele entra em desespero na hora da chuva”, relata ela.

Fran, a mãe de Benjamin, diz que a terapeuta foi muito precisa e é muito grata pelo carinho que ela teve em todas as sessões. “Eu chorava escondido cada vez que via o meu filho nessa situação, ouvi por diversas vezes ele dizer que não gostava de sentir os ventos tocarem o corpo dele. A lição que fica é que não podemos subestimar o medo e, se preciso, tratar”, finaliza ela.

Tempestade de areia em Campo Grande

Dias sem energia elétrica, casas destruídas e mais de 150 árvores derrubadas pela força da natureza. A visibilidade na tarde daquela sexta-feira ficou reduzida para apenas 800 metros enquanto a tempestade de areia passou.

O poder público agiu e 460 servidores foram convocados para atender a população. Mais de 60 caminhões também foram disponibilizados para ajudar a reparar os danos e permitir com que todos voltassem às suas rotinas.

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