Rua Daniela Perez em Campo Grande carrega mistério sem resposta: ‘nunca saberemos’
História de Daniella Perez, semelhança com local do crime e mistério que nunca será revelado pairam sobre a Rua Daniela Perez em Campo Grande
João Ramos –
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Paralela ao Centro Universitário Anhanguera de Campo Grande, no Residencial Betaville, a Rua Daniela Perez carrega uma história que, pelo visto, será sempre um mistério.
São cerca de 900 metros de extensão, divididos em duas partes. Uma delas, a mais crítica, inclusive, lembra o local onde a atriz Daniella Perez, filha da autora de novelas Glória Perez, foi assassinada no Rio de Janeiro, em 1992.
Mas, quanto ao endereço de Campo Grande no Betaville, quem é a “Daniela” que dá nome à via? O Jornal Midiamax investigou e encontrou a resposta de parte desse mistério.
Ninguém sabia
Antes de chegar a alguma conclusão, a reportagem do MidiaMAIS procurou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Semadur), que, por meio da Prefeitura Municipal de Campo Grande, respondeu que os nomes dos logradouros públicos, em loteamentos privados, são apresentados pelo loteador, cabendo à Prefeitura apenas analisar a questão de duplicidade de nomes. Portanto, não sabiam informar a qual “Daniela” a rua faz menção.
Quando tratam-se de homenagens, é necessário verificar junto à Câmara Municipal de Campo Grande, órgão que encaminha o nome sugerido para o logradouro para que a Prefeitura analise também a duplicidade.
Procurada pelo Midiamax, a Câmara Municipal verificou e não encontrou nenhum projeto de lei que propusesse o nome “Daniela Perez” para uma rua na Capital. Sendo assim, só o loteador teria resposta. A reportagem então apurou e encontrou os donos do loteamento que contempla o Residencial Betaville. Foi então que, em conversa com o MidiaMAIS, a administradora Ana Lucia Nachif revelou o que todos já esperavam.
“É aquela mesma”
A dúvida pairava por conta da grafia, já que no Google Maps, por exemplo, a via é identificada como “Rua Daniela Péres”, enquanto pelo CEP e em outros sistemas, o mesmo local é nomeado como “Rua Daniela Perez”. Mas dona Ana confirmou: “É aquela mesma, a Daniella assassinada”.
Conforme a lei 74/2005, o logradouro existe no Residencial Betaville desde que o bairro nasceu.
Apesar de ter sido registrada com a escrita errada, ficou confirmado que sim, a Rua Daniela Perez em Campo Grande é uma homenagem à atriz e bailarina Daniella Perez, assassinada há 30 anos pelo colega de trabalho Guilherme de Pádua.
Daniella era filha da autora Glória Perez, reconhecida por ter escrito novelas de estrondoso sucesso como “O Clone”, “Caminho das Índias”, “Salve Jorge”, e atualmente no ar com “Travessia”, todas da TV Globo.
No auge de seus 22 anos, Dani brilhava interpretando a personagem Yasmin em uma novela de sua mãe, “De Corpo e Alma”. Na obra, fazia par romântico com o ator Guilherme de Pádua, o Bira, que veio a se tornar seu assassino na vida real.
O assassinato
Obcecado pela fama, Guilherme de Pádua começou a se aproximar de Daniella mais do que deveria, por ela ser filha da autora da novela. O processo, resgatado em julho deste ano pela série da HBO Max, “Pacto Brutal”, revela que o ator assediava Dani na tentativa de convencê-la a influenciar a mãe a lhe dar mais destaque no folhetim, em 1992.
Dani não correspondia às investidas, deixando Guilherme preocupado. Até que ele recebeu um bloco de capítulos e notou que não aparecia em dois. O assassino entrou em desespero e pensou que a colega pudesse tê-lo denunciado para a autora.
Posteriormente, Glória explicou que a não aparição de Guilherme naqueles episódios foi motivada pelo corte de um plot de sequestro a pedido da Globo, do qual ele participava. Glória também revelou que a filha jamais contou sobre o assédio que sofria.
Vítima de ritual satânico
Com base nos autos do processo, no dia 28 de dezembro de 1992, Guilherme de Pádua e sua esposa Paula Thomaz emboscaram Daniella, a desacordaram e a levaram para um matagal. Lá, desferiram 18 golpes de punhal no tronco e no pescoço, sendo que o coração da atriz e bailarina ficou exposto.
Naquele mesmo dia, os atores passaram horas gravando as cenas do término do casal Yasmin e Bira na novela. Na cabeça do assassino, Dani o tinha denunciado. Então, ao final do expediente, o ator e a esposa agiram.
O processo aponta indícios de que Daniella foi vítima de um ritual satânico macabro e que Guilherme e Paula a mataram por cobiça, ganância e inveja, conforme declarou o juiz na sentença.
Condenados, eles cumpriram parte da pena e logo foram liberados. Guilherme hoje atua como pastor em Belo Horizonte e Paula vive no Rio de Janeiro, nas redondezas de Glória Perez, a mãe da vítima, que lutou e ainda luta para preservar a memória da filha.
Confira uma das primeiras reconstituições do assassinato:
O crime comoveu o Brasil e é lembrado até hoje, especialmente após a repercussão da série documental da HBO Max.
Dani foi morta enquanto a novela ainda estava no ar. Para justificar a ausência da personagem da filha, Glória Perez escreveu que Yasmin ganhou uma bolsa de estudos e foi estudar no exterior. Já o Bira de Guilherme de Pádua nunca mais foi mencionado e simplesmente sumiu.
A autora fechou um acordo com a Globo combinando que a obra jamais seria reprisada em hipótese alguma. No último capítulo de “De Corpo e Alma”, uma homenagem para Dani foi exibida antes do encerramento. Veja:
Por que Campo Grande tem uma Rua ‘Daniela Perez’?
Este é o mistério que não tem resposta. Proprietária do loteamento onde a rua está localizada, no Residencial Betaville, Ana Lucia Nachif explica ao Jornal Midiamax que foi seu marido, Nelson Nachif quem deu o nome. “Mas ele faleceu há três meses, não dá nem pra perguntar”, lamentou.
Nelson partiu e levou consigo o motivo da escolha do nome de Dani para a rua, mas Ana tem um palpite. “Acho que foi procurando. Porque quando a gente compra um lote, tem que colocar nome nas ruas e mandar pra Prefeitura aprovar, como precisava preencher tudo aquilo, ele foi colocando. Mas é algo que nós nunca vamos saber”, comentou.
O curioso é que o endereço no Residencial Betaville tem um trecho que lembra o matagal onde a atriz foi assassinada, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Em Campo Grande, a via conta com uma parte asfaltada e outra de terra, cercada por dois terrenos baldios.
O loteamento de dona Ana Nachif corresponde ao pedaço com asfalto, que termina na esquina com a Rua Brigadeiro Tiago. O trecho não asfaltado, no entanto, também leva o nome de “Daniela Perez”. Veja:
Um dos terrenos ao redor da via estava podado e limpo na manhã desta quinta (20), quando a reportagem do Midiamax esteve no local. Duas moradoras que passavam por ali denunciaram a situação, afirmando que um morador se responsabiliza por cuidar da área que, segundo as mesmas, é particular. “Ele limpa pra isso aqui não virar lixão, jogam de tudo aqui”, disseram as duas.
Mistério sem resposta
O logradouro, que termina na esquina com a Avenida Gury Marques, além de carregar a história de Daniella por levar seu nome, também é cercado do mistério a respeito do motivo que levou o sr. Nelson Nachif a tê-la escolhido para batizar a via.
Em Campo Grande, a Rua “Daniela” Perez não passa despercebida, seja pelo problema urbano e por ligar o Betaville à Gury Marques, ou por simplesmente remeter à tão querida Dani que, antes de ter sua vida brutalmente interrompida pela ganância alheia, chegou a ser considerada a “nova namoradinha do Brasil”. Há 30 anos.
Assista abaixo uma das últimas entrevistas de Daniella Perez:
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