“Liberdade de expressão é para garantir a existência de minorias sociais e não para alimentar discursos que pregam sua extinção”. A fala é do cientista político sul-mato-grossense Daniel Ramos, que avaliou a fala do youtuber Bruno Aiub, o Monark, como uma postura comum atualmente na política brasileira. 

“Uma postura que se tornou muito comum na política brasileira nos últimos tempos, acentuada pelas redes sociais, de tomar posições supostamente polêmicas em nome de uma ideia equivocada de liberdade”, disse ele ao Jornal Midiamax. Segundo Daniel, a proibição do nazismo não é um assunto polêmico “para qualquer pessoa séria”. 

Porém, com a postura citada pelo cientista, o assunto virou uma questão de opinião, justamente por conta da ideia equivocada de liberdade. Na verdade, a liberdade de expressão seria para garantir que as minorias sociais fossem ouvidas. “Já não é acesso a informações que faz diferença nesse caso”, comentou. 

Nesta semana, Monark defendeu a existência de um partido nazista na lei brasileira. Na ocasião, eram entrevistados os deputados federais Kim Kataguiri (Podemos) e Tabata Amaral (PSB). 

O vídeo repercutiu e resultou em perdas de patrocínios e até mesmo um pedido de desculpas nas redes sociais de Monark. Em vídeo, ele tentou se justificar insinuando estar bêbado e pediu a compreensão de todos. A Estúdios Flow desligou o youtuber e removeu o episódio 545 — onde o fato aconteceu — da plataforma.

Por que defender o nazismo não é liberdade de expressão?

Para Daniel, as pessoas poderem falar o que quiserem — de modo inconsequente — já é uma prova de que há liberdade de expressão, que garante uma diversidade de opiniões na sociedade. Porém, a problemática está no teor das opiniões.

“Se alguém defende uma ideia cujo núcleo é o cerceamento do outro, isso não é liberdade de expressão, isso é ameaça”, opinou o profissional.  Defender a volta do nazismo carrega o peso de cerca de cinco milhões de judeus e outras vítimas mortas no holocausto.

Sentimento de frustração

Para o historiador e professor mestre, Roberto Figueiredo, a fala do podcaster “choca” ao passo que causa um sentimento de frustração, pois mostra que, de alguma forma, o debate histórico não conseguiu mostrar a todos as atrocidades do nazismo.

“Me choca e me culpa, a gente se sente um pouco culpado porque parece que nós não ensinamos a história real, nós não mostramos os horrores que é uma ditadura e suas consequências. (Sinto) um pouco de frustração, que não conseguimos mostrar as consequências de uma realidade”, diz  o professor.

Um dos argumentos que embasaram as falas de Monark foi uma suposta liberdade absoluta. Ele se diz a favor de um partido nazista porque, assim, a sociedade daria luz a um naco social e essas pessoas arcariam com a responsabilidade daquilo que resolveram viver e pregar.

Sobre esse ponto, o historiador é taxativo. “Nossa fala pode trazer consequências além da minha culpa. A democracia é o único regime que permite falar mal dela dentro ela, porque o dia em que ela proibir, ela não está sendo uma plena democracia. Porém, tenho a liberdade de defender a matança? Liberdade é dentro da lei. Existe uma lei clara criminalizando o nazismo”.

A ideia expressada por Monark foi endossada por um dos deputados presentes, Kim Kataguiri (Podemos), que também levando em conta a ideia de que assumir-se nazista colocaria a sociedade naturalmente contra ele. “Mais grave foi a presença de dois deputados no programa. Ele deveria ser retirar porque é um crime. Eu posso até levar para o plenário dentro de um contexto democrático. Nesse momento ele estava a favor de um crime”.

Sobre o espaço para criação de um partido nazista, ou qualquer ideologia que orbite esse conceito, em um país democrático do mundo atual, o professor Roberto cita novamente os limites da liberdade na democracia. “A democracia tem que tomar cuidado e tudo aquilo que pode acabar com ela deve ser impedido. Existe clima realmente para pleno século 21, um regime que prega a supremacia de raça, a eliminação de ouros povos?”.