Nome de ditador do Paraguai até assusta, mas ‘Solano Lopes’ é exemplo de bom marido, junto há 73 anos da companheira
Francisco Solano Lopes está casado há 70 anos com dona Hipólita e garante que nunca brigou e nem sequer “olhou torto” para companheira.
Graziela Rezende –
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A grafia pode até ser um pouquinho diferente, mas o nome é exatamente igual ao do ditador que invadiu o Brasil e deflagrou a Guerra do Paraguai, há cerca de 150 anos. Só que, embora a mesma alcunha, Francisco Solano Lopes, de 91 anos, é puro amor. Casado há 70 anos com dona Hipólita Centurião Lopes, de 88 anos, garante que nunca brigou e nem sequer “olhou torto” para companheira. O segredo? Diálogo e respeito, ele diz.
O casal chegou em Campo Grande há quase meio século e se instalou no populoso bairro Aero Rancho. É fato que a cidade não possui um ranking dos mais antigos, porém, se tivesse, Francisco e Hipólita com certeza estariam lá. Onde moram, são conhecidos como o casal que mantém as raízes, fala guarani, é muito religioso, gosta de “carne com mandioca” e não deixa de fazer comidas típicas paraguaias, aliás, dizem ser este um dos segredos de longevidade.
“Nós estamos há 73 anos juntos, se juntar o tempo de namoro e casamento. Eu sou de Porto Murtinho e, naquela época, fui até uma fazenda no município de Caracol, para trabalhar com meu pai. Quando cheguei, estava tendo a festa de aniversário da minha mulher e dançamos pela primeira vez. Fiquei encantado. Eu tinha 18 e ela 15”, afirmou Francisco ao MidiaMAIS
Três anos depois, no dia 1° de novembro de 1948, o casamento selou a união que rendeu 11 filhos, 23 netos, 16 bisnetos e gerações inteiras que ainda saberão desta linda história de amor. No caso dos filhos, 10 estão vivos, sendo 7 homens e 3 mulheres. Algo curioso é que 4 são gemêos bivitelíneos e a cria permanece toda por perto, morando no mesmo bairro ou então em regiões próximas, como no Parati e Coophavila.
No Exército, comandante chegou a perguntar se Francisco Solano não queria mudar o nome
“Antes de me casar fiquei no Exército um tempo, onde até o superior quando viu meu nome assustou e perguntou se eu não queria mudar, só que não aceitei. Foram meus pais que escolheram. Sou filho de paraguaios, raça pura. Tenho orgulho disso. Depois trabalhei em fazendas em Bela Vista e, por último, vim para Campo Grande com os meus filhos. Aqui eles foram se desenvolvendo e eu, por mais de 20 anos, fui funcionário no período noturno, na portaria, no antigo colégio Perpétuo Socorro. Lá vivi um episódio que surpreendeu os professores e até me fizeram um convite para ensiná-los depois. Estudei somente até a 8° série, só que aprendi muito bem o guarani”, relembrou.
O episódio que Francisco se refere é inesquecível na mente dele. “Foi colocado um cartaz no mural com umas figuras e frases em guarani. Os professores estavam passando, indo guardar cadernos do ensino médio, na coordenação, quando eu perguntei: ‘Alguém sabe me falar o que está escrito aqui?’ Perguntei para outro também e ninguém sabia. Um até falou que sabia inglês, mas, o que estava ali não. Foi quando eu falei que era guarani e eles ficaram admirados, me pediram para ensinar o idioma ali”, comentou.
Francisco fala, recita poesias e toca músicas em guarani, como forma de preservar cultura
O guarani, o “mais antigo”, como seu Francisco diz, é idioma cultivado por ele desde a infância. “A minha esposa e filhos entendem o que estou falando, só que não conversam entre eles. Ela [apontando para esposa] entende mais ainda. É uma mulher muito forte, que foi muito bem criada pela madrinha. É uma mistura de pai gaúcho com mãe índia e por isso tem esses olhos lindos”, brincou.
No bairro, quando comparecem em eventos, seu Francisco fala, todo sorridente, que eles sempre escutam que são o “casal mais pontual e também o mais bonito do bairro”. “Eles não se entregam fácil e dizem que isso é típico da raça paraguaia. Meu pai até costuma brincar com isso. É um homem de muita resignação e fé e que, a qualquer momento do dia, está sempre bem arrumado, limpo e cheiroso. Ele tem uma cardiopatia e usa aparelho para ouvir. Já mamãe é uma mulher inspiradora, brava às vezes, mas que tem um coração gigante e costura até hoje. É uma renda extra para ela”, comentou a filha caçula, Gisele Lopes, de 46 anos.
Além das costuras, as comidas preparadas pelo casal também são apreciadas pela família e os conhecidos, na região sul da cidade. “Faço chipa, sopa paraguaia – a verdadeira – além de canjica, que é o locro. Só que o queijo que fazem hoje é muito diferente do de antigamente, assim como a linguiça. Eu conheço a verdadeira, que usa carne mista e é temperada apenas com alho, vinagre e pimenta. Sei fazer manteiga, farofa e charque também. Aprendi tudo isso quando vivia na fazenda”, contou.
Sobre o segredo para a longevidade e companheiro, após mais de 7 décadas juntos, seu Francisco fala, justamente, que não há segredos, apenas manter o diálogo e respeito. E a esposa complementa: “As coisas não dão certo para muitos casais porque eles não vivem cada fase e aí já vão para os finalmente. Pra que brigar? Outra coisa é que amor não se mata e, hoje em dia, se mata por qualquer coisa. Isso é tudo, menos amor”. E seu Francisco complementa: “No relacionamento, são duas cabeças pensando, é exatamente para isso que as pessoas ficam juntas. Se um não quer, o outro deve refletir e entender também”, finalizou.
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