Elas são um fenômeno. Notícia frequente em Mato Grosso do Sul, sucuris sempre dão o que falar – em especial, pela vida sexual movimentada da espécie. Alvo de fascínio e cercada de mitos, sucuris estão ficando cada vez mais famosas por seus acasalamentos grupais. Isso porque uma fêmea pode se relacionar com até 12 machos, que revezam no processo.

Esse comportamento animal gera burburinho e chega até a incomodar alguns sul-mato-grossenses que fazem questão de opinar quando ficam sabendo que uma cobra acasalou. “Que nojo”, “relaxada” e “cobra porca” são alguns dos comentários que “torcem o nariz” para o ato de reprodução da espécie.

Em contrapartida, alguns apreciadores da natureza rebatem quando se deparam com alguma opinião que consideram equivocada. “Isso é inveja” e “Vocês têm inveja porque a sucuri tem uma vida sexual mais ativa que a de vocês” acabam aparecendo como resposta para esses ataques.

Abaixo, a imagem de uma sucuri acasalando com aproximadamente 10 machos em Mato Grosso do Sul, em 2016. O registro foi feito por Daniel De Granville, em Bonito.

“Repulsa e fascínio”

Mas por que a vida sexual das sucuris gera um interesse fora do comum, a ponto das pessoas se incomodarem com a “orgia” das cobras e fazerem questão de comentar ofensas? Questionado pelo Jornal Midiamax, o biólogo e fotógrafo Daniel De Granville, especialista em sucuris-verdes, tem uma teoria que pode responder à pergunta.

“As serpentes em geral são parte do imaginário humano desde os tempos bíblicos, gerando repulsa e às vezes fascínio também. As sucuris, além de tudo, impressionam pelo grande porte e pelas várias lendas populares associadas a elas”, inicia De Granville.

Daniel pontua ainda que, na questão comportamental, “nós temos uma tendência natural de comparar o comportamento dos bichos com o dos humanos”.

“Então, nesse caso da sucuri – em que o acasalamento envolve uma única fêmea que copula com vários machos – as pessoas associam isto ao comportamento sexual humano, onde tal prática seria reprovada dentro dos conceitos sociais e religiosos, por exemplo, uma vez que vivemos em uma sociedade que é tradicionalmente monogâmica. Mas as coisas na natureza são diferentes e às vezes podemos tirar lições úteis disto”, afirma o biólogo ao Jornal Midiamax.

Fêmea flagrada em momento íntimo com os parceiros - (Fotos: Vilmar Teixeira/Reprodução, Terra da Sucuri)
sucuris
“Vovózona” flagrada em momento íntimo com os parceiros em Bonito, MS – (Fotos: Vilmar Teixeira/Reprodução, Terra da Sucuri)

Machismo julga sucuris

O incômodo com a prática sexual das sucuris já rendeu até ataques machistas para uma sucuri que o guia local e monitor ambiental Vilmar Teixeira chama de “Vovózona” em Mato Grosso do Sul.

Após Vilmar publicar em seu canal no YouTube o flagra de “Vovózona” acasalando com 4 machos no Rio Formoso, em Bonito, a famosa sucuri começou a ser alvo de machismo.

“Safada”, “quenga”, “biscat*”, “gulosa”, “biscat* véia”, “depois vai querer exame de DNA”, “Que sucuri quente, um não é suficiente”, “danada”, “cachorra” e “galinha” foram alguns dos comentários preconceituosos e considerados machistas por parte da população, que se manifestou nas mídias sociais diante da notícia do acasalamento.

As opiniões causaram choque e escancararam o julgamento para com a fêmea de uma espécie animal, da mesma forma como acontece com os seres humanos.

Sucuris tem vida sexual agitada - (Foto: Vilmar Teixeira/Reprodução, Terra da Sucuri)
“Vovózona” passou um mês acasalando com 4 machos – (Foto: Vilmar Teixeira/Reprodução, Terra da Sucuri)

Parte da natureza das sucuris

Apesar de surpreender pela quantidade de sucuris machos fazendo sexo com uma única fêmea ao mesmo tempo, o comportamento faz parte da natureza dessas majestosas rainhas do Pantanal.

Além de tudo, a fêmea ainda pode matar algum de seus parceiros e devorá-lo após o ato sexual. Essa prática é denominada como canibalismo sexual de sucuris. E por que fêmeas podem matar e comer os machos depois do acasalamento? A explicação é bem simples.

“Durante o período de gestação (que dura entre 6 e 7 meses), as fêmeas não se alimentam, pois precisam deixar espaço em seus corpos para o desenvolvimento dos filhotes, já que elas não botam ovos. Então, após o acasalamento, a fêmea pode se alimentar de um dos machos como uma última fonte de energia antes deste longo jejum”, esclarece Daniel ao Midiamax, enfatizando que o comportamento é raro.

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