Apesar de ainda ser pouco discutida, a acessibilidade digital nas redes sociais é imprescindível para atender mais de 17 milhões de brasileiros que possuem alguma deficiência ou limitação. Uma vez que é inegável a importância das redes sociais na vida de um cidadão, do acesso às notícias até compras online, é importante colocar em pauta de que forma as PcDs (Pessoas com Deficiência) conseguem ter experiências facilitadoras na web. Pensando nisso, influenciadores de Campo Grande focam na inclusão para acabar com a barreira digital e proporcionar autonomia para esse público na Internet.

Levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que 8,4% da população brasileira acima de 2 anos — o que representa 17,3 milhões de pessoas — tem algum tipo de deficiência. Quase metade dessa parcela (49,4%) é de idosos.

As informações fazem parte da PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) de 2019. Portanto, se a falta de acessibilidade nas ruas, lojas e locais públicos já é motivo para muitas dores de cabeça, imagina na Internet, onde não há fiscalização? Afinal, Pessoas com Deficiência também têm direitos e a inclusão na Internet faz parte dessa premissa.

Apesar de ainda estar longe do cenário ideal, alguns influenciadores de Campo Grande já entenderam a importância dos conteúdos inclusivos e focam em técnicas para que seus perfis sejam acessíveis a todas as pessoas — inclusive as PcDs.

Inclusão, engajamento e consumo

Sarah Santos de Jesus (@soupassarinha), mais conhecida como Sarah Santos na Internet, é jornalista e trabalha como influenciadora digital em Campo Grande. Aos 24 anos, ela já é conhecida por ser ativista nas causas das Pessoas com Deficiência, uma vez que faz parte desse grupo. Ela contou ao Jornal Midiamax que existem várias medidas para tornar o conteúdo nas redes sociais acessível, como a inclusão da legenda e audiodescrição — quando se traduz imagens em palavras.

“Hoje, a gente tem aplicativos que fazem a legenda automática de maneira muito rápida e prática, então não tem desculpa. Inclusive, o aplicativo mais popular que as pessoas usam pra isso é de graça e faz essa legenda automática muito bem feita”, comenta.

Já na audiodescrição, Sarah afirma que, quanto mais simples, melhor para que pessoas com algum tipo de deficiência visual consigam imaginar o cenário em que o influenciador se encontra.

“É muito importante lembrar é que essas medidas de acessibilidade são medidas que as próprias pessoas com deficiência consideram ideais […]é muito importante a gente não só fazer a acessibilidade, mas a gente fazer a acessibilidade de modo que esses grupos de pessoas se sintam realmente incluídos ali na mensagem”.

Para Sarah, deixar um público fora do conteúdo é uma péssima estratégia para o engajamento das redes sociais. Portanto, quando mais abrangente e mais pessoas forem atingidas, melhor é para o influenciador.

“Além de ser uma questão responsabilidade social, é uma questão de inteligência mesmo, de fazer bom uso da ferramenta que tem nas suas mãos”, afirma Sarah.

 
 
 
 
 
Ver essa foto no Instagram
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por Sarah Santos (@soupassarinha)

 

“A maioria dos conteúdos não é acessível para nós”

É o que afirma Telma Nantes de Matos, 55 anos. Ela tem deficiência visual e trabalha como secretaria da Subsecretaria de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência de Mato Grosso do Sul.

[Colocar ALT]
Acessibilidade deve estar presente em todas as mídias digitais (Foto: Reprodução)

Ao MidiaMAIS, ela afirma que as pessoas com deficiência são presentes na Internet, que buscam informações nos jornais digitais e redes sociais. Mesmo assim, grande parte dos conteúdos não são pensados para esse público. Então, PcDs enfrentam inúmeras barreiras que limitam a facilidade da navegação.

Telma ainda diz que, no Brasil, aproximadamente seis milhões de pessoas têm deficiência visual — cegueira ou baixa visão — e que a descrição das fotos é um ótimo recurso.

“Nós precisamos quebrar barreiras atitudinais que impõem barreira de acesso à informação e comunicação. Os produtores de conteúdo, de jornais, precisam olhar as pessoas com deficiência como consumidoras presentes todos os dias nesse mundo digital”, afirma Telma.

Ainda de acordo com a especialista, a acessibilidade digital é a tendência dos próximos anos, então os produtores de conteúdos e empresas precisam firmar suas políticas para acompanhar o movimento do mercado.

“O que facilitar é maravilhoso. A inclusão na Internet abrange uma grande quantidade de pessoas, além de atender legislações nacionais e internacionais. É um universo que pode ser acessível […] quando é bom para as pessoas com deficiência, é excelente para os demais”, conclui a especialista.

 
 
 
 
 
Ver essa foto no Instagram
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por Telma Nantes de Matos (@telma_nantes)

 

A exclusão começa na falta de representatividade

Lis Loureiro é cadeirante, mãe e trabalha como secretaria. Aos 31 anos, ela afirma que só agora se sente representada por alguns influencers nas redes sociais. Para ela, é importante que os conteúdos parem de reforçar o capacitismo — preconceito social contra pessoas com alguma deficiência — e, assim, o público geral consiga aprender mais.

Na sua opinião, gostaria de ver conteúdos com legenda. “Às vezes você está com o filho dormindo e queria ver o conteúdo e saber o que a pessoa está falando. Além de ser inclusivo pra pessoas com deficiência auditiva, abrange outro público também”, explica a secretária.

Apesar de ter pessoas que aderiram à prática, ela ainda afirma existir um longo caminho a ser perseguido para que a barreira digital acabe. O mesmo é observado por Sarah Santos. Para ela, a exclusão está na falta de acessibilidade, como também na abordagem de pautas sobre Pessoas com Deficiência.

Querem ser vistos de forma naturalizada

A influenciadora digital Sarah Santos comenta sobre essa situação. Para ela, conteúdos que abordam sobre inclusão às Pessoas com Deficiência ainda são poucos.

“Quando a gente vê essa abordagem sobre inclusão, é uma abordagem capacitista, que coloca a pessoas com deficiência como super-herói, um grande exemplo de superação ou como um coitadinho que precisa de ajuda, caridade. A gente não quer mais ser visto dessa forma, queremos ser vistos como só mais um na sociedade, de maneira mais naturalizada”, comenta Sarah.

Além disso, é de se perceber que empresas e grande influenciadores têm condições de fazer conteúdos inclusivos, mas não fazem. Apesar do assunto já ser de conhecimento geral, essas grandes marcas e celebridades digitais não abraçam a causa para tornar a acessibilidade em uma realidade no Brasil.

“A gente vê esses grandes influenciadores incluindo várias pautas, mas as pessoas com deficiência ainda ficam para trás. A gente vê editoriais de moda, produtos sendo lançados incluído pessoas negras, gordas e LGBTQIA+. Mas a gente não encontra a pessoa com deficiência sendo incluída”, lamenta a influenciadora.

O que as PcDs, então, desejam?

Elas querem fazer parte da sociedade de forma natural, com abordagens de protagonismo, empoderamento e visibilidade.

[Colocar ALT]
Sarah Santos é ativista nas causas sociais (Foto: Arquivo Pessoal)

“Eu gostaria que as pessoas com deficiência aparecessem na Internet falando sobre suas questões pessoais, acesso à educação, relacionamentos, sexo, moda, entretenimento, e não apenas todas as dificuldades e a luta de ser uma pessoas com deficiência”, conclui Sarah.

Por isso, além de conhecimento social, é importante para os influenciadores adotarem medidas para tornar os conteúdos acessíveis nas suas respectivas redes sociais. Além disso, quebrar círculo vicioso de abordagens capacitistas sobre esse público, que há tempos reivindica seus direitos.

Dicas para deixar a rede social mais inclusiva

Acessibilidade é um conjunto de ações que torna uma experiência aberta a todos. No caso das mídias sociais, é importante adotar atitudes que o maior número de pessoas consigam navegar com autonomia.

Por um lado, a acessibilidade depende do desenvolvimento das plataformas. Por outro, a responsabilidade é totalmente nossa, os usuários e criadores de conteúdo. Veja, abaixo, dicas para deixar a rede social mais inclusiva:

  • Coloque Texto alternativo em imagens para cegos e pessoas com baixa visão;
  • Aposte nas legendas e Libras no conteúdo de vídeo;
  • Faça parte da mobilização através das hashtags #PraCegoVer e #PraTodosVerem;
  • Inclua a audiodescrição nos vídeos ou podcasts.

Curtiu? Segue a gente no Instagram, Facebook e TikTok. Tem sugestões? Mande pelas redes sociais ou pelo WhatsApp do MidiaMAIS: (67) 99852-0998.