‘Fascínoras’ de Campo Grande foram linchados por multidão no Centro: ‘trucidados a pauladas e pedradas’

Mário Garcia de Oliveira, Osvaldo Caetano e Sidney Prestes: na história de Campo Grande, quem são os ladrões linchados no Centro?

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Jornal do Rio de Janeiro estampou os rostos dos ladrões trucidados em Campo Grande – (Foto: Arquivo O Jornal, RJ)

Fúria, sede de justiça com as próprias mãos, vingança… uma mistura dos mais contraditórios sentimentos envolveu a população campo-grandense no dia 6 de março de 1939. O primeiro linchamento que se tem registrado na história da cidade que é hoje a Capital de Mato Grosso do Sul chegou a ser notícia nacional.

Três assaltantes que mataram um motorista de praça foram linchados por uma multidão raivosa no Centro, perto de onde fica a atual Praça Belmar Fidalgo. Populares estupefatos com a crueldade dos bandidos, que planejaram o crime, cercaram o carro da polícia e trataram de “trucidar os criminosos a pauladas e pedradas”.

“O Jornal”, do Rio de Janeiro, destacou a notícia na primeira página do exemplar daquele dia. O jornalista Sérgio Cruz reconta essa história que marcou a Cidade Morena em seu livro, “Sangue no Oeste”. Com base na repercussão pelo país, ele resgata o fatídico acontecimento.

“No dia 6 do corrente [março], nas proximidades de Campo Grande, foi assassinado o motorista Celestino Pereira de Alcântara, proprietário do carro 127. Esse crime foi premeditado pelo autores Mário Garcia de Oliveira, Osvaldo Caetano e Sidney Prestes”, inicia a notícia.

Conforme a reportagem, por volta das 14 horas daquela data, um dos meliantes procurou na praça o motorista Celestino para uma corrida ao bairro Amambaí. “Ali chegados, subiram no carro os outros dois e exigiram de Celestino Garcia que prosseguisse viagem para Ponta Porã”, conta O Jornal.

O motorista se negou a fazer a corrida, quando “recebeu violenta pancada no crânio, que o deixou sem sentidos. Os bandidos desarmaram Celestino e um deles tomou a direção do carro. Duas léguas depois de Campo Grande, a vítima recuperou os sentidos e entrou em luta corporal com os facínoras, sendo nessa ocasião ferido mortalmente por eles e atirado, ainda agonizante, num mato próximo da Fazenda Saltinho”, narra a reportagem.

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Capa completa do “O Jornal” destacou ladrões de Campo Grande – (Foto: Acervo O Jornal, RJ)

Os bandidos prosseguiram a viagem depois de terem arrancado a licença do carro, mas eles não imaginavam que os demais motoristas de Campo Grande dariam falta e estranhariam o sumiço do colega.

“Entrando em indagações, eles vieram a saber por um motorista vindo de Ponta Porã que o carro 127 fora abastecido com meia lata de gasolina, não levava licença e era conduzido por um estranho, tendo dois outros como passageiros. Levado o fato ao conhecimento do capitão Felix Valois, delegado de polícia, este pôs-se em ação para a descoberta do crime e prisão dos criminosos, rumo a Ponta Porã”, descreve o noticiário da época.

Cerca de “25 léguas de Campo Grande” [algo como 120 km], a equipe policial encontrou o carro 127 encalhado na estrada. “Estavam Mário, Osvaldo e Sidney trabalhando para desencravá-lo. Dada a ordem de prisão, depois de curta resistência, entregaram-se. De regresso a Campo Grande, foi recolhido o cadáver de Celestino Garcia, com indício de que muito se debatera na agonia”, registra a notícia.

‘Fascínoras’ trucidados pela população em Campo Grande

Conforme “O Jornal”, o corpo ainda estava quente, indicando morte recente. Os próprios assassinos auxiliaram a transportar o cadáver. Chegando em Campo Grande, os três ocupantes do carro foram submetidos a interrogatório e confessaram a autoria do crime.

“Grande massa popular aguardava na delegacia a remessa dos bandidos para a cadeia pública. Quando o carro que os conduzia à esquina do Estádio da Sociedade Esportiva Campo-grandense [hoje Praça Belmar Fidalgo], a numerosa multidão fez parar o carro, arrebatou os três presos e trucidou-os ali mesmo, a pau”, finaliza a reportagem.

Acabava de acontecer o primeiro linchamento que se tem notícia na história de Campo Grande, afirma o jornalista Sérgio Cruz, que documentou o fato em seu livro “Sangue no Oeste”.

devorado por piranhas
Capa do livro Sangue no Oeste, do jornalista e radialista Sérgio Cruz, sobre crimes e mortes da história de MS

Sangue no Oeste

Idealizador do livro “Sangue no Oeste”, Sérgio Cruz documenta em sua obra “mortes e crimes violentos na História de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul” entre os anos de 1730 e 2020. O primeiro linchamento da história de Campo Grande está entre eles. Ao Jornal Midiamax, o autor que se dedica à pesquisa histórica desde 1974 detalha e explica porque decidiu reunir esses dados.

“Eu reuni os fatos históricos. São dados mesmo, crimes rumorosos, e alguns eu deixei de fazer por falta de informações. Só editei e levantei fatos já publicados em jornais e livros. Não tem nada de novo, mas a intenção é reunir esse material, documentar tudo, para facilitar a quem um dia venha a pesquisar sobre o assunto”, disse ele ao Midiamax.

‘Fascínoras’ de Campo Grande foram linchados por multidão no Centro: ‘trucidados a pauladas e pedradas’ é a quinta de uma série de reportagens do MidiaMAIS que recorda as mortes e crimes documentados na obra “Sangue no Oeste”, disponível para venda neste link.

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