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Emmanuel Marinho usa as palavras para saciar fome de pão e vive de poesia em Dourados

Poeta sul-mato-grossense tem 9 livros publicados e ganha reconhecimento com prêmio que recebe na próxima segunda na Câmara de Vereadores
Marcos Morandi -
Artista é referência na cultura de MS e do País (Foto: Marcos Morandi, Midiamax)

Nas palavras do próprio poeta, um douradense de sorriso fácil e prosa agradável, “poesia não compra sapato’, mas aos 66 anos ele diz que não tem nenhuma reclamação da vida. Com um livro recém-lançado, ‘Pequena Ópera’ e outro que já está impresso, mas que ainda não tem data para chegar às mãos do leitor, Emmanuel Marinho lembra da longa estrada percorrida e das pedras do caminho, sem esconder a alegria pelas suas vitórias.

Filho do paraibano Emmanuel do Nascimento e da paulista Sônia Geraldi Marinho, o escritor revela em conversa com a reportagem do Midiamax, que tudo que ganhou ao longo da vida é fruto da poesia. Segundo o canceriano nascido no 17 de julho, entre ele e a poesia existe uma ligação de amor que transcende as palavras e se conecta com as forças espirituais do universo.

 “Sou ligado na ciência e ao mesmo tempo na espiritualidade e trago isso dentro de mim, dentro das minhas obras”, diz Emmanuel que intermeia a entrevista com a declamação de versos inéditos de Reza II, que faz parte do livro ‘O Poema Secreto de S.J’. A obra já está pronta e deverá ser lançada nos próximos meses.

“Deus é bom e o Sol também. Tudo é do Bem. Buda é do Bem. Jesus é Luz, Jeová ainda vem. Shiva, Zeus. Hare Krishna, Alá, Oxumaré, São Francisco, Clara, Iemanjá, Maria e Maomé. Tudo mãe. Tudo é pai”, diz um trecho do poema eclético na nova produção literária de Emmanuel, que faz uma homenagem a São João.

Veia artística tem influências na própria família (Foto: Marcos Morandi, Midiamax)

Iniciação poética

A respeito da sua iniciação no mundo da literatura, o poeta sul-mato-grossense lembra que tudo começou quando ainda era criança, dentro sua própria casa, apesar do pai ser pedreiro de profissão. Os primeiros contatos com a poesia vieram através da mãe que foi professora e dona de uma livraria na cidade e também com a avó materna Nina, de quem herdou o dom da interpretação.

 “Sempre tive muito gosto pelas palavras desde criança e uma das minhas brincadeiras prediletas era escrever livros em cadernetinhas. Com nove anos eu já fazia isso. Penso que aprendi a escrever fazendo poesia. Já tinha esse sentimento comigo, só tinha dúvidas se queria ser poeta, artista plástico ou ator, porque eu já tinha até no quintal minha casa”, conta Marinho que acabou juntando as três coisas em uma só.

Casa do amor e da arte

Em meio às mandalas expostas feitas em parceria com sua mãe e que dão um colorido especial ao pequeno armazém cultural, que também funciona como ateliê em sua casa simples localizada na região central de , refirma o ofício de poeta e fala do lugar onde mora legado que pretende deixar para a memória cultural da cidade. “Para mim essa casa é o lugar do amor e da arte e estará a serviço das crianças e dos idosos, com atividades que podem transformar as pessoas, independente da idade”, diz Marinho.

“Nas minhas obras sempre falei das dores e alegrias do homem contemporâneo, que atualmente vive um momento diferenciado em todo o planeta, em especial no Brasil que passa por uma tensão com embates e discursos de mentiras e ódio que disseminam o mal. Mas eu tenho esperança em tempos melhores e acredito que só amor, a educação e a arte pode nos salvar”, pondera o escritor.

Emmanuel conta emocionado que sempre trabalhou com espetáculos para as crianças em escolas da rede pública, por meio de projetos viabilizados através de dinheiro público, como o financiamento que obteve da prefeitura de Dourados pelo FIP, para publica seu livro mais recente. “Sempre procurei ao longo da minha vida trabalhar para o bem da comunidade e não apenas para o meu bem-estar como artista. Por isso que fiz vários projetos, como um poeta nas escolas, nos distritos, não em só em Dourados, mas também em outros municípios”.

Influência indígena

Embora resista em apontar sua preferência entre as próprias produções literárias, Emmanuel Marinho diz que tem uma predileção por ‘Margem de Papel’, que considera uma obra completa. Nele a presença da cultura indígena é marcante, a partir de vivências ainda da época de infância, onde Dourados era praticamente uma grande fazenda os indígenas andavam com mais frequência pela cidade com suas carroças e vendiam produtos que cultivavam em suas roças, como milho, mandioca e guavira.

“Depois eles começaram a ser bombardeados pela expansão do agronegócio, ainda na década de 70 e aí eles foram perdendo a essência de coletores e passou a ter um grau de miserabilidade nas comunidades indígenas. Presencie criança comendo lixo, fuçando restos, como se fossem ratos e tudo aquilo me doía e ainda dói, pela forma como são maltratados”, questiona o poeta que ainda guarda lembranças do tempo em que eles tomavam banho no córrego Laranja Doce.

Ao remexer no baú de memórias relacionada às comunidades indígenas, Emmanuel Marinho conta como nasceu o poema ‘Genocíndio’, consagrado na literatura brasileira e que já recebeu referência em publicações nacionais e internacionais. “Um dia eu estava passando aqui e comecei a ficar muito indignado com a realidade desses nossos irmãos indígenas e achei que precisava fazer alguma coisa mais”.

Ainda segundo ele, na época, decidiu procurar o bispo Dom Teodardo, que era uma voz em defesa dos indígenas e perguntar como poderia contribuir com a comunidade. “Ai ele me perguntou: você faz o que? Eu respondi que era estudante e poeta. E ele me disse: então faz uma poesia. Eu fui para casa e fiz”, comenta Emmanuel, que volta a recitar um trecho que diz: “Tem pão velho? Não, criança tem o pão que o diabo amassou. Tem sangue de índios nas ruas e quando é noite, a lua geme aflita por seus filhos mortos”, declama o poeta.

Emmanuel exibe os livros editados em 2022 (Foto: Marcos Morandi, Midiamax)

Reconhecimento

Considerado um ícone da poesia moderna, Emmanuel Marinho será homenageado na próxima segunda-feira (29) pela Câmara Municipal de Vereadores de Dourados na cerimônia de entrega do “Prêmio Ildefonso Ribeiro da Silva”.  A edição de 2022 acontece no intervalo da 28ª sessão ordinária.

A escolha de Emmanuel Marinho foi feita pela comissão julgadora, formada por representantes da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), Grupo Literário Arandu e Sinjorgran (Sindicato dos Jornalistas Profissionais na Região da Grande Dourados).

O “Prêmio Ildefonso Ribeiro da Silva” foi instituído por meio do decreto legislativo nº 656, de 22 de junho de 2010 e é destinado a agraciar escritores do município de Dourados que tenham se destacado na produção literária sul-mato-grossense. “Fico feliz com mais esse reconhecimento. Sinto que essa homenagem significa que não estou falando sozinho, aos quatro cantos, sem ninguém para ouvir”, diz o poeta.

Formado em Psicologia e pós-graduado em artes cênicas pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é uma figura importantíssima para a cultura acadêmica douradense, tendo suas obras como obrigatória nos vestibulares, mestrados e doutorados das universidades locais como a UFGD, UFMS, UNESP e USP.

Obras e prêmios

Livros: Ópera 3 (1980), Cantos de Terra (1982), das Violetras (1983), Margem de Papel (1994), Satilírico (1995), de Poemas (1997), Caixa das Delícias (2003), Encantares (2015), Peuena Ópera (2022) e o Poema Secreto de S.J (2022).

Música: gravou o disco Teré, que reuniu nomes singulares da música brasileira – Itamar Assumpção, Paulo Lepetit, Toninho Ferragguti, Alzira Espíndola, Pedro Luis e a Parede, entre outros. Em 2015 lança o CD ENCANTARES em parceria com Paulo Lepetit

Teatro: criador e intérprete dos espetáculos “Margem de Papel”, “O Encantador de Palavras”, “Satilírico”, “Solo para Palavras e Sanfona de Brinquedo”, “Tudo Porã por Aqui”, “Porã”, “A Bicicleta do Poeta”, “Encantares”, “Com a Palavra, o Poeta!”, espetáculo solo, com encenação e texto do poeta.

Prêmios: Marçal de Souza – Pela Defesa dos direitos humanos, concedido pela Câmara Municipal de Dourados – MS, em 1995; Cidadão da Paz, concedido pela Comunidade Bahá’i do Brasil em 1996, e novamente o Prêmio Marçal de Souza – Pela Defesa dos direitos humanos concedido pela Assembleia Legislativa de MS em 1997 e Funarte de Circulação Literária.

Poeta quer transformar sua casa em centro de arte para crianças e idosos (Foto: Marcos Morandi)

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