Se durante a Copa do Mundo de 1970 os jogos só poderiam ser assistidos em 200 casas de Dourados, passadas cinco décadas e mais dois anos, a realidade agora é outra. Ter uma TV já não significa luxo, nem ostentação. O aparelho agora já está incorporado à realidade das famílias da maior cidade do interior de Mato Grosso do Sul.
Se depender do movimento dos últimos dias nas lojas de eletrodomésticos da cidade, a Copa do Mundo só não será vista por uma questão de opção. Um levantamento feito pela reportagem do Midiamax nas principais lojas da região central da cidade, mostra que somente nesta quarta-feira (23), véspera da estreia do Brasil, foram vendidos quase 300 aparelhos.
Com mais de 227 mil moradores espalhados em Dourados, conforme o último levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2021, é comum encontrar mais de uma TV em cada domicílio. Entretanto, o último quantitativo de aparelhos existente na cidade foi feito em 2010, e já registrava mais de 58 mil.
Se observarmos o crescimento da cidade, não seria exagero pensar que seja possível que exista mais de 100 mil televisores em Dourados. “Hoje tem gente que tem TV em quase todos os cômodos da casa. Um dia desses foi visitar um amigo e me assustei ao me deparar com um monitor no banheiro. Confesso até que achei estranho”, conta o gerente de uma grande loja de eletrodomésticos.
Ele conta que apesar da proliferação dos smarthphones, os consumidores não perderam o encanto pelas grandes telas que transformam as salas praticamente em um cinema. “As grandes estrelas do momento são as de 80 polegadas, altamente avançadas em tecnologia e que custam em média R$ 11 mil”, explica o gerente.
Quando a TV chegou em Dourados
Segundo informações do pioneiro e já extinto Jornal O progresso, as imagens da TV Morena começaram a ser transmitidas para Dourados nos primeiros meses de 1970. No entanto, semanas antes do início da Copa do Mundo de Futebol, que foi realizada no México, em 1970, ocorreram interrupções nas transmissões das imagens, o que deixou parte da população em polvorosa.
Naquela época, a cidade contava com uma população de 79.186 habitantes e somente 200 pessoas tinham aparelhos de TV, o que era novidade. As vendas eram estimuladas em anúncios publicados pelo periódico. De acordo com matéria em O Progresso, esses televisores foram comercializados pela própria emissora, que iniciava suas atividades na cidade.
Falhas técnicas prejudicavam transmissões
Na época, segundo o jornal, a população de Dourados tinha adquirido 200 televisores, principalmente, devido à Copa do Mundo. “Certamente, as pessoas queriam curtir a nossa Seleção em busca do tricampeonato. No entanto, ocorreu uma interrupção na transmissão das imagens da TV Morena. E isso era preocupante”, relata o jornalista Vander Verão, ex-editor do periódico.
Conforme matéria publicada no jornal O Progresso, no dia 10 de junho de 1970, a TV Morena informou que a interrupção das imagens para Dourados ocorreu por problemas técnicos. E que o técnico que dava manutenção nas torres repetidoras, teve que retornar para Campo Grande, por conta de problemas de saúde de familiares.
Na Copa de 1974 (realizada na Alemanha Ocidental), muita gente acompanhou as partidas pelo televisor comunitário instalado na Praça Mário Corrêa, ao lado do Hospital Evangélico. “Aliás, esse televisor permaneceu na Praça por muito tempo. Era uma atração. Afinal, pouca gente tinha condições de adquirir o aparelho revolucionário”, conta Verão, um santista fã de futebol e da história de Dourados.
O jornalista relembrou esses acontecimentos em sua página no Facebook e o assunto suscitou comentários de douradenses que foram testemunhas oculares da chegada da Televisão na cidade. “Semp Toshiba 20 polegadas. Torci muito assistido a Copa de 70”, comentou Luiz Carlos Cardoso Palácios.
‘Era muito chique ter televisão’
“Eu fui vizinha do Jaconias Júnior e lembro que sua família tinha televisão. Papai comprou em seguida. Era muito chique ter televisão! Bons tempos!”, conta a moradora de Dourados Sônia Almirão Sobreira, relembrando a época em que era criança.
“[…] Quando acabava o jogo da seleção na copa em 70, eu corria para a praça para assistir ao jogo que passava nas TV instaladas na praça e lojas da rua”, lembra Nego Verão, primo do jornalista Vander.
Entre as lembranças dos internautas está uma de Edir Porto, que complementa com acontecimentos testemunhados por ele. “[…] por ocasião da copa de 70 os jogos eram gravados em São Paulo e as fitas colocadas em um avião especial que as conduzia para Campo Grande e lá chegando é que TV passava o vídeo”.
Segundo internauta, “à exceção do último jogo, sob a batuta de dois técnicos da Embratel, Solon e Farias capitaneado pelo Eng. Ronald foi possível passar ao vivo lá no salão da UFMS. Esses competentes técnicos conseguiram jogar o sinal que chegava na Estação de Micro-ondas da Embratel localizada no Bairro Cruzeiro até o Prédio Administrativo, também da Embratel, localizado na Rua Cândido Mariano e de retransmitiram para UFMS, tudo esse trabalho foi feito em caráter experimental. Estava lá”, relata Porto.
