Documentário sobre incêndios no Pantanal conquista prêmio no maior festival de filmes de natureza

O filme “Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas”, do documentarista Lawrence Wahba, será exibido no Wildscreen Festival, a mais importante mostra de filmes documentais sobre natureza e meio ambiente do mundo, em Bristol, na Inglaterra, no próximo dia 14 deste mês. “Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas” foi premiado na categoria ‘Mérito de Sustentabilidade’, na qual concorreu com 700 […]

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“Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas” foi premiado na categoria ‘Mérito de Sustentabilidade’, na qual concorreu com 700 produções de 38 países (divulgação)

O filme “Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas”, do documentarista Lawrence Wahba, será exibido no Wildscreen Festival, a mais importante mostra de filmes documentais sobre natureza e meio ambiente do mundo, em Bristol, na Inglaterra, no próximo dia 14 deste mês. “Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas” foi premiado na categoria ‘Mérito de Sustentabilidade’, na qual concorreu com 700 produções de 38 países.

Durante 30 anos, o documentarista já realizou mais de quarenta expedições ao Pantanal. Em março de 2020, iria realizar filmagens sobre as belezas do Pantanal, porém, houve o anúncio da OMS (Organização Mundial da Saúde) da pandemia de covid-19.

De acordo com o documentarista, durante o retorno para casa, em São Paulo (SP), se surpreendeu com os grandes focos de incêndio, atípicos para aquele período do ano, que acabou resultando nas queimadas, muitas delas criminosa entre junho e outubro de 2020, que devastaram o Pantanal, deixando um saldo de mais de 15 milhões e destruição de 4,5 milhões de hectares do bioma.

Wahba conta que então idealizou a formação de uma brigada de incêndio que teve apoio de voluntários. Em setembro do mesmo ano, o documentarista foi ao o Pantanal e se juntou ao grupo de profissionais e voluntários que combatiam o fogo, tentavam minimizar o impacto das queimadas e salvar animais. Posteriormente, a briga aumentou com a participação de ribeirinhos, pescadores, indígenas, fazendeiros, entre outros.

“A ideia de criar a Brigada Alto Pantanal foi minha, mas o personagem central para a sua construção foi o Coronel Ângelo Rabelo, do Instituto Homem Pantaneiro. Empregamos ribeirinhos com experiência no combate ao fogo e que estavam sem trabalho em meio à pandemia. A brigada continua ativa e a gente tem muito orgulho porque, dois anos depois, esses ribeirinhos estão treinados, uniformizados e capacitados, com salário e carteira assinada. Quando tem incêndio eles fazem o combate; quando não tem, visitam comunidades, ajudam no manejo das roças e dão orientações sobre o uso do fogo”, diz.

Com a criação da Brigada Alto Pantanal, que protege uma área específica, a Serra do Amolar, contou com o apoio inicial de empresários e personalidades como Luciano Huck e Gisele Bundchen, que impulsionou doações de aporte financeiro e inspirou ações de outras instituições do terceiro setor, como a ONG SOS Pantanal, resultando na criação de 26 brigadas. Os estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul também destinaram verbas para o combate aos incêndios.

Além do trabalho voluntário e com apoio dos cinegrafistas Thamys Trindade, Diego Rinaldi, Mike Bueno, Ernane Junior e Cesar Leite, iniciaram as filmagens sobre as queimadas. O documentarista lembra da amarga consciência sobre as gravações, pois a ideia inicial era a de filmar as belezas do Pantanal.

Concluído em 2021, Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas, foi exibido pela primeira vez na grade do Globoplay em 12 de novembro, o Dia do Pantanal. O filme, que foi coproduzido pela Wahba Filmes e Jefferson Pedace, segue disponível, com exclusividade, na plataforma de streaming da Rede Globo.

“Jaguaretê-Avá não é uma experiência fácil. E faço um destaque especial ao Marco Del Fiol e à Tatiana Lohmann, diretores de documentários mundialmente reconhecidos e premiados, que foram os montadores. Por causa deles, digo que o filme tem praticamente três diretores. Por duas semanas depois da estreia, o documentário foi o mais visto no Globoplay. Recentemente, quando algumas imagens dos incêndios foram usadas na novela Pantanal, voltou a subir o número de pessoas querendo assistir ao filme”, comenta.

No próximo dia 14 de outubro o filme então será exibido em Bristol, na Inglaterra, na programação do Wildscreen Festival, que completa 40 anos.

“Ainda estou em estado de choque. Em 1996, eu tinha 27 anos, era um jovem documentarista em começo de carreira e fui ao Wildscreen. Vi vários filmes na tela grande, e pensei: ‘Um dia vou ter um filme meu exibido aqui’. O Wildscreen é o maior festival de documentários de natureza do mundo. Os filmes são normalmente grandes produções da Disney, da Netflix, da National Geographic, da BBC, da Discovery, da Amazon Prime. Produções de milhões de dólares, que concorrem ao prêmio principal, o Panda de Ouro, conhecido como o ‘Oscar Verde’. Sempre achei que a linguagem do Jaguaretê-Avá não casava com o perfil da mostra. Sinceramente eu não imaginava um prêmio desses. Ao mesmo tempo em que essa é a realização de um sonho, é também a lembrança de um pesadelo, porque eu gostaria mesmo é de ver um filme meu com as belezas do Pantanal na tela grande do festival, e não saber que 15 milhões de animais morreram. Esse é o filme que eu não gostaria de ter feito. Perto do que significaram os incêndios, esse prêmio não vale nada”, lamenta. O documentarista também lembra que o prêmio tem aumentado a relevância do filme.

“Acabo de dar entrevista para um jornalista da BBC, e o que ele falou do filme me deixou meio tonto. Foi só elogios. Outros festivais de cinema do mundo e distribuidores internacionais estão me procurando. Minha expectativa é que esse prêmio possa ser uma alavanca para a gente espalhar a mensagem do filme. E vale dizer que uma grande porcentagem do que a gente arrecadar com a venda internacional do filme será doada. Quanto mais a mensagem se espalhar, mais a gente conseguirá manter as brigadas e os centros veterinários no Pantanal”, defende.

No último dia 26 de setembro Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas foi exibido em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, na abertura da mostra de cinema do Festival Green Nation.

“As exibições que a gente fez no Green Nation foram de total catarse. O público inteiro chorando, as pessoas me abraçando no fim do filme. Estou agora na expectativa de ver como a audiência internacional vai reagir”, conclui Wahba.

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