“Linguiceiro e fazedor de linguiça” foram nomes que ficaram marcados na adolescência de Celso Porfírio. Aos 14 anos, quando arrumou o primeiro emprego em um açougue e lá ficou até concluir o ensino médio, o assunto dos colegas era qual fariam, enquanto ele só pensava em comprar uma Fan 125 e crescer na profissão escolhida por ele. Anos depois, do reencontro com os amigos “sarristas” a especialista em carnes, Celsinho vivencia a melhor fase e aguarda, ansiosamente, o momento de representar o Brasil na copa mundial de açougueiros. Veja vídeo no final da matéria.

“Eu morava no interior de São Paulo, na cidade de Bálsamo, que tem cerca de 9 mil habitantes. No início, eu, bem novinho, só pensava em comprar uma motinha e ter minha carteira de habilitação, coisa de jovem mesmo. Só que eu fui me apaixonando pela profissão e aí, ao mesmo tempo, começaram os apelidos na escola, de linguiceiro e fazedor de linguiça”, relembrou Celso ao Jornal Midiamax. 

Mesmo com as “piadinhas”, Celso diz que seguiu na profissão e trabalhou no açougue por três anos. “Na minha família nunca teve ninguém nesse ramo. Meu pai, por exemplo, é militar. Nunca deixei me abater e continuei focado. De lá, fui trabalhar em um supermercado de bandeijista, desossador e depois gerente. Lembro que as piadas continuaram, isso marcou o início da minha carreira. Teve até um episódio que encontrei um colega que me zuava muito e ele disse: você vai ser linguiceiro e eu vou me formar em radiologia”, contou. 

Sonho de atuar em multinacional

Com seis anos de experiência no supermercado, Celso diz que recebeu convite para um novo desafio. “Uma pessoa queria me levar para ser consultor técnico na JBS e o meu sonho, realmente, era trabalhar em uma empresa multinacional. Fui consultor técnico lá e viajava o Brasil todo ensinando as pessoas a fazer corte. Só que a estrada foi me cansando. Nesse período, fiz uma amizade muito importante e que carrego até hoje, o Paulo”, afirmou. 

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Celso na indúsrtria onde monitora 55 funcionários

Sobre Paulo Lima, também açougueiro, Celsinho fala que ele sempre dizia sobre a vontade de montar uma “escolinha de açougueiros”. “Quando eu saí da empresa, o Paulo, devido a uma bactéria, faleceu. Só que, uns 3 meses antes, ele tinha usado o meu computador e me devolveu. Não prestei atenção, mas, lá ele deixou todo o projeto da escolinha para formar pessoas, capacitar e lá ele dizia que o mundo seria mais justo se todos tivessem oportunidades”, falou. 

Na última conversa, Celso comentou que ele fez só um pedido, para não cobrar nada das pessoas pelo ensinamento. “O tempo passou, eu montei uma empresa de consultoria, na qual eu presto serviço para açougues, ensinando como cortar, fazer linguiça, temperar, entre outras coisas. No ano de 2018, também descobri que existia uma competição e entrei em contato com uma das pessoas, que me disse que eu tinha que merecer estar lá. Fiz a inscrição e entrei no ano seguinte”, argumentou.

Projeto da escolinha de açougueiros

Com a pandemia, a competição teve alterações na data e ocorrerá em setembro deste ano, em Sacramento, na Califórnia. “Muita coisa boa aconteceu e eu me lembrei, mais uma vez, do meu amigo Paulo. Chamei um empresário, decidi colocar em prática o projeto da escolinha dele e montamos. Não consegui fechar turma. Foi quando minha esposa disse: ‘Não deu certo porque você está cobrando. O Paulo pediu pra você não sobrar'. E mudei os planos”, argumentou. 

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Celso ao lado de grandes nomes do “mundo da carne”

Logo depois, o agora não só açougueiro, mas, também consultor de carnes e empresário foi até a prefeitura de Bálsamo. “Eu pedi pro prefeito a oportunidade de ministrar um curso de formações técnicas básicas de açougueiro, onde teria higienização, manipulação, bom atendimento e, na sequência, desossa e tudo mais. O prefeito topou na hora e me chamou na sala dele, perguntando o preço que eu iria cobrar. Foi quando eu disse que não ia cobrar nada e usaria o meu final de semana para me dedicar ao ensino”, alegou.

De início, Celsinho disse que pretendia formar 30 jovens, só que a procura foi tamanha que ele formou duas turmas de 45 pessoas. “Vi pai de família ganhando uma profissão e nada no mundo paga isso. Montei um módulo teórico de 44 horas e um prático de 40 horas. Isso chamou a atenção e, com isso, recebi um convite para vir morar em e aqui capacitar pessoas. É um trabalho muito gratificante”, falou. 

Atualmente, o empresário diz que ainda pretende capacitar pessoas na capital sul-mato-grossense. “Eu não fiz faculdade, porém, posso dizer que aprendi muita coisa na faculdade da vida e me orgulho disso. Hoje sou gerente de produção na indústria e tenho um quadro de 55 pessoas. Estamos vivenciando um momento em que o açougueiro precisa ser churrasqueiro. Não adianta só cortar, tem que saber assar, então, o profissional precisa estar atento às oportunidades”, explicou. 

Mundo dá voltas, diz empresário

Ao relembrar a trajetória, Celsinho diz que o mundo deu voltas e ele até se tornou amigo da “colega sarrista”. “Ele foi lá no meu açougue, muitos anos depois. Ele disse, até brincando, ‘o açougueiro venceu'. E ele, que tinha se formado, não conseguiu atuar na área e estava trabalhando em obras com o pai. Mas, de tudo o que passei, trago o Paulo o tempo todo comigo. Pretendo trazer essa taça para o Brasil, da da Carne. Continuo com brilho no olho”, comemorou.

Nesta competição, Porfírio conta que ele e mais 5 brasileiros estarão ao lado de equipes competindo. “Será uma arena e ficaremos lá por 3h15. Vamos em seis e recebemos um boi, um porco, um carneiro e cinco frangos. Precisa desossar fazer toda a apresentação no tempo de cocção. Estamos na luta, vamos com recursos próprios”, finalizou.