A caminhada até o sucesso e a realização pessoal não é das mais simples. Para Fabiana Rodrigues, de 27 anos, não foi diferente. Hoje Faby se realiza na confeitaria, fazendo os mais lindos e deliciosos bolos em Campo Grande, mas a trajetória até aqui precisou superar as dificuldades, os abusos, o sofrimento e a depressão.

Agora, ela quer que mais mulheres consigam e vencer seus próprios monstros interiores, auxiliando sonhadoras a realizarem sonhos. Fabiana é natural da cidade de Pimenta Bueno, em Rondônia, e se casou muito cedo, aos 13 anos, e veio para Mato Grosso do Sul em 2010, em busca de uma vida melhor.

“Na época eu já tinha meu primeiro filho, que estava com um ano e dois meses, e estava grávida da minha segunda filha. Nós viemos pra cá porque meu sogro estava doente, pois sofria de hanseníase e, como morávamos em Rondônia, em uma cidadezinha muito pacata, não tinha um tratamento adequado. Então decidimos vir em busca de uma vida melhor e essa maravilhosa cidade morena foi o lugar escolhido para morarmos”, conta ela ao MidiaMAIS.

Quando chegaram, foi a maior luta. Não havia uma casa para viverem e muito menos um emprego. “Ficamos na casa da tia do meu esposo. Depois, conseguimos alugar uma casa de dois cômodos, onde que eu tive minha segunda filha”, relembra.

Anos se passaram, muitas lutas e batalhas, mais dois filhos chegaram para Faby e o marido. “Meu esposo sempre trabalhou de açougueiro desde seu primeiro emprego aqui em Campo Grande. E eu sempre procurei trabalhos como vendedora de lojas, mas, por ter quatro filhos pequenos, sempre foi muito difícil permanecer nos empregos: eu não conseguia cumprir os horários da empresas, tinha que pedir as contas porque nunca tinha com quem deixar meus filhos”, lamenta a confeiteira.

Os quatro filhos de Fabiana (Foto: Arquivo Pessoal)

O último emprego de Faby foi em 2017. “Eu trabalhava em uma empresa que presta serviço funerário em Campo Grande, mas a gente tinha que manter uma sequência de contratos, então eu só podia trabalhar meio período, e assim eu fui despedida desse emprego. Chegou um dia que eu falei para o meu esposo ‘eu não quero mais trabalhar de carteira assinada, eu quero trabalhar dentro da minha casa para cuidar dos meus filhos e para ter tempo com eles'”, decidiu ela.

Determinada, em 2018, a jovem notou um mercado em expansão e lançou ao marido a ideia de fazer bolo de pote para vender na rua. Na hora, o companheiro de Faby até “achou graça”, já que ela não sabia fazer nem bolo de massa pronta. “Ah, eu aprendo”, respondeu corajosa. A partir de então, começou a assistir a tutoriais no YouTube e tudo relacionado à confeitaria.

“Infelizmente eu não tinha um centavo sequer para poder pagar um curso de confeitaria, mas a paixão foi tomando conta de mim e, ao mesmo tempo em que eu assistia vídeos para aprender, também pedi a Deus para me ensinar, para ser o meu mestre. Fui aprendendo aos pouquinhos, iniciei fazendo os bolos de pote, saía de porta em porta, vendendo nas ruas no centro da cidade”, relembra.

Até que um dia, uma cliente dos bolos de pote perguntou se Faby fazia bolo de aniversário. “E, por incrível que pareça, eu disse a ela que sim, sendo que eu nunca tinha colocado a mão para fazer um bolo de aniversário. Do mesmo modo que eu aprendi a fazer os bolos de pote, eu fui assistir a tutoriais para aprender fazer bolo de aniversário, porque mais uma vez eu não tinha dinheiro para pagar curso. Aceitei essa encomenda da cliente e consegui fazer o bolo dela. O bolo passou quase 5 kg do que ela pediu, então foi sortuda minha primeira cliente”, conta aos risos.

Ela aprendeu seu ofício sozinha assistindo tutoriais no YouTube (Foto: Arquivo Pessoal)

Em sua primeira encomenda de bolo, Faby diz que se sentiu a própria Beca Milano do “Bake Off Brasil”, e se apaixonou ainda mais pela confeitaria, se descobrindo a cada dia. “Até que parei de vender bolo de pote na rua, e teve um dia também que eu recebi uma ligação de um programa do SBT, para eu participar, contar minha história, e ensinar a fazer esses bolos de pote”, afirma.

Foi ali que ela sentiu que poderia ser incentivo para muitas mulheres. “Fui criada sem pai e sem mãe, longe de meus irmãos, passei por muitos sofrimentos, até mesmo abusos sexuais dentro da casa de meus tios, onde fui criada. Vi também uma maneira para poder vencer a depressão onde eu poderia dedicar meu tempo e meu amor”, reflete.

Em 2020, Faby começou a fazer vídeos para o Tik Tok (fabybolosconfeiteira) apenas por diversão, para descontrair, até que resolveu postar um pouco do seu trabalho como confeiteira. “Muita gente gostou, pediu tutoriais, e foi assim que eu comecei a fazer vídeos de receitas no meu perfil do Tik Tok, onde hoje eu tenho mais de 275 mil pessoas me seguindo”, agradece.

Gaby é apaixonada pela cor rosa (Foto: Arquivo Pessoal)

Por lá, ela ensina muita coisa. “Massas, recheios, montagem, decoração, tudo relacionado à confeitaria. E tudo gratuito, porque ensino da mesma forma que aprendi. Posto vídeos ajudando as pessoas como eu, que nunca puderam pagar um curso de confeitaria e sempre tiveram o sonho de ter uma renda extra e ajudar a família”, reflete Fabiana.

“Hoje graças a Deus eu tenho o meu cantinho, a minha casinha cor-de-rosa. Meu sonho é um dia ter minha confeitaria própria. Creio que eu ainda vou conseguir. Mas, meu maior sonho de todos é um dia participar do ‘Bake Off Brasil’, programa de confeiteiros amadores do SBT, e dar um abraço na pessoa que me inspirou muito: que é a Beca – jurada do reality”, comenta a moradora de Campo Grande.

“Espero um dia realizar todos os meus sonhos, e espero também todas essas pessoas que hoje eu estou ajudando também realizem os seus. Tenho um grupo no WhatsApp de apoio para as confeiteiras iniciantes, para mulheres sonhadoras, assim como eu”, finaliza Faby, ressaltando sua vontade de ajudar quem precisa e quer ajuda.

Depois de ter superado tanta coisa, hoje ela tenta ajudar mais pessoas (Foto: Arquivo Pessoal)
Um pouco do trabalho de Faby (Foto: Arquivo Pessoal)
Mais um pouco do trabalho da confeiteira (Foto: Arquivo Pessoal)
Filhos são a razão disso tudo ter acontecido (Foto: Arquivo Pessoal)