Marcada coincidentemente pelo número 13, a chacina do é uma das maiores tragédias na ficha policial da cidade de . Isso porque, conforme documenta o livro “Sangue no Oeste”, a noite do dia 13 de agosto de 1913 ficou tristemente gravada nos anais do município por conta de um massacre na rua 13 de Maio, esquina com a Barão do Rio Branco.

Com base na edição de 17 de agosto de 1913 do jornal “O Estado de Mato Grosso”, o J. Barbosa Rodrigues dá detalhes do episódio em seu livro “História de Campo Grande”:

“O Circo João Gomes fora montado no largo da igreja de Santo Antônio, onde eram realizados festejos religiosos. A cidade estava superlotada, pois inúmeras famílias vieram da zona rural para os festejos. No segundo espetáculo, no dia 13, quarta-feira, a polícia que se fizera presente desde a estreia, resolveu “proibir” que o povo gritasse na plateia e vaiasse os artistas”, diz o jornal.

Campo Grande no início de seu povoamento – (Foto Arca de Campo Grande)

O público, em especial, os rapazes, não gostaram da ordem e seguiram gritando e vaiando. Em um dos intervalos do espetáculo, todos comentaram a proibição da polícia, quando um reforço do quartel chegou, os ânimos se exaltaram e o conflito se armou com a polícia atirando e a população respondendo à “fuzilaria”.

Ao fim do tiroteio, a polícia se debandou e “entrincheirou-se” no quartel, pronta para o que desse e viesse, deixando mortos e feridos. Entre os que não resistiram, estavam dois policias. Noticiado em primeira mão pelo jornal impresso O Estado de Mato Grosso, o fato foi sintetizado por Rosário Congro, intendente geral da cidade, da seguinte maneira:

“Um gravíssimo conflito provocado pela própria polícia, quando se realizava uma função no circo João Gomes e do qual saíram mortos o importante e acatado negociante da praça José Alves de Mendonça, o vereador municipal Germano Pereira da Silva e duas praças do destacamento policial, além de muitos feridos”, iniciou o jornal na cobertura da ocorrência.

Conforme a notícia, documentada pela “Sangue no Oeste”, do jornalista Sérgio Cruz, no dia seguinte, “o povo armado, sob uma indignação geral, preparava-se para atacar o quartel da Polícia, evitando talvez outro morticínio”.

Circo João Gomes foi montado no largo da igreja de Santo Antônio, onde eram realizados festejos religiosos – (Foto: Arquivo Histórico de Campo Grande – Arca)

Versões da chacina do circo

A imprensa então lançou diferentes versões responsabilizando alguém de acordo com seus interesses. Enquanto o jornal “O Matto-Grosso”, dizia que a responsabilidade cabia ao presidente do Estado, atribuindo a ele “a falta de escrúpulos na escolha das autoridades locais”, “O Debate”, jornal governista, destacou, em 19 de agosto de 1913:

“Achando-se naquela vila, dando espetáculos uma companhia de circo de cavalinhos, foi a força policial que fazia o patrulhamento, atacada por um grupo de boiadeiros e alguns populares, travando-se um conflito do qual resultou a morte de policiais. […] Estamos informados de que o alferes de polícia Antônio Espíndola, comandante daquele destacamento, vendo-se ameaçado na sua vida, por numeroso número de populares, refugiou-se com o restante das praças, sob o quartel de seu comando”.

Autoridades em Campo Grande, na rua 14 de Julho – (Foto: Arca de Campo Grande)

Quem foi responsabilizado?

O inquérito foi instaurado e, segundo J. Barbosa Rodrigues na obra “História de Campo Grande”, a Justiça concluiu pela culpabilidade do tenente Espíndola e do subdelegado Antônio Marcondes, que foram pronunciados como mandantes da chacina. Espíndola foi levado à e Antônio ficou preso na cadeia da vila. Os policiais envolvidos no tiroteio também foram presos.

Após a prisão, “O Debate”, órgão oficial do governista Partido Republicano Conservador, publicou: “Congratulamos-nos com a população de Campo Grande e com o governo do Estado por vermos restabelecida a ordem e asseguradas as garantias individuais naquele rico e florescente município do Sul e aplicada a rigorosa inflexibilidade da Justiça sobre os culpados ou causadores daqueles tristes acontecimentos que enchem de pesar a todos quantos sinceramente aspiram o inalterável império da ordem, da paz e da Justiça em todo o vasto território do nosso querido Estado”, finaliza a notícia.

Há divergência sobre o total de vítimas da chacina do circo nos arquivos dos jornais. Enquanto “O Estado de Mato Grosso” numera quatro mortos, sendo dois policiais e dois senhores, “O Debate” cita três policiais mortos e os mesmos dois senhores. Portanto, a estimativa fica entre quatro e cinco vítimas da matança.

sangue no oeste - Antes de ser Capital, Campo Grande foi vilarejo sangrento e fora da lei
Capa do livro Sangue no Oeste, de Sérgio Cruz

Sangue no Oeste

Idealizador do livro “Sangue no Oeste”, Sérgio Cruz documenta em sua obra “mortes e crimes violentos na História de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul” entre os anos de 1730 e 2020. A Chacina do Circo está entre as histórias resgatadas. Ao Jornal Midiamax, o autor que se dedica à pesquisa histórica desde 1974 detalha e explica porque decidiu reunir esses dados.

“São 450 páginas, eu reuni os fatos históricos. São mais dados mesmo, crimes rumorosos, e alguns eu deixei de fazer por falta de dados. Só editei e levantei fatos já publicados em jornais e livros. Não tem nada de novo, mas a intenção é reunir esse material, documentar tudo, para facilitar a quem um dia venha a pesquisar sobre o assunto”, disse ele ao Midiamax.

“Chacina do circo: massacre cruel na esquina da 13 de maio com a Barão abalou Campo Grande” é a segunda de uma série de reportagens do MidiaMAIS que recorda as mortes e crimes documentados na obra “Sangue no Oeste”, disponível para venda neste link.

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