É na rua Aniceto da Costa Rondon, no bairro Caiçara, em Campo Grande, que um sonho medieval se mantém vivo. Por trás da torre e das portas da fachada de um castelo, o professor de balé Adoir Martins, de 66 anos, distribui o conhecimento do que mais sabe e ama fazer na vida. O mesmo local, além de ser a sede do balé clássico, também é a casa do bailarino.

A iniciativa vem do coração e é colocada em prática em nome do amor por esse trabalho. Há 31 anos, o balé Adoir Martins funciona nesse endereço e, aos poucos, ao longo das três últimas décadas, ganha o formato de castelo. Tudo começou quando, ainda jovem, Adoir passou 13 anos de sua vida estudando a dança em São Paulo e retornou para Campo Grande em 1991.

Fachada da residência tem todos os detalhes de um castelo – (Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax)

O terreno onde hoje funciona a escola de balé era de sua mãe, até que ele o adquiriu para dar início ao projeto. “Comecei numa varanda bem simplesinha da residência da minha mãe. Depois, com o passar do tempo, fui trabalhando fora, sempre com projetos sociais, até que comprei a propriedade dela e construí”, conta Adoir ao Jornal Midiamax.

Mas por que um castelo? “Essa frente foi uma ideia minha, por o balé ser uma arte que nasceu na corte, sempre tive a ideia de um castelo por isso… Antigamente, era para os elitizados, hoje é para todos. Mas o projeto não foi totalmente concluído, devido à minha situação financeira. É muito difícil o apoio. A gente vai trabalhando porque tem mais amor na arte do que em outra coisa”, lamenta o professor.

Quando o portão se abre, essa é a vista – (Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax)

Projetado para ser uma escola de dança, o castelo campo-grandense ganha forma aos pouquinhos, conforme Adoir consegue. A construção ainda não terminou e está longe de ser concluída, mas o sonho é alimentado pelo amor ao ofício. Há alguns anos, a estrutura que serviria apenas para ensinar, também se tornou sua moradia.

“A dificuldade é muito grande para mantê-lo. Ele foi construído para ser totalmente uma escola de dança. Como minha mãe faleceu faz pouco tempo, alugamos a casa dela pra poder manter as despesas e aí eu passei a ficar aqui [no castelo], pra não ficar totalmente abandonado, porque também não tenho como ficar em outro lugar. Eu vivo da dança, sou um batalhador do balé”, relata.

Nos detalhes, Adoir tenta representar um castelo como casa do balé na Capital – (Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax)

Adoir Martins é membro do grupo internacional de balé e responsável pelo Projeto Saltar – Centro de Referência e de Apoio à Dança para Crianças e Adolescentes de risco social da periferia de Campo Grande, com aulas de iniciação à dança clássica que acontecem no prédio em alusão à corte.

“A nossa simples e antiga escola, assim como as nossas salas de aula, e a parte de cima também, onde funciona uma instituição afro-brasileira, estão em um estado precário, mas tudo aqui é feito com muito carinho e esse sonho é o que ajuda a gente a ficar de pé”, finaliza o professor.

Grande criador de tudo isso, aos 66 anos, professor vive do balé – (Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax)

Em especial, a fachada chama atenção e enche os olhos de quem passa pela rua Aniceto da Costa Rondon. Com traços da simplicidade, o desafio de manter o castelo de pé e desenvolvê-lo na medida do possível, vai sendo levado por cada criança que aprende a dançar balé.

Veja mais imagens da casa castelo de Campo Grande:

Sala de aula no balé Adoir Martins – (Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax)
Mais detalhes do local – (Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax)
Adoir em seu lar – (Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax)
Até a simulação da entrada de um porão, como nos castelos, é reproduzida na casa de Campo Grande – (Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax)
Mãe de aluna e aluna do local – (Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax)
Sonho de Adoir mantém castelo de pé – (Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax)
Torre chama atenção do lado de fora – (Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)
Adoir e aluna na escola de balé – (Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax)