VÍDEO: Morte bateu na porta três vezes e Bertine desistiu de enfrentar touros após ‘coice fatal’

Além de coice que destruiu seu rosto, Bertine também caiu de avião e quase perdeu a vida várias vezes sendo salva-vidas de rodeio

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bertine coice fatal
Imagens mostram o momento em que Bertine foi atingido por boi e é possível ouvir o som do "coice fatal" – (Fotos: Arquivo Pessoal)

Era o sonho de sua vida ou a família. Aos 21 anos, Samuel Bertini, conhecido apenas como Bertini, abandonou a carreira promissora que construiu desde os 15, quando começou a montar em touros e, posteriormente, se tornou salva-vidas de rodeio.

A profissão arriscada consiste em se jogar na frente do boi para proteger o peão que está montando. Para o jovem, isso era uma paixão. No entanto, uma série de acidentes, que levaram à alteração de sua face e o deixaram à beira da morte, além da falta de apoio e preocupação da família, fizeram com que ele parasse, antes que o ofício levasse de vez sua vida.

O primeiro acidente que o marcou aconteceu em junho de 2019, depois de um rodeio no distrito de Alto Tamandaré, do lado de Cassilândia, a cidade onde ele vive em Mato Grosso do Sul.

“Peguei a biz da minha mãe, não tinha carro, nem moto. Fui para o rodeio, trabalhei tranquilo, não aconteceu nada. Na volta, tinha tomado cerveja e fui apostar corrida com um amigo na estrada de cascalho. E eu não lembro de nada, pra piorar ainda… a última coisa que eu lembro foi de ter colocado a mão no meu rosto porque tinha vindo muita poeira no meu olho”, conta ele ao Jornal Midiamax.

Rosto do jovem sofreu o primeiro baque em acidente de moto após rodeio – (Fotos: Arquivo Pessoal)

O corpo do rapaz voou e a moto saiu da estrada. O acidente aconteceu em uma serra e Betine ficou estirado no chão, em meio ao breu. Qualquer carro que pegasse aquele caminho passaria por cima dele, mas o amigo que apostava corrida notou seu sumiço e voltou para procurá-lo, chegando no exato momento em que uma camionete esmagaria o salva-vidas: deu tempo de salvá-lo.

“A hora que eu acordei, já estava no hospital com a cara totalmente detonada e o povo começando a me costurar, tava totalmente sem rumo, sem saber o que tinha acontecido. Quebrei um pedaço do dente, e a minha cara foi costurada em vários lugares, sofri várias queimaduras pelo corpo também”, descreve.

“Coice fatal”

Apenas três meses após ter o rosto detonado no acidente, Bertine foi novamente atingido na face. Desta vez, por um touro. “Tinha rodeiro em Serranópolis, Goiás e no último dia, no penúltimo touro, levei um coice fatal. Porque se tivesse pegado na minha fronte, hoje eu já não estaria entre nós”, relembra.

“O peão ficou amarrado, eu pulei pra tentar soltar, ele se soltou sozinho, eu não sei o que deu na minha cabeça ali que a gente não pode ficar atrás do pé do touro, fui pra trás dele, e só escutamos o baque”. narra. A pancada foi tão grande que é possível ouvi-la no vídeo abaixo:

“Foi muito alto [o barulho do coice]! A hora que eu caí, tentei levantar, mas comecei a convulsionar e não lembro de mais nada. Desacordei. Perdi 3 dentes, um pedaço da gengiva e tive o nariz atrofiado pra dentro, então foi uma luta pra refazer o meu rosto de novo. Foi um processo muito dolorido, tive que fazer enxerto, minha boca foi costurada mais uma vez e ela é toda torta por causa disso”, lamenta.

Resultado da face de Bertini após “coice fatal” – (Fotos: Arquivo Pessoal)

Depois desse episódio, Bertine foi obrigado a encerrar sua carreira de salva-vidas de rodeio. Com muita tristeza por ter deixado o ramo que tanto amava, ele relembra com carinho: “Era meu sonho, conquistei premiação em Rio Preto de melhor salva-vidas, de revelação em 2017, pela Revista 8 Segundos Country, eu só tava crescendo, mas ou era minha família, ou era o rodeio. Não mexo mais com isso por conta da minha família mesmo”, afirma.

7 vidas?

Em julho de 2021, já recuperado, como se não bastasse o histórico, Samuel foi convidado por um amigo piloto a dar uma volta de avião. “Não sei o que me deu na cabeça, morro de medo de altura e fui. No começo, parecia que estava tudo certo, eu nunca tinha andado de avião, era um avião pequeno. Qual a probabilidade de um avião cair e ainda mais comigo? Fui superconfiante, mas cheio de medo”, comenta o rapaz.

“Estava felizão, quando o avião deu pane. Na hora não acreditei, achei que era brincadeira. A minha sorte é que o piloto era um profissional excelente e experiente. O avião desligou, deu pane, não queria pegar e a gente começou a cair. Eu já sabia que ia morrer naquele momento, me deu um desespero, começou a passar um milhão de coisas na minha cabeça, mas não sabia o que fazer, fiquei paralisado, e ele me pedia pra olhar pra baixo pra gente pousar na estrada, mas estava cheio de carretas”, diz Bertine.

Aeronave caída após o acidente – (Foto: Arquivo Pessoal)

Por fim, a experiência do piloto fez com que a aeronave caísse de barriga num pasto. Foi um baque tão grande, um susto enorme, quando eu lembro me dá um arrepio. Não acredito que eu sobrevivi, mas o que o piloto fez… tá de parabéns”, agradece, ainda incrédulo.

Acontecimento virou notícia – (Foto: Arquivo Pessoal)

Consequências

Mesmo com riscos, Bertine amava muito o que fazia. Em pouco tempo, o rapaz conseguiu renome na área e, por ele, ainda estaria na arena.

“A gente que é salva-vidas de rodeio não monta no boi e sai, a gente tem que estar ali. Se for ’40 boi’ pro cara montar, a gente tem que entrar na frente dos ’40 boi’ pra proteger a pessoa, então eu gostava demais do serviço que eu fazia. Hoje se eu for no rodeio, eu choro. Não tinha o apoio da família, nenhuma família gosta de ver seu filho passar por isso. Dei muito trabalho, quebrei o pé, duas costelas, queixo, ombro, dedo… várias coisas, então era só dor de cabeça pra eles”, lamenta o jovem de 21 anos.

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Agora, ele aprende a lidar com as consequências e tem fama na região. “O povo fala ‘você não morre, o menino que tem 7 vidas’. Dizem que querem viajar comigo porque ninguém morre, ou não querem de jeito nenhum porque só acontece coisa ruim”, conta, aos risos.

“Eu só queria entender porque tanta coisa assim acontece, queria saber se tem algo que quer muito me matar, ou algo que quer muito me proteger, porque além dessas experiências desses acidentes, já fui eletrocutado por fio de carregador descascado, acordei quase desmaiando, gritando horrores, sem saber o que fazer, deitado numa cama. Caí num salto de 7 metros em cima de um escorpião e fui picado”, acrescenta, sobre outras vezes que a morte bateu em sua porta.

“A minha cara já não é a mesma. Já não sou a mesma pessoa em fotos, por conta da minha boca que ficou torta, sabe. De vez em quando, dependendo do que eu como, minha boca incha. Essa cara foi praticamente refeita, minha vó cuidou muito de mim, era pra estar bem pior”, garante.

No entanto, o desafio da superação é diário. “Hoje consigo lidar melhor que antes. Já fui muito chato com essas coisas porque eu não gostava do jeito que eu fiquei, mas com o tempo a gente vai acostumando. Agora eu faço piada com isso, já passou mesmo, a gente só tem que contar”, relata.

Bertine é sucesso no TikTok

Compartilhar essa história toda é uma das formas do jovem se entreter. Ao publicar um vídeo contando os fatos acima, Samuel Bertine fez sucesso no TikTok. Ele começou gravando para o Instagram com a esposa, que lhe apresentou a plataforma específica para vídeos. E foi um vídeo sobre sua história como salva-vidas de rodeio que bateu um milhão de visualizações, trazendo muitos seguidores para o perfil.

“Toda vez que tenho um tempinho estou ali gravando. Eu amo gravar TikTok, porque eu quero crescer tanto nela quanto no Instagram e poder ganhar um selo de verificação”, conta ele ao MidiaMAIS.

Agora, o jovem foca no humor, quer fazer o público dar risada e ser memeiro. “Gosto de ser engraçado e fazer piada, fazer algo que vai tirar um sorrisão do rosto de alguém. Tô tentando publicar vídeos todos os dias pra ter mais seguidores que curtem esse ramo do humor”, comenta.

“Mas quero que todo mundo veja meus vídeos, meu público-alvo é todo mundo. Pode ir lá comentar, nem que seja pra criticar, mas quero falar com crianças, adultos, idosos… todos”, convida.

Hoje, o rapaz, prestes a completar 22 anos, trabalha como pintor de casas em Cassilândia. Abriu mão do sonho da sua vida de crescer como salva-vidas de rodeio, e substituiu esse desejo por outro: se tornar um tiktoker de sucesso e estar, um dia, ao lado dos “grandes” que tanto admira.

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