Aos 103 anos, Justino é única ‘lenda viva’ de MS que partiu de navio para Itália durante guerra
Justino é integrante da FEB e lutou na Itália durante a 2ª Guerra Mundial. Isso tudo ocorreu no ano de 1942, com a entrada do Brasil na guerra e a convocação dele, em Ponta Porã.
Graziela Rezende –
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Imagine a sensação: muito do que você vê nos livros de história ou precisa pesquisar, para saber, seu Justino Pires de Arruda presenciou “ao vivo e a cores”. Nesta segunda-feira (12), ele completa 103 anos. Mais de um século de vida, com grande parte dedicada à pátria, tornando muito merecida a homenagem que o ex-combatente deve receber nas próximas horas, em Ponta Porã, região sul do Estado.
Justino é integrante da FEB (Força Expedicionária Brasileira) e lutou na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Isso tudo ocorreu no ano de 1942, com a entrada do Brasil na guerra e a convocação dele por parte do 11º Regimento de Cavalaria Mecanizado, de Ponta Porã, que o deixou à disposição do 6º Regimento de Infantaria – 6º RI, de Caçapava, interior de São Paulo.
Na ocasião, Pires participou ativamente das batalhas de Monte Prano, Zocca, Camaiore, Montese, Colechio e da rendição da 148º Divisão de Infantaria Alemã, em Fornovo di Taro, dentre outras.
Dentre os 25.334 brasileiros que integraram a FEB, hoje, restam no Brasil apenas 79 vivos. E o senhor Justino é o único ex-combatente ainda vivo em Mato Grosso do Sul.
Justino nasceu em 1919
A história dele começou no dia 12 de dezembro de 1919, quando nasceu no município de Amambaí, distante 302 quilômetros de Campo Grande. Filho de Lúcio Pires de Arruda e Maria José Dias, Justino nasceu no final da Primeira Guerra Mundial, época em que o presidente dos “Estados Unidos do Brasil” era o paraibano Epitácio Pessoa.
Na época, o país ainda “experimentava” os primeiros anos da República Velha, estabelecida pela Constituição de 1891. Desde então, presenciou diversos eventos históricos, como o Tenentismo, a Crise Econômica de 1929, a Revolução de 1930, o governo de Getúlio Vargas, a Intentona Comunista de 1935, o Estado Novo, o Levante Integralista, o auge dos cangaceiros e a morte de Lampião, a Segunda Guerra Mundial, a redemocratização, a criação da ONU (Organização das Nações Unidas), a Guerra Fria e o governo de Juscelino Kubitschek.
Além disso, o idoso pôde presenciar a construção de Brasília, os governos militares, as “Diretas Já”, a Constituinte de 1988, a vitória da seleção brasileira em cinco Copas do Mundo e até mesmo o reinado de Elizabeth II, da Inglaterra, do pai dela e até uma parte do reinado do avô, período que engloba, também, o pontificado de nove papas da igreja católica.
Idoso entrou para o Exército na época da 2ª Guerra Mundial
Quando a Segunda Guerra Mundial foi deflagrada na Europa, em 1939, ainda jovem, Justino entrou para o Exército, como soldado, tendo prestado o serviço militar inicial até 1940. Em 1942, com a entrada do Brasil na guerra, ele foi convocado pelo 11º Regimento de Cavalaria Mecanizado, de Ponta Porã, e passado à disposição do 6º Regimento de Infantaria – 6º RI, de Caçapava – SP, para integrar a FEB.
No dia 2 de julho de 1944, embarcou para a Itália, no 1º Escalão da FEB, no navio de
transporte de tropas norte-americano “USS General W. A. Mann”, juntamente com outros 5.074 companheiros, tendo lutado contra os nazistas durante toda a campanha da Itália e regressado ao Brasil no dia 18 de julho de 1945.
O 6º Regimento de Infantaria foi o primeiro regimento a ser levado para o Teatro de Operações da Itália e o único a participar ativamente de toda a Campanha da FEB. Com isso, Justino participou, ativamente, das batalhas de Monte Prano, Zocca, Camaiore, Montese, Colechio e da rendição da 148º Divisão de Infantaria Alemã, em Fornovo di Taro, dentre outras.
Soldado foi ferido durante a guerra
Durante a guerra, no dia 4 de novembro de 1944, Justino foi ferido em combate, na região de Palazzo, em consequência das explosões das granadas inimigas, cujos estilhaços lhe perfuraram o capacete de aço e lhe feriram a cabeça.
Depois que voltou da guerra, trabalhou por muitos anos na roça, tendo se transferido com a família para Ponta Porã – MS, onde reside atualmente. Nesta cidade, conseguiu emprego de auxiliar de faxineiro no 11º Regimento de Cavalaria Mecanizado, onde permaneceu por alguns anos.
Por sua atuação na guerra e exemplar conduta como cidadão, recebeu as seguintes condecorações:
- Medalha de Campanha da Força Expedicionária Brasileira;
- Medalha Sangue do Brasil, por ferimento em combate;
- Medalha do Mérito Força Expedicionária Brasileira, da Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul;
- Medalha da Vitória, do Ministério da Defesa;
- Medalha Marechal Dutra, do 11º Regimento de Cavalaria Mecanizado;
- Medalha da Força Internacional de Paz – Prêmio Nobel 1988, da Associação Brasileira das Forças Internacionais de Paz;
- Medalha Cruz Europeia, da Federação Italiana dos Combatentes Aliados.
Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi formalmente considerado “ex-combatente” da 2ª Guerra Mundial e reformado, passando a receber a pensão especial de ex-combatente. Justino foi casado com Alzira Oliveira de Arruda e tem os seguintes filhos: Fátima Arruda do Amaral; Aristeu Oliveira de Arruda (falecido); Sidnei Oliveira de Arruda; Zanone Oliveira de Arruda; Ramão Oliveira de Arruda; Cleuza de Arruda Lopes; e Dirce Maria Oliveira de Arruda.
No Brasil, apenas 79 ex-combatentes ainda estão vivos
Conforme o Exército, superando expectativas, ele chegou aos 100 anos no ano de 2019, integrando um pequeno grupo de 0,008% da população mundial com mais de um século de vida. Agora, chega aos 103 anos, um grupo muito menor e mais especial ainda. Dentre os 25.334 brasileiros que integraram a FEB, hoje, restam no Brasil apenas 79 vivos.
Nesta homenagem, o Exército ressalta que o idoso é uma “prova viva” e motivo de orgulho, considerando-o como um herói verdadeiro e uma cidadão que lutou pela nossa liberdade, igualdade entre os povos e pela democracia que desfrutamos hoje.
“Que o seu belo exemplo de vida, de cidadania, de patriotismo, e de simplicidade nunca seja esquecido e que inspire as próximas gerações. E que a vida e o sacrifício dos seus companheiros da FEB não tenha sido em vão”, finaliza o documento assinado pela Anvfeb-MS (Associação Nacional dos Veteranos da FEB – Seção Regional Mato Grosso do Sul).
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