Mês do desgosto? Campo-grandense não tem superstições e fama agourenta de agosto se perde entre gerações

Entrevistados confirmam que fama agourenta de agosto “ficou para trás”

Guilherme Cavalcante – 01/08/2022 – 07:40

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar
agosto
Agosto, mês do desgosto? Fama parece ter ficado no passado | Foto: Marcos Ermínio | Midiamax

Agosto, mês do desgosto, mês do agouro, mês do cachorro louco. A fama que antes parecia estar encrustada nos 31 dias do mês que começa nesta segunda-feira parece estar se perdendo entre as gerações. O Jornal Midiamax visitou locais de frequentados pelos campo-grandense no último domingo (31) e, entre os entrevistados, as superstições ou temor por agosto parecem coisa do passado.

Para quem nunca ouviu falar nisso, cinco minutos de conversa com alguém com mais de 70 anos deve ser suficiente para entender a fama. Isso porque, normalmente, são os idosos os que mais compartilham o significado agourento do mês, cuja raiz é mitológica, datando desde o Império Romano.

Getúlio e Jânio passaram por “agostos” difíceis em 1961 e 1964 | Foto: Reprodução

E no Brasil de décadas atrás, claro, muitas tragédias fazem aniversário justamente por estes dias. A morte de Getúlio Vargas, por exemplo, ocorreu em 24 de agosto de 1961. A renúncia do campo-grandense Jânio Quadros, que proporcionou o início da ditadura militar de 1964, faz aniversário em 25 de agosto. O acidente que matou Juscelino Kubitschek em 1976 faz 46 anos no próximo dia 22. Coincidência?

Para a médica Lorraine Barbosa, de 35 anos, provavelmente, sim. Ela foi uma das campo-grandenses que relatou, na região do Parque das Nações Indígenas e do Parque dos Poderes, não ter superstições e nem crer na má-fama agostina.

“Conheço gente que tem [superstição], mas eu não tenho. Não carrego nenhum amuleto. para não dizer que não tive superstição, quando era pequena, a gente fazia promessa para São Longuinho para encontrar coisas perdidas. Mas hoje, nem isso. Agosto é um mês comum”, comenta. “Sou cristã, acredito em Deus e acho que quem tem fé não tem superstição. Creio no poder das palavras, das orações, as palavras profetizam os pensamentos positivos”, comenta.

Em outro ponto do parque, a agente comunitária de saúde Sandra Cristina dos Santos, de 53 anos, reconhece a fama do mês, mas considera bobagem. “A gente ouvia falar mais, hoje em dia todo mundo só reclama que o mês é longo. Não tenho superstição, medo de espelho quebrado, medo de gato preto… Tenho medo de gato de qualquer cor”, brinca. “Para ser honesta, de crendice, a gente teve só aqueles costumes de São Longuinho. A gente era criança e morava na Vila Carvalho. Minha irmã perdeu uma chave a acendeu um vela pro santo e acabou incendiando um canavial”, relatou. “E não achamos a chave”.

“Agosto” de Deus

De fato, assim como Sandra, os entrevistados relatam que, atualmente, o agouro de agosto parece ter perdido espaço para a fama do mês 8 ser um mês longo. “Acredito que as pessoas mais velhas tinham isso mais forte, porque hoje a gente só ouve falar, mesmo, que agosto é muito longo. Esse lance do agouro, de cobrir espelho, carregar amuleto, acho que ficou no passado”, disse a contadora Camila Almeida, de 32 anos.

“Como vou achar que esse mês é agourento? Eu faço aniversário dia 26 de agosto, então é um mês muito bom”, brinca Marilene Nunes, de 52 anos, que estuda fisioterapia. “Antigamente a gente ouvia isso, mas nunca mais ouvi. Mas bem, eu não tenho essas crencas, mas onde trabalho tem muita gente que coloca esparadrapo no umbigo, para não absorver a energia dos outros, para proteger os chacras”, diz.

Jade Picon e seu umbigo com esparadrapo | Foto: Reprodução

O esparadrapo no umbigo, a propósito, pode ser sintoma de uma versão 2.0 (digamos assim) das superstições. Quem assistiu o BBB 22,por exemplo, deve ter visto a participante Jade Picon de umbigo tapado.

“[Uso] Pra me blindar e me proteger de energia. Eu acredito que o umbigo é o lugar por onde a gente recebe mau olhado, inveja, todo tipo de energia. E eu, quando vou pra festa, saio de casa, eu sempre tampo umbigo”, esclareceu a empresária, na ocasião.

Por mais que não exista explicação científica, o hábito é reproduzido por muita gente e é só uma amostra de como as crendices alcançaram novas gerações – obviamente com uma roupa diferente.

“Não custa nada tapar [o umbigo]. Eu trabalho num banco, lido com gente estranha o dia inteiro”, diz o bancário João Oliveira, de 22 anos. “Vai que dá certo”, acrescenta. Sobre agosto mês do desgosto, João não sabe de nada, apenas que “é um mês que demora a passar. Se o dinheiro acaba, aí vem o desgosto”, conclui.

Conteúdos relacionados