Já imaginou como seria trabalhar quatro dias na semana e folgar três? Parece até uma realidade alternativa, mas esse é o novo modelo de trabalho 4×3 que a Islândia está adotando. Frente ao maior cuidado com o bem-estar e expressivos números de produtividade no país europeu, o Midiamax foi atrás da opinião das pessoas para ver o que elas achariam desse padrão. E a resposta foi unânime: para o campo-grandense, o Brasil não é a Islândia.

Isso é óbvio, claro. O Brasil, de fato, não é a Islândia. Portanto, pensar num universo utópico em que o país adotaria o modelo 4×3 chega a ser difícil, uma vez que a produção é bem distinta. Além disso, aspectos financeiros não podem ser deixados de lado.

Para o sindicato dos empregados do comércio de Campo Grande, Carlos Ségio dos Santos, a cultura dos dois países são muito diferentes, principalmente no que diz respeito ao salário. Na opinião de Carlos, a produtividade do trabalhador brasileiro aumentaria se o salário fosse melhor também.

“O trabalhador não vê a rentabilidade dele no fim do mês e isso faz com que ele desanime, fique doente. Quando todo mundo ganha, todo mundo trabalha feliz”, comenta. 

Novo modelo de trabalho da Islândia 

Na Islândia, mais de 2.500 pessoas em 100 empresas participaram de dois testes apoiados pelo governo. A semana de trabalho da maioria dos funcionários foi reduzida de 40 para 35 horas sem redução salarial. Segundo estudos feitos por instituições europeias, não houve perda real de produtividade. 

Com isso, percebeu-se que trabalhando menos horas por dia as equipes foram incentivadas a serem mais eficientes, reduzindo o tempo das reuniões, reorganizando suas agendas e melhorando a comunicação entre os departamentos. 

Ainda segundo as pesquisas, também houve uma melhora no bem-estar dos funcionários. Os níveis percebidos de estresse e esgotamento caíram em muitos casos, com muitos funcionários dizendo que se sentiam mais positivos e felizes no trabalho como resultado do novo regime.

Brasil vs Islândia

Para entender melhor como foi possível a Islândia adotar esse novo modelo de trabalho e o porquê ele é impensável para realidade brasileira, é fundamental compreender a situação econômica e social de cada um. 

Em resumo, especialistas em economia apontam a Islândia como um dos países mais ricos do mundo em termos de Produto Interno Bruno (PIB) per capita. Lá, o nível de desemprego é bem baixo, portanto existe uma participação muito elevada na força de trabalho. Eles também contam com uma economia baseada em serviços avançados. 

Além disso, a Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) coloca a Islândia entre os países em que os trabalhadores têm menos tempo livre, concorrendo com países com atividades intensas de mão-de-obra, como Japão, Chile e México.

Portanto, aliando uma necessidade de bem-estar por parte dos trabalhadores com as condições socioculturais, a Islândia conseguiu implementar o modelo. 

No Brasil isso é bem diferente. Isso porque a gente não possui nenhuma das condições sociais, econômicas e tecnológicas da Islândia. Aqui, o capital físico é muito menor do que na União Europeia ou Estados Unidos, por exemplo. 

O cientista político Carlo Cauti escreveu um artigo alegando que a produtividade de um trabalhador brasileiro é apenas 1/5 do europeu e 1/6 de um americano. 

Exemplificando isso, o sindicato dos empregados do comércio ainda fala sobre a quantidade de feriados que o brasileiro tem ao longo do ano. Folgas que o país europeu não tem.

Portanto, para que o Brasil adotasse o modelo 4×3 seria necessária uma mudança real na educação e formação para uma coesão em todos os níveis da sociedade. Uma realidade, que hoje, não existe em um país com alto índice de analfabetismo e vulnerabilidade social.

Não custa sonhar

Francisca Laenia Dantas de Lima, 46 anos, trabalha como operadora de caixa de supermercado. Para ela, folgar 3 dias na semana seria um sonho. “Eu ia adorar, porque no comércio você trabalha 6 dias e folga 1, então você fica muito cansada só com uma folga na semana. É muito exaustivo, com o tempo você vai sentindo o cansaço”. Para ela, as pessoas realmente iriam produzir mais se tivessem um período maior de descanso.

Já Mariana Alves, de 23, acredita que o modelo poderia afetar as vendas a curto prazo.  “Na minha opinião um funcionário rende muito mais quando está descansado e ter um dia a mais de descanso já faz muita diferença, mas no caso do comércio seria muito significativo para as vendas. As pessoas buscam o comércio quando não estão trabalhando, dispostas a comprar, e se estiver fechado não tem vendas. Se aplicasse esse modelo de trabalho no Brasil demoraria muito para todos se acostumarem, mas seria muito melhor para o trabalhador”, diz.