Muitas histórias de amor têm começado através dos aplicativos de relacionamento. Antes da pandemia já era assim, mas a distância física provocada pelo coronavírus potencializou as plataformas como meio de iniciar um compromisso com alguém, principalmente pelo fato das pessoas estarem mais isoladas, mascaradas e precisarem manter distanciamento social em nome da saúde.

Durante a pandemia, vários casais (a maioria) nasceram dessa forma: pela tela do celular, com um match no Tinder. Kauê e Maria Luíza são um deles. “Num belo final de tarde na metade de janeiro, em meio a um surto de autoestima, baixei o Tinder e decidi que só daria like em pessoas realmente lindas, mesmo sabendo que nunca ficariam comigo. Em menos de uma semana, no dia 17 de janeiro, enquanto fazia compras com minha mãe, dei match com uma ruiva dos cabelos encaracolados”, conta o físico de 23 anos ao Jornal Midiamax.

“A mulher parecia uma DEUSA: fotos de estúdio, roupas fashion, sorriso de invejar dentista e um olhar de quem sabe o que quer. Eu quase desmaiei. Minha boca abriu num sorriso enorme que denunciava a todos naquele estabelecimento o que havia acontecido. Lembro de cobrir a boca e tentar me esconder. O coração já tropeçava quando me toquei, ela nunca me responderia. Eu nem sabia mandar mensagem pra pessoas no tinder. Nunca gostei do aplicativo e só usava nos momentos realmente necessitados… como numa pandemia”, narra o jovem, que é mestrando em física experimental na USP.

Maria Luíza já era usuária antiga do Tinder, mas só colecionava desilusões amorosas com o aplicativo. “Depois do último pé na bunda que levei, pensei em desistir do Tinder pois estava acreditando estar fadada a ser uma “solteirona”, até que dando mais uma olhada passei pelo Kauê e pensei “por que não?”  e deu match logo em seguida. Começamos a conversar e descobrimos ter muita coisa em comum, no entanto após decepções românticas, fiquei com um pé atrás”, diz ela à reportagem.

Ali no mercado, Kauê estava sob a indecisão: “mandar mensagem? Se sim, o que dizer? Vale a pena?” Excluir o aplicativo pareceu a melhor opção. Mas então motivado pelo “que mal faria”, o físico decidiu puxar assunto. “Acontece que com menos de 2 minutos ela me respondeu. A conversa rendeu. E antes de chegar em casa ja estávamos no WhatsApp”, relembra o rapaz de 23 anos.

Registro da primeira conversa está guardado na galeria (Arquivo Pessoal)

Uma semana depois do match, Maria teve que viajar por problemas familiares e pensou que ele iria desistir de tentar algo. “Muita gente só quer suprir uma carência física nesses aplicativos de relacionamento, mas a viagem fez a gente se aproximar mais, conversávamos o dia todo e a vontade de se encontrar só aumentava”, revela a biomédica ao MidiaMAIS.

O pedido de namoro foi completo. “Eu lembro dela dizer “eu nunca tive um pedido de namoro”. E eu respondi “pois então vou te fazer um que vai deixar tuas pernas bambas”. Depois de apenas 2 meses, comprei alianças, aluguei quarto de hotel, decorei, até fiz um suporte para fotos artesanais, um varalzinho fofo, e preparei uma playlist com covers de músicas que ela gostava e duas que eu mesmo criei. A data escolhida foi 12 de março e não foram apenas as pernas dela que bambearam”, descreve Kauê em detalhes. Inclusive, a reação de Maria Luíza está gravada no TikTok, Veja:

@kaue_curvelo

##fy ##foryou ##pedidodenamoro ##eladissesim ##comotudocomeçou @marialuizalinofer 2 semanas de preparação para o melhor dia ao seu lado. Você é preciosa ♥️

♬ Surrender – Natalie Taylor

Os dois dizem que compreendem muito bem o cenário da pandemia, no qual nasceu o relacionamento. Para eles, não poder sair pra qualquer lugar e ficar bastante em casa nunca foi um problema. “Ao contrário, agora temos uma companhia ótima para permanecer isolados”, garantem.

Antes de fazer a surpresa do pedido de namoro para Maria Luíza, Kauê inclusive optou pelo isolamento. “Com medo de pegar o vírus decidi não participar de um aniversário onde haviam combinado de comer um bolo com tios e avós. Eu comuniquei essa decisão à minha família com a justificativa “Nada pode estragar o meu pedido de namoro sexta, principalmente: não posso ter essa data perdida por conta desse covid. Então devido a toda essa aglomeração que acontecerá com minha irmã e família paterna, não terei contato com eles até que o dia 12 passe”. E o pior aconteceu. Minha irmã e quase todos os parentes presentes se contaminaram”, explica o mestrando.

Ambos têm 23 anos (Arquivo pessoal)

“É meio estranho pensar que se não fosse pela pandemia, que causa dor em tantas pessoas, nossa história seria outra. O Kauê faz mestrado em São Paulo e já teria voltado para os seus estudos. Nós não teríamos tido o tempo o suficiente para fazer esse relacionamento amadurecer”, analisa Maria.

Kauê concorda. “É inegável que a pandemia foi fundamental para estarmos namorando, eu não estaria nem em Campo Grande se não fosse por isso. Mas existem outras formas menos óbvias de como ela contribuiu para nossa aproximação. Provavelmente se estivéssemos numa outra situação que não exigisse esse comportamento cuidadoso com os princípios do outro (será que esse guri que acabei de conhecer no Tinder é respeitoso? será que ele é uma pessoa cuidadosa, etc) então não teríamos uma identificação forte tão cedo. Afinal ninguém quer saber sobre isso nos primerios encontros, quer é saber se beija bem. Portanto, acredito que nosso relacionamento amadureceu rápido fundamentalmente devido à pandemia”, pontua o rapaz.

Skin care é um dos passatempos para ficar em casa (Arquivo pessoal)

A biomédica de 23 anos conta o que o casal faz para driblar o tédio de ter que ficar isolado em casa. “Haja comida e séries, viciamos em realities shows (tem até reality sobre vidro). Somos bastante responsáveis e tomamos todos os cuidados possíveis para não se contagiar com o covid. Criamos nossas maneiras de aproveitar o tempo em casa: Cozinhamos juntos, gravamos tik toks, fazemos skin care, dançamos na frente da TV, e essa intimidade só tem feito bem para o nosso relacionamento”, garante.

“Não sei falar bonito igual o Kauê, mas ele mudou tudo que eu pensava ser que era amor.  Eu achava que amor era aquilo que deixava o coração palpitando de emoção, sem saber o que estava por vir. Mas não é bem assim, amor é calmaria, é ter ele cantando pra mim, é saber que o teremos vai ser lindo e quando tudo isso passar vamos espalhar nosso amor todos os cantos”, conclui Maria Luíza.

Casal completa 3 meses de namoro neste sábado (12), dia dos namorados (Arquivo Pessoal)